Energia mais cara
Décio Luiz Gazzoni
A coluna de hoje deveria abordar a Embrapa Agroenergia. Mas, igual ao presidente Lula, esqueci de combinar com o companheiro Evo Morales e fui atropelado pelos fatos. No momento, estamos todos perplexos com a atitude do ex-cocaleiro. Há décadas não se via algo parecido com a decisão do presidente boliviano que, seguramente, vai custar muito caro a ele – pessoalmente – e ao povo boliviano. Por alguns anos, investidores sérios não vão querer absolutamente nada com a Bolívia. E assim, irão para o ralo as divisas, os empregos, a chance de progresso. Morales não foi nada original. É lastimável, mas estava tudo escrito no “Manual do Perfeito Idiota Latino Americano” (Plinio A. Mendoza, Carlos A. Montaner e Alvaro Vargas Llosa - Editora Bertrand Brasil, 1997).
Política
Externa Antes de comentar sobre a Bolívia, é bom falar sobre o Brasil. Pode ser que não se aplique o bordão da moda (“Nunca antes na História deste país...”), mas dá para dizer que foram poucos os momentos em que a nossa política externa foi uma sucessão tão grande de fiascos como agora. Perdemos a OEA, o BID, a OMC, dilaceramos o Mercosul, deixamos de apoiar a Argentina quando esta precisou, mas cedemos em tudo quando Kirchner exigiu privilégios comerciais. Cedemos nossa liderança natural e ponderada na América Latina, para o histrionismo do companheiro Chavez, que pinta e borda de Norte a Sul. Recentemente, ofendeu com palavras de baixo calão um dos candidatos à presidência do Peru. Soberanamente, o presidente peruano chamou de volta seu embaixador em Caracas. |
Cucarachadas Temo pelo pior. Acho que, mais uma vez, a Bolívia fará jus ao seu passado e vislumbro um cenário em que Morales não completará seu mandato. Infelizmente para a democracia e para a América Latina, vista lá de fora como um amontoado de republiquetas de bananas. Quem semeia ventos, colhe tempestades. Para se eleger, Morales destemperou a língua, prometeu mundos e fundos a todos os grupos de reivindicação, muitos conflitantes entre si. Uniu-os, precariamente, para eleger-se, mas não conseguirá cumprir as promessas. Com isto já havia perdido 20% de sua popularidade entre março e abril. Vem aí as eleições legislativas. No desespero, Morales confiscou os bens das companhias petrolíferas, para atender uma parte das reivindicações, de olhos postos nas eleições. Já havia feito algo semelhante com a EBX, agradando a alguns companheiros radicais, mas desagradando quem perdeu emprego e renda. |
Chaves Morales não nega que seu conselheiro e inspirador é o companheiro Chavez. Talvez por esta razão o governo brasileiro praticamente não reagiu à expropriação sofrida pela Petrobrás. Deveria ter reagido, pois o governo deve proteger os interesses e o patrimônio nacional, como é o caso da Petrobrás. E deveria ficar mais preocupado ainda com os boatos que correm o mundo de que, passada a eleição boliviana, reverter-se-ia, parcialmente, a legislação expropriatória. Parcialmente, porque, ao que consta, o patrimônio seria entregue para gestão da PDVSA. Você não sabe o que é PDVSA? Bingo: Petróleos de Venezuela! |
Agronegócio O alinhavo anterior serviu para evidenciar as ameaças e oportunidades contidas no ato retr[ogrado de Morales. Uma das ameaças recai, diretamente, sobre os brasileiros que plantam na Bolívia, ou nos empresários que venderam para estes agricultores. Outra ameaça é a elevação do custo do gás, logo do custo de produção de agrotóxicos e fertilizantes e de processamento de produtos agrícolas. Os empresários ficarão altamente inseguros em investir em ampliação de fábricas, devido à instabilidade energética. Você confiaria no abastecimento e no preço do gás boliviano? A oportunidade: cada vez fica mais claro que não podemos continuar dependentes de combustíveis fósseis, em especial do exterior. Precisamos cumprir nosso destino de ser o líder mundial da produção de agroenergia. Além dos excelentes negócios que propicia, a independência energética nos livraria de ver o país chantageado, e sem reação à altura. |
Embrapa Agroenergia I
Décio Luiz Gazzoni
No 33º. aniversário da Embrapa, o Ministro Roberto Rodrigues comunicou à sociedade brasileira a criação da Embrapa Agroenergia. Sua missão será viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável e eqüitativo do negócio da agroenergia do Brasil, em benefício da sociedade. O objetivo principal será coordenar a plataforma de PD&I em agroenergia, gerar e transferir conhecimento e tecnologias que contribuam para a sustentabilidade das cadeias da agroenergia e dos co-produtos associados, visando a competitividade do agronegócio brasileiro.
Velho paradigma O Brasil parte com algum atraso. Pelo menos há 6 anos vínhamos chamando a atenção para a enorme avenida que se abria para o agronegócio brasileiro, em função da crise dos combustíveis fósseis. O suprimento energético do mundo depende, hoje, em 80% deles, o que é absolutamente insustentável. O petróleo vai acabar – não importa se em 30 ou 50 anos – e seu preço vai disparar. Você acha a gasolina cara? Prepare-se para pagar o dobro, em 5 anos. Os conflitos político-bélicos (Afeganistão, Iraque, Irã, Venezuela, Bolívia) vão se acentuar com o esgotamento das reservas. E o aquecimento global, filho bastardo dos combustíveis fósseis, apressará o fim do ciclo do petróleo. Para que a memória fique bem avivada, lembre-se da pixotada de Evo Morales que, há 10 dias, confiscou a Petrobras na Bolívia, criando enorme insegurança no abastecimento de gás domiciliar e industrial no Brasil. |
Novo paradigma O mundo cometeu uma insanidade histórica ao tornar-se refém do petróleo. Para o futuro, precisamos reverter as turbinas, visando atingir 80% de fontes renováveis na matriz mundial. Energia fotovoltaica, eólica, das marés, geotérmica e agroenergia comporão a matriz do futuro. Nos próximos 20 anos, a transição será feita à custa de álcool, biodiesel, biogás e derivados de florestas energéticas – a agroenergia. Serão centenas de bilhões de dólares anuais transacionados no comércio internacional, por conta dos novos “carriers” energéticos. O Brasil possui enormes vantagens comparativas no cenário de energias renováveis, desde que detenha o domínio tecnológico setorial. Sobre o diferencial tecnológico que representará a Embapa Agroenergia, falaremos na próxima semana. |
Embrapa Agroenergia II
Décio Luiz Gazzoni
O Brasil está condenado a ser o líder mundial da agroenergia. Só com muita incompetência governamental e empresarial perderemos o trem da História, pois não há país do mundo com tantas vantagens comparativas. Entretanto, para que o destino se cumpra, é necessário, também, que o Brasil seja o líder mundial da tecnologia de agroenergia. Depender de tecnologia alienígena será entregar o filé e ficar com o osso. A agregação de valor depende, diretamente, do domínio tecnológico. |
Embrapa As expectativas confluem para a Embrapa Agroenergia, com mandato federal para organizar a geração e transferência de tecnologia na área. Na concepção conceitual que apresentamos ao Ministro Roberto Rodrigues (que a aprovou), a menor das preocupações da nova Unidade da Embrapa será a produção de matéria prima (oleaginosas, cana, florestas, etc.) Para tanto, a Embrapa dispõe de competência reconhecida mundialmente, nas outras 40 Unidades. O foco está em dois segmentos: as fontes energéticas (biodiesel, etanol, biogás, carvão, briquetes, co-geração, etc) e os bioprodutos. |
Bioprodutos Aí está a menina dos olhos do novo negócio! Poucos se deram conta que, o fim do petróleo não significará, apenas, que faltará gasolina na bomba. Vai faltar matéria prima para a indústria petroquímica. Aí entra a biomassa. Os co-produtos pós extração da energia (álcool = bagaço; biodiesel = torta) serão os fornecedores de matéria prima para a nova indústria química que sucederá a petroquímica, quando o petróleo acabar. Serão novos fármacos, plásticos, biopolímeros, etc., que vão acrescentar muito valor ao nosso agronegócio. |
Inovação A Embrapa Agroenergia não inova apenas na parte científica. A proposta do modelo de gestão e articulação com o sistema produtivo é agressivamente inovadora e moderna, contemplando redes complexas de pesquisa, consórcios de “stakeholders”, Empresa de Propósito Específico e Centros Regionais de Informação e Transferência de Tecnologia. Mais que uma unidade de pesquisa, é um verdadeiro benchmarking do futuro da tecnologia no Brasil. Será a consecução da visão de futuro que já expressamos anteriormente: o Brasil estará para o mundo do novo paradigma energético como a Arábia Saudita está hoje para o velho paradigma do petróleo. |
Biotecnologia, agricultura e saúde
Décio Luiz
Gazzoni
O futuro dirá quanto tempo, dinheiro e vidas perdemos na discussão estéril sobre soja transgênica, enquanto o mundo dava saltos incríveis, utilizando a biotecnologia a serviço da Humanidade. O governo anterior foi patrulhado e as amarras da pesquisa foram desatadas apenas no Governo Lula - do mesmo partido que patrulhou o Governo anterior! Um caso didático de nem faça o que digo, menos ainda o que faço! Agora, é correr atrás da máquina. A Embrapa está desenvolvendo OGMs capazes de produzir o Fator IX, responsável pela coagulação do sangue. Os hemofílicos não produzem essa proteína, têm velocidade de coagulação lenta, sendo suscetíveis a hemorragias, com risco de óbito. Atualmente, controla-se a ausência do Fator IX com medicamentos. A Embrapa pretende produzido-lo no leite dos animais ou na soja – produto nacional e muito mais barato.
Gênese A utilização de OGMs como biofábricas poderá reduzir os custos de medicamentos em até 98%. O meu amigo Elíbio Rech, um dos expoentes científicos da Embrapa Cenargen, é o líder dos estudos que criaram a soja com fator IX, que aguarda liberação para testes. A pesquisa com camundongos está em fase mais avançada. O leite dos camundongos transgênicos contendo fator IX já está sendo avaliado no Hospital de Apoio de Brasília, com o mesmo equipamento utilizado para testar os medicamentos existentes no mercado, com resultados altamente positivos. Confirmada a qualidade e a segurança do produto, a próxima etapa consiste em medicar pacientes portadores de hemofilia para avaliar o efeito de coagulação, comparativamente aos medicamentos químicos. Vencida essa etapa, podem ser geradas vacas transgênicas que produzam o fator IX diretamente no leite. As primeiras bezerras transgênicas contendo fator IX no leite deverão nascer até o final de 2006. |
Anti-cancerígeno O domínio dessa tecnologia está permitindo desenvolver também plantas de soja com anticorpos contra o câncer de mama, que vão auxiliar na prevenção e diagnóstico da doença. A Embrapa também investe no desenvolvimento de alface com gene para combater a diarréia infantil e soja com gene do hormônio de crescimento. Estes são apenas dois exemplos, porque a Embrapa desenvolve um trabalho sistemático de coleta de genes da nossa fauna e flora, com potencial de utilização nas áreas de agricultura e saúde.
Recuperando o tempo |
O
|
|
A
|
Décio Luiz
Gazzoni
Há 7
|
|
...colhe
|
Fair Trade
Décio Luiz Gazzoni
Se você está à cata de um diferencial competitivo para o seu negócio, saiba que, em 2005, consumidores de países ricos gastaram US$ 1,2 bilhão comprando produtos com o selo da Fairtrade Labelling Organization (FLO). Trata-se de uma certificadora de regras politicamente corretas no comércio internacional. O embrião surgiu nos anos 60, com agências de cooperação e ONGs americanas, que apoiaram financeiramente pequenos produtores de países pobres, dispostos a reduzir o uso de agrotóxicos e dispensar o trabalho infantil. Nos anos 90 a idéia ressurgiu no bojo de uma associação de consumidores de países ricos, dispostos a pagar mais por um mesmo produto, desde que, em sua produção, hajam sido adotadas práticas de proteção ambiental e de defesa dos direitos humanos.
Crescimento O mercado cresceu 30% em 2005, e alguns big shots do mercado internacional, como Starbucks e a Dunkin' Donuts só importam café de produtores certificados. Outros pesos pesados, como a Kraft, aderiram ao selo do comércio justo. O contingente de certificados é estimado em mais de 1 milhão de produtores, em cerca de cinqüenta países. Sob fiscalização da FLO, eles exportam café, chá e cacau. vinhos e artigos esportivos. Apesar da desconfiança dos sindicatos de produtores rurais brasileiros (que juravam ser o sistema apenas uma fórmula para criar barreiras às exportações de países pobres), já existem 17 associações de produtores certificadas pela FLO. As suas exportações ultrapassaram 2 milhões de dólares em 2005 (0,18% do total mundial), mostrando que temos uma enorme avenida aberta à nossa frente. Um dos exemplos é a Associação dos Citricultores do Paraná (Acipar), que recebe US$100 a mais por tonelada de suco vendido à Alemanha. O recurso extra financia a capacitação de colhedores, a manutenção de tratores, cursos de datilografia e de informática. |
Dez
mandamentos Gostou da idéia? Então, mãos à obra e comece a praticar o seguinte “decálogo” de oito regras: i) Crie uma associação aberta de produtores; ii) Seja absolutamente transparente na prestação de contas; iii) Não discrimine sexo ou raça; iv) Implante boas práticas agrícolas e reduza a aplicação de agrotóxicos; v) Trabalho forçado, nem em pensamento: vi) Sob hipótese alguma crianças devem trabalhar; vii) Todos os empregados devem ter carteira assinada; viii) As condições de trabalho devem ser saudáveis e seguras. Depois, é só contactar a FLO, solicitar a certificação e ganhar o bônus. |
Inspiração
Décio Luiz
Gazzoni
Se um jogador de basquete saltasse como uma pulga, uma enterrada exigiria uma tabela a 300 m de altura! Se um homem desse tantos passos quanto uma abelha bate as asas, caminharia 20 km/dia, durante 70 anos! O salto da pulga ou o bater das asas da abelha se devem à resilina, a proteína mais elástica já descoberta.
Pulgas Os cientistas já isolaram o gene que codifica para a resilina. Isto é meio caminho para produzir uma “biofábrica”, uma bactéria com alto teor de resilina. Assim, podem ser produzidas próteses, estruturas flexíveis e resistentes e até tênis para jogar basquete. Estima-se que mais de 70% dos medicamentos encontrados nas farmácias nada mais são que produtos químicos extraídos da natureza ou inspirados em moléculas naturais. Agora, a biotecnologia salta dos medicamentos para outros produtos que melhoram nossa qualidade de vida. |
Gafanhotos e besouros Você já viu uma nuvem de gafanhotos? São milhões de insetos voando em bando, em espaços exíguos, sem que um bata no outro. Isto se deve a um sensor neuronal, de altíssima velocidade, que permite mudanças bruscas de rumo em 0,045 segundos – tarefa impossível para humanos. A indústria automobilística está aproveitando o principio em um novo e complexo sistema para evitar colisões no trânsito urbano. A mesma indústria imita a aerodinâmica de um peixe asiático, e produziu um protótipo 30% mais leve, que consome 20% menos combustível. Que dizer de uma espécie de besouro que só põe seus ovos em árvores recém queimadas? Para perpetuar a espécie, o besouro precisa detectar incêndios florestais à distância. Nem é preciso discorrer sobre as múltiplas utilidades de um sensor de incêndios, atuando a quilômetros do local onde ocorre. Ou dos micro-pelos das patas dos insetos, que permitem aderir firmemente a superfície. Tão firmemente quanto os mexilhões que resistem às ondas do mar, aderidos às rochas. |
Embrapa Copiar a Natureza ou nela inspirar-se não é demérito, é poupar tempo no desenvolvimento de utilidades que beneficiem a sociedade. Foi com este mote que propusemos a lógica da programação de pesquisa da Embrapa Agroenergia. Além de buscar produtos com alta densidade energética, a Embrapa vai perscrutar, nos resíduos e nas tortas que restarem após a extração da energia, moléculas e substâncias que possam servir de insumo para a indústria química, incluindo a farmacêutica. Em nosso entender, esse é o primeiro passo para que a biomassa substitua o petróleo, como fornecedora de matéria prima para a indústria. |
Missão cumprida, Roberto!
Décio Luiz Gazzoni
No dia 20 de dezembro de 2002, assinei esta mesma coluna, com o mesmo título acima, e que começava assim: “São 21 horas do dia 28 de dezembro de 2006. Desembarcamos em Congonhas e, finalmente, Roberto vai resgatar uma dívida antiga: vamos passar a noite jogando conversa fora, cantando tangos, boleros e todo o repertório da dor-de-cotovelo. Desde 2002, suas grandes responsabilidades não permitiam pequenos prazeres, como ir a Buenos Aires apenas para assistir shows de tango e esticar a noite nos bares da Boca, sorvendo a canja dos artistas da voz e do bandoneon.”
Abreviado Meu amigo Roberto Rodrigues, eu sempre achei que você ficaria no cargo até o último dia deste governo. Ficaria, por seus méritos. Entretanto, seus méritos acabaram obnubilados por uma enorme crise, provocada pelas sete pragas do agronegócio, capitaneadas pela enorme carga tributária, pelos juros escorchantes, pelo câmbio super valorizado e pela falta de logística de transporte e armazenagem da safra agrícola. Foi muito triste acompanhá-lo durante a entrevista coletiva do dia 28 de junho, 6 meses antes da data que eu imaginava.
|
Desvantagens Por polidez, e como último ato de lealdade, Roberto não pode declinar publicamente os motivos pelos quais abrevia sua permanência à frente do Ministério. No entanto, quem vive o dia a dia do agronegócio, sabe da angústia de Roberto Rodrigues em não conseguir resolver o conjunto de entraves que ocasionaram a atual crise do agronegócio (falta de logística, alta tributação, juros altos, real valorizado, falta de segurança no campo, legislação trabalhista anacrônica). Escrevi sobre o tema na última edição da revista Cultivar.
|
Muito obrigado Nós, que admiramos o seu trabalho, só podemos dizer: muito obrigado Roberto, pelo que fez e pelo que tentou fazer e não conseguiu Sei que não serve de consolo, mas em nosso último contato, Roberto lastimava o que ele considerava “o ano da maior crise do agronegócio”. Não foi para consolá-lo, mas na oportunidade lhe disse “a maior crise será no ano que vem, pois este ano o agricultor ainda estava capitalizado e com esperanças”. Roberto vai continuar batalhando na iniciativa privada. E desde já, agradecemos por colocar a sua competência para melhorar o agronegócio nacional. É o que pretendo lhe dizer pessoalmente, na audiência que já tínhamos marcado para hoje à tarde. |
Europa, nosso cliente
Décio Luiz Gazzoni
Ao
Política Energética
Na Europa,
|
Demanda
|
Oportunidade
|
Décio Luiz Gazzoni
Juntos somos 2,6 bilhões de pessoas (40% da população do mundo), habitantes de países com uma enorme vocação para crescer. No caso do Brasil, um potencial até agora represado por políticas macro-econômicas míopes e falta de espírito desenvolvimentista. Aliás, foi a falta de crescimento da nossa economia que permitiu atingirmos o equilíbrio na balança comercial de petróleo. Tivéssemos crescido na média do mundo e ainda estaríamos importando muito petróleo. Mas, o fato principal é que, em 25 anos, estes países dobrarão o consumo de energia, a crer em recente estudo publicado pelo Banco Mundial. Se nada for feito, em 2030 também dobraremos a emissão de gases de efeito estufa, nos mesmos países.
|
Balanço de energia Há 4 anos, o Banco Mundial deflagrou o projeto 3 Country Energy Efficiency Project (3CEE), atuando em parceria com diversas instituições com expertise no assunto. Em maio de 2006, durante, um congresso realizado na França foi liberado o relatório final do projeto. Em suas conclusões, os especialistas apontam a necessidade de que Brasil, China e Índia invistam em projetos que aprimorem a eficiência tecnológica de seus processos de produção de energia, como premissa básica para reduzir a projeção da demanda energética em até 25%, dentro do período estudado. O relatório é cristalino ao indicar a necessidade urgente de desenvolvimento de novas tecnologias energéticas. De acordo com o documento, novas e modernas tecnologias não apenas garantiriam o abastecimento energético, como reduziriam a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.
|
Desafio |
Desvantagens
competitivas
Décio Luiz Gazzoni
Costumamos ressaltar as vantagens competitivas do Brasil (terra, clima, tecnologia, mão de obra, etc.). Não vi um estudo que agregasse sob um único título as nossas “desvantagens competitivas”, que, no frigir dos ovos, passam a ser vantagens competitivas de nossos competidores.
Tributação
Sem dúvida, a maior das desvantagens. Quase 50% do PIB brasileiro é sugado
pelo governo, que o reaplica de forma ineficiente e perdulária. Apesar das
promessas e juras em contrário, o atual Governo tanto incrementou a pressão
tributária sobre os contribuintes, quanto aumentou os gastos em despesas de
custeio, diminuindo os investimentos, ou seja, piorou a qualidade do gasto
público.
Legislação trabalhista
Logística
O que há de bom no setor de transporte e armazenamento é o que foi
privatizado nos anos 90 (ferrovias, estradas pedagiadas, armazéns). As estradas
federais estão intrafegáveis e muitas das estaduais também, fazendo com que,
muitas vezes, o preço do frete seja superior ao custo de produção de um produto
agrícola.
Segurança patrimonial
Juros e
Câmbio
Pagando as
Combustíveis, clima e saúde
Décio Luiz
Gazzoni
Estamos conseguindo
|
Mudanças climáticas
|
Saúde |
CIBI
Décio Luiz Gazzoni
Mapa
do futuro
|
Brasil |
Escrevo do
|
|
|
Escrevo de Aracaju,
|
|
|
Habemus
musa
Décio Luiz Gazzoni
Desta
vez Julia Roberts não está representando, mas seu papel não é menos
importante: ela assumiu a presidência do conselho consultivo da EBI
(Earth Biofuels Incorporation). Trata-se de uma empresa constituída para
produzir e comercializar biocombustíveis e que tem, entre seus
acionistas o cantor country Willie Nelson, e o piloto de corridas Rusty
Wallace. No começo até achei que era uma daquelas jogadas de marketing
para aproveitar o sucesso de celebridades. Mas, depois de ler muito a
respeito, verifiquei que se trata de um investimento muito bem avaliado,
pelas perspectivas de lucro no setor. Afinal, a empresa foi criada em
2004 e já ameaça a liderança de empresas mais tradicionais.
|
Crescimento Um número liberado esta semana confere uma dimensão interessante para avaliar o interesse que os biocombustíveis estão gerando no mundo inteiro. O USDA prevê um crescimento da safra mundial de grãos de 20 milhões de toneladas, dos quais 70% serão destinados à produção de biocombustíveis. Tem mais: no ano passado a Europa produziu cerca de 6 bilhões de litros de biocombustíveis, dos quais 3,3 bilhões de litros de biodiesel. Nos EUA, o volume de milho transformado em etanol passou de 18 para 55 milhões de toneladas, entre 2001 e 2005. Este crescimento espetacular fez com que os EUA ameaçassem a liderança histórica do Brasil na produção e comercialização de álcool. |
Conflitos |
Brasil
O Brasil passa galhardamente por esta discussão. Temos, no mínimo, 90 milhões de hectares de terra agricultável para expandir nossa agropecuária, seja ela de vocação alimentar ou energética, embora, no caso de oleaginosas, praticamente qualquer cultivo possa ser de dupla finalidade. Com tal vantagem competitiva, não estaria na hora de atrair os capitais de Julia Roberts para investir no Brasil? Bem, se os capitais não puderem vir, aceitamos só a proprietária deles!
Os
|
|
Novas alternativas energéticas
Décio Luiz
Gazzoni
Na semana passada participamos de dois eventos sobre Agroenergia. O primeiro na Confederação Nacional da Indústria, que congregou alguns pesos pesados do empresariado nacional, interessados nas oportunidades de investimento relacionadas à indústria do biodiesel. Olhando apenas o mercado nacional, o negócio parece pequeno, pois estamos falando de 2 bilhões de litros para 2012. Entretanto, quando olhamos para a demanda mundial de mais de 34 bilhões de litros, prevista para 2010, a magnitude do negócio começa a ficar patente.
Novas
alternativas |
Pinhão manso ou macaúba? Este foi o tema do segundo evento. A Embrapa e as instituições parceiras começam a atentar para a nova realidade, buscando alternativas de plantas com alta capacidade de produção de óleo, acima de 5 toneladas por hectare. E que também tenham outras características interessantes para a agricultura do futuro, como rusticidade, alta capacidade de extração de nutrientes, menor demanda de água, etc. Duas plantas que hoje são exploradas sob a forma de extrativismo começam a chamar a atenção: a macaúba e o pinhão manso. A macaúba reúne as condições para ser o dendê do cerrado brasileiro, pela sua alta potencialidade de produção de biomassa e sua capacidade de suportar longos períodos sem chuvas. E o pinhão manso é ainda mais radical, sendo bem adaptado às regiões semi-áridas no Nordeste brasileiro, podendo fazer uma dobradinha interessante com a mamona. Agora, para quem prefere a heterodoxia total, durante o Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel foi muito discutida a possibilidade de produção de óleo vegetal a partir de algas, que possuem uma alta capacidade de produção de biomassa, com elevados teores de óleo vegetal e de proteínas. Estes temas ingressam hoje na agenda de pesquisa, para começar a desenhar o perfil do agronegócio brasileiro da próxima década. |
Perspectivas da Agroenergia
Décio Luiz Gazzoni
Escrevo de Veneza, a cidade dos Dodges. Ontem aproveitei para voltar à Piazza de San Marco, para rechecar uma informação, com fins estritamente profissionais: desde a última vez que aqui estive, teria subido o nível da água em Veneza, ameaçando submergir um dos patrimônios da Humanidade?
Carbono fóssil e clima Este é um dos exemplos que usarei amanhã, quando proferirei uma conferencia para cerca de 300 empresários, de diferentes países, ligados ao comércio internacional de produtos agrícolas. Foi me pedido para traçar um panorama do impacto da agronergia no agronegócio, nos próximos anos. E, do meu ponto de vista, um dos principais “drivers” da escalada acentuada da produção e uso de biocombustíveis está no tema ambiental. A queima de combustíveis fósseis está provocando mudanças dramáticas no clima ao redor do mundo. Os eventos extremos estão aumentando a sua freqüência e tornando-se cada vez mais severos. Falo de ondas de frio ou de calor intensos, de furacões e tempestades, de nevascas. E falo de degelo dos pólos da Terra e de neves eternas, que já contavam com milhares de anos de existência, e estão desaparecendo em menos de 5 anos. |
Degelo Nos últimos 25 anos, cerca de 20% do gelo do Pólo Norte desapareceu. É só conferir em www.nasa.gov. Como a água não está desaparecendo, ela está indo para os oceanos. No século XX, o nível dos oceanos subiu cerca de 20 cm. A previsão dos cientistas é de que continuem subindo 1cm por ano, ao longo do século XXI. Com um metro a mais, não apenas a Veneza italiana desaparece, mas a Veneza brasileira – Recife – sofrerá enorme impacto em sua área urbana. De Copacabana até a Barra, também haverá impacto negativo. Para não falar da Holanda, cujos diques não suportarão a elevação dos mares. |
Biocombustíveis Muito do estrago já está contratado, pelas bilhões de toneladas de poluentes jogados na atmosfera, por conta da queima de combustíveis fósseis - e nada pode ser feito para revertê-lo. O mundo está acordando para a necessidade de mitigar os danos futuros, reduzindo a dependência de fontes energéticas de carbono fóssil. O último baluarte da resistência ruiu em janeiro passado, quando o Presidente Bush admitiu que os EUA são viciados em petróleo e que a situação é insustentável. Mais uma vez a agricultura é chamada para dar a sua contribuição e o resumo da minha mensagem aos empresários será: até a metade deste século, a agricultura de energia movimentará o maior volume de recursos do agronegócio, muito mais do que a produção de fibras ou alimentos. Voltaremos ao tema na próxima semana.
|
Mais
biocombustíveis
Décio
Luiz Gazzoni
Chego de Veneza - onde apresentei uma conferencia para algumas centenas de empresários de todo o mundo, sobre o futuro dos biocombustíveis – com as mesmas certezas e inseguranças, só que agora consolidadas. Debatendo o assunto, ficou claro que a produção de biodiesel no mundo vai crescer a altas taxas, como uma das fórmulas para os diferentes países signatários cumprirem seus compromissos com o Tratado de Kyoto.
Certezas e dúvidas
|
Alimentos x energia Lendo os jornais ou assistindo à televisão européia, percebe-se o grande apoio da sociedade às energias renováveis. Porém, eu coço a cabeça quando faço a pergunta para mim mesmo: e daqui a dez anos, quando a Europa e os EUA direcionarem a produção agrícola para energia, e o preço dos alimentos subir, a sociedade continuará disposta a apoiar? Mesmo sabendo que, se não reduzir o consumo de combustíveis fósseis, o preço dos impactos ambientais será alto? Falará mais alto o estomago ou a preocupação com o futuro? |
PS (1): Semana passada falei que fui medir a altura do mar Adriático, na Piazza de San Marco. Pois ele subiu 23 cm, no último século, 1cm a cada 4 anos! Maior responsável: aquecimento global pela queima de combustíveis fósseis!
PS (2): A única notícia sobre o Brasil, nos jornais e tvs da Europa tratava da compra do dossiê contra o candidato Serra. Que vergonha ter que explicar aos cidadãos de outros países o que ocorria aqui!
Décio Luiz Gazzoni
Arrisco
Londrina Obviamente,
|
O fator agrônomo
Décio Luiz Gazzoni
Os números do agronegócio brasileiro orgulham o setor. Concordo que poderiam ser muito melhores se a paridade do real com as moedas estrangeiras fosse justa; se os juros fossem compatíveis, o financiamento adequado. Se existisse seguro agrícola e estradas decentes, etc. Noves fora estes mata-burros, o Brasil detém o maior saldo comercial do agronegócio mundial, equivalendo a 90% das suas exportações, e respondendo por 37% das exportações e por 28% do PIB brasileiro. É o setor que mais gera empregos, com o menor tempo de resposta e o menor custo, responsável pela melhor distribuição de renda e pela interiorização do desenvolvimento.
Os
números |
As
razões de sucesso
|
Outros números Os números que melhor atestam a importância do fator agrônomo no diferencial competitivo não estão no aumento da produção ou da exportação. A melhora da produtividade da agropecuária brasileira, essencialmente por conta do avanço tecnológico, é o grande diferencial. A atuação dos agrônomos na geração e transferência de tecnologia fez com que a produtividade das lavouras de grãos crescesse 80% nos últimos 12 anos. Foi o que permitiu aumentar em 110% a produção, exigindo apenas mais 22% de área. Sem o efeito agrônomo, contrabalançando com avanço tecnológico as barbeiradas de política agrícola e financeira, o Brasil jamais apresentaria um portfólio de produção e exportação tão exuberante. Portanto, nada mais justo que hoje, 12 de outubro, a sociedade renda sua homenagem ao dia do Engenheiro Agrônomo – co-responsável pelo pão e pelo dólar nosso de cada dia! |
Décio Luiz Gazzoni
Participei
Sachs citou
|
Sachs traz à |
Sachs salienta |
HBIO
Décio Luiz Gazzoni
Meu amigo Dr. Baldy me cobra e eu não posso deixar de atender. Afinal o que é o HBio e qual seu impacto no agronegócio? Inicialmente, HBio não é biodiesel. A Petrobrás desenvolveu um processo que permite adicionar até 18% de óleo vegetal (que pode aumentar com a melhoria do processo) ao petróleo a ser refinado. O óleo diesel é uma das frações produzidas pelo refino do petróleo, obtidas em uma seqüência de três etapas. Pela destilação atmosférica obtém o diesel DD (Destilação Direta). Sobra um resíduo atmosférico que é destilado a vácuo, produzindo gasóleo, o qual é transformado em diesel FCC (combustível craqueado por catálise). Resta o resíduo final, que é processado por coqueamento retardado, obtendo-se o diesel coque.
Obtenção do HBio Estas três frações são misturadas e recebem a adição de óleo vegetal, seguindo para uma unidade de hidrotratamento (HDT), onde é injetado hidrogênio molecular. A unidade HDT é responsável pelo tratamento e especificação das várias correntes de diesel produzidas nas refinarias. O óleo vegetal, por ação do catalisador já utilizado no HDT de óleo diesel, é hidrogenado (saturação de ligas duplas) e craqueado (sua molécula é rompida na porção glicerina). Assim, o óleo vegetal é transformado em hidrocarbonetos parafínicos lineares na faixa do óleo diesel (C16 a C18), propano (GLP) e água. Os compostos parafínicos melhoram a qualidade do óleo diesel, destacando-se o aumento da qualidade de ignição (número de cetano), a melhor lubricidade e a redução do teor de enxofre, que é responsável pela chuva ácida, decorrente da queima do diesel comum. |
Impacto no campo O potencial desta tecnologia é imenso. Hoje a Petrobrás detém sua patente, porém ela poderá ser licenciada a outras refinadoras – que também podem desenvolver seu processo próprio. Como o Brasil consome anualmente 40 milhões de toneladas de diesel, o potencial brasileiro é de absorção de 6,1 milhões de toneladas de óleo vegetal. Ocorre que, em 2006, o Brasil deverá produzir 6,3 milhões de toneladas de óleo vegetal. Ou seja, o processo HBio poderia drenar todo o óleo vegetal produzido no Brasil. Ou, olhando pelo lado positivo, aumentar a demanda de soja em 35 milhões de toneladas! E estamos falando apenas de Brasil. O potencial do mundo é fantástico – eu diria, utópico, inatingível. Porém, o agronegócio brasileiro pode se apropriar da maior parcela deste novo mercado fabuloso, que é paralelo ao do biodiesel. Sem contar a produção adicional de farelo, que é uma riqueza ainda maior que o óleo. |
Mercado de álcool
Décio Luiz
Gazzoni
Tenho dito que, até o final da próxima década, a cana-de-açúcar representará para o agronegócio brasileiro o que a soja representa atualmente, em termos de negócios na cadeia. O mercado brasileiro é pequeno, chegará, no máximo, a 40 bilhões de litros, até 2020. Já o mercado externo é fantástico. Vejamos o exemplo dos EUA, o país que mais consome combustíveis fósseis no mundo que, atualmente, produzem a mesma quantidade de etanol de milho que o Brasil produz de cana. Ocorre que o mercado de gasolina americano é superior a 450 bilhões de litros. Na melhor das hipóteses, os americanos conseguiriam triplicar sua produção de etanol de milho na próxima década, à custa de uma retração brutal na destinação do milho para alimentação animal. A partir deste limite eles dependerão de duas alternativas. Primeiro: produzir etanol nos EUA, a partir de celulose. Segundo: importar etanol. |
Produtividade
|
Tecnologias A primeira possibilidade é a hidrólise ácida da celulose, seguida de fermentação. Esta tecnologia já existe em fase comercial e permite produzir pouco mais de 2.000 L de etanol por ton de biomassa seca. O potencial estimado da tecnologia, no médio prazo, é dobrar esta produtividade. A segunda possibilidade é a hidrólise enzimática, seguida de fermentação. O processo é similar ao anterior, apenas a hidrólise da celulose é feita por enzimas e não por ácidos, sendo o rendimento equivalente à hidrólise ácida. Em ambos os casos, os açúcares obtidos são fermentados para produzir álcool. A terceira alternativa é a gaseificação, que pode ser conduzida de duas formas. A gaseificação inicial, que é uma queima parcial para obter gás de síntese (CO e H2), é semelhante para as duas tecnologias. Obtido o gás de síntese, pode-se transformá-lo em etanol através de bactérias bio-engenheiradas, ou através de catalisadores. Por estes processos, é possível obter até 4000 L de etanol/ton de biomassa. Conclusão: quem dominar a tecnologia, dominará o rico mercado de etanol.
|
Agroenergia e justiça
Décio Luiz Gazzoni
Recebo um honroso convite para apresentar uma palestra sobre Agroenergia, no 23º Encontro Nacional dos Juízes Federais do Brasil, que se realiza esta semana, no Recife. Pensei muito sobre como abordar o tema junto a Suas Excelências, e não foi muito difícil concluir que a questão técnica não era a mais relevante. O como produzir, onde produzir é muito interessante para outros públicos, porém o momento é propício para discutir temas que possam ser úteis no dia a dia dos magistrados.
Segurança Quando participei da elaboração das Diretrizes Nacionais de Agroenergia, exaradas pela Presidência da República, chamei a atenção de um aspecto que, posteriormente se tornaria o centro das atenções, quando o companheiro Morales “descomisou” o patrimônio da Petrobrás e de outras empresas, bem como ameaçou com a desapropriação de terras de investidores estrangeiros. Em ambos os casos houve um apelo do Estado Boliviano para que estes investidores lá aportassem seus capitais, sua capacidade gerencial e suas ligações comerciais. O Brasil não conseguirá tornar-se o líder mundial da Agroenergia sem o aporte de capitais estrangeiros, porque nossa capacidade de poupança interna não nos permite alavancar uma empreitada tão ambiciosa. Para atrair estes capitais, a segurança jurídica (garantia de cumprimento de contratos e garantia patrimonial) é essencial. O tema consta não apenas das Diretrizes da Agroenergia, mas do nosso ordenamento legal e é fundamental o seu respeito para que a imagem de seriedade do Brasil seja ressaltada. |
Ética
|
Os números da crise
Décio Luiz Gazzoni
O ex-Ministro Roberto Rodrigues dizia que o agronegócio havia perdido R$26 bilhões na última safra. O total é chocante e eu resolvi fazer os cálculos para ver se chegava a esse valor. Concluí que, se o número não é este, é muito próximo. Consideremos duas premissas: primeiro, o mundo está ávido por produtos agrícolas e, segundo, o Brasil reúne as principais vantagens comparativas para ofertá-los. Nosso pecado foi impedir que estas vantagens se transformassem em competitividade real. |
Perda de safra O primeiro prejuízo pode ser medido pela diferença entre o que deveríamos produzir e o que produzimos. Em 2003 produzimos 123 milhões de toneladas de grãos e estávamos crescendo mais de 8% ao ano. Neste ritmo, em 2006 deveríamos superar 150 milhões de toneladas, ao invés de reduzir para 120, além do fracasso de 2004, de 113 milhões de toneladas. A diferença entre o que produzimos e o potencial do período chega a 80 milhões de toneladas. A um valor médio de 400 reais por tonelada, já saímos perdendo mais de R$ 30 bilhões. |
Outras perdas A perda mais sentida é a defasagem cambial. Abrimos 2003 com a cotação a R$3,50:US$1,00 e chegamos a 2006 em torno de R$2,10:US$:1,00. Logo os 30 bilhões acima passam a ser R$50 bilhões. Que passariam a um valor maior, se for considerada a queda nas cotações dos produtos agrícolas. Mas fiquemos apenas nos acréscimos de custos internos, pela necessidade de controle da ferrugem da soja (+/- R$150,00/ha), pelo aumento dos custos da terra e dos fertilizantes e pelo aumento do frete, uma vez que a malha rodoviária foi destruída nestes três anos. Coroe com os juros mais altos do mundo. A azeitona da empada fica por conta da voracidade tributária. Mesmo com lucros decrescentes, nosso agronegócio ainda paga os tributos mais elevados do planeta. Insensível à crise, o Governo liberou os recursos de AGF apenas no final de maio passado, deprimindo mais os preços. |
O Brasil perdeu
Tudo somado, cerca de R$80 bilhões em 3 anos. Dividido por três, chegamos aos números de Roberto Rodrigues. Multiplicando por 4 (que é o fator de agregação de renda no pós porteira), as perdas do agronegócio, nos últimos 3 anos, ultrapassaram a R$320 bilhões. Isso ajuda a explicar o crescimento pífio do Brasil neste período, apenas superior ao Haiti. Ajuda a explicar o desemprego e a má distribuição de renda. Só resta um consolo: nossos agricultores demonstraram que são muito bons para sobreviver ante tamanha adversidade e que podem se recuperar – quando Dias melhores chegarem.
Conferencia Internacional de Agroenergia
Décio Luiz Gazzoni
Lembro da visita do Premio Nobel da Paz, Norman Borlaug a Londrina, mas não lembro de outro Premio Nobel por estas paragens. Agora teremos a oportunidade de ver o Premio Nobel de Química de 2003, Allan McDiarmid, durante a Conferencia Internacional de Agroenergia. O Professor da Universidade da Pennsylvania vai discorrer sobre o uso da biomassa para produzir energéticos e bio-produtos – substâncias químicas que podem ser extraídas de plantas, com altíssimo valor de mercado.
Ignacy Sachs O Dr. Mc Diarmid não será estrela isolada da Conferencia. O Dr. I. Sachs, professor da Sorbonne e Consultor da FAO falará sobre a revolução energética do século XXI – das energias fósseis às renováveis. Antes dele, abre a Conferencia o Dr. Ghassem Asrar, Diretor do Agricultural Research System dos EUA, falando sobre as inovações que estão saindo dos laboratórios americanos na área de bioenergia. De um cientista do mesmo instituto será a palestra sobre como agregar valor aos resíduos da cana de açúcar após a produção do álcool. |
Programa intenso No |
Filão de oportunidades
|
A Conferencia acontecerá aqui em Londrina, de 11 a 13 de dezembro, no Hotel Sumatra. As inscrições podem ser feitas pelo site www.pjeventos.com.br
CONAE
Décio Luiz Gazzoni
Volto ao
Plano Na terça feira o Ministro Luiz Carlos Guedes Pinto, da Agricultura, apresenta a versão definitiva do Plano Nacional de Agroenergia (aliás, gestado em Londrina!). O Plano aponta os caminhos para os agricultores e agroindustriais brasileiros amealharem parcela substancial do mercado de biocombustiveis, no comércio internacional. Antes dele, na noite de segunda, a Ministra Dilma Roussef discorre sobre a Política Energética Brasileira, um balizador para os investimentos no agronegócio.
|
Mercado de Carbono |
Mercado de Carbono |
Co-produtos
Extraído o óleo ou o álcool, ainda sobra biomassa. Cinco cientistas vão mostrar as tecnologias disponíveis para transformar esta biomassa em produtos comercializáveis, através da agregação de valor. Se o seu negócio é produzir biodiesel em pequena escala, para a sua propriedade ou para um consórcio de produtores, a Embrapa e a UnB estarão apresentando um protótipo em desenvolvimento para atender este mercado. Se o leitor está procurando um nicho de investimento no setor, o ex-ministro Alysson Paulinelli abordará as fronteiras de expansão da Agroenergia no Brasil, no futuro próximo. E o ex-presidente da Embrapa, Eliseu Alves, discutirá o conflito entre produzir alimentos ou energia.
A Conferencia acontecerá aqui em Londrina, de 11 a 13 de dezembro, no Hotel Sumatra. As inscrições (se ainda houver disponibilidade) podem ser feitas pelo site www.pjeventos.com.br
CONAE – Capítulo Final
Décio Luiz Gazzoni
Londrina já sediou bons congressos científicos, porém a Conferencia Internacional de Agroenergia que se encerrou ontem se insere no capítulo dos eventos da mais alta qualidade. Foram mais de 70 palestrantes interagindo com mais de 600 participantes, em um nível de discussão elevadíssimo. Impossível sintetizar o resultado de 20 painéis e oito conferencias plenárias, que resultaram em mais de 110 horas e discussão de temas científicos, tecnológicos e mercadológicos.
Óleo vegetal como
combustível |
Perigo |
Salários de deputados
Décio Luiz Gazzoni
A princípio parece não haver relação entre o aumento de 91% no salário dos parlamentares e o agronegócio. Espero convencer o leitor do oposto. Em primeiro lugar, lembre que os parlamentares, ao contrário dos demais brasileiros, não recebem apenas 13 salários anuais. Tem o 14º., a convocação extraordinária de duas vezes ao ano, etc. Além disso, existe uma série de outras verbas vinculadas que, somadas, ultrapassam o valor de R$100.000,00 mensais. Mas fiquemos apenas no vencimento, um total estimado de R$360.000,00 por ano. O aumento concedido aos parlamentares federais repercute nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Tudo somado, estima-se que a repercussão atinja alguns bilhões de reais. |
Significado Este montante adicional significa mais de 40% de tudo o que o Governo gasta com a polêmica bolsa família. Significa que o Congresso sozinho tem orçamento maior que muitos ministérios. Significa que alguém vai pagar a conta. Como o dinheiro não tem o dom da auto-reprodução, significa que vem aí mais imposto para tapar o rombo do orçamento público. Significa que a dívida pública vai aumentar, o que pode voltar a elevar juros. Significa que sairá dinheiro de algum lugar, tanto para pagar os super-salários quanto os juros da dívida que aumentará. Ora, mais impostos, mais juros e menos recursos para a sanidade agropecuária, para a pesquisa, para o financiamento da produção e da comercialização é o preço que o agronegócio vai pagar para que “não haja fuga de cérebros do Congresso!”. |
Culpa Como mote para reflexão de Natal, faço a seguinte provocação: os menos culpados nesta história toda são os deputados e os senadores. Eles não mentiram, não enganaram ninguém, são as mesmas pessoas, com o mesmo caráter e comportamento que demonstraram ao longo dos últimos 4 anos. Qual foi o recado das urnas: continuem assim, estamos gostando de vocês! Nós eleitores não nos importamos se faltarem recursos para educação, saúde, transporte ou segurança. Mensalão, sanguessuga, dossiês falsos e incompetência não nos afetam. Portanto, antes de, precipitadamente, culpar os parlamentares pelo aumento nos vencimentos, seria interessante analisar o sinal que foi enviado pelos eleitores nas últimas eleições. Nós, eleitores, avalizamos o comportamento anterior e assinamos um cheque em branco para que a coisa continuasse do mesmo jeito no futuro. Se depois desta reflexão ainda for possível, desejo a todos um Feliz Natal. |
Mudanças climáticas
Décio Luiz Gazzoni
Uma das palestras mais interessantes da Conferencia Internacional de Agroenergia, realizada em Londrina, foi apresentada pelo Dr. Eduardo Assad, e tratou do impacto do aumento da temperatura terrestre sobre o agronegócio. O Dr. Assad mostrou os resultados de seu modelo matemático, indicando como a área disponível para agricultura, com baixo risco, diminui com o aumento da temperatura média. Projetando seus dados para o mundo, verificou que, até a metade do século, a produção agrícola mundial poderia cair cerca de 40%, se o ritmo de elevação da concentração de gás carbônico na atmosfera continuar subindo na mesma taxa que ocorre atualmente.
Combustíveis fósseis Hoje ninguém mais duvida que o petróleo, o carvão e o gás natural são os grandes responsáveis pela elevação da concentração de gás carbônico na atmosfera. Ocorre que se trata de um depósito de carbono que a Natureza imobilizou no subsolo há centenas de milhares de anos. Após essa imobilização, estabilizou-se a composição química da atmosfera, regulando a temperatura do planeta. Mas, nos últimos 50 anos, a sociedade global decidiu extrair todo este petróleo e carvão das profundezas e queimá-lo nos carros e nas termoelétricas. Resultado: saturamos a atmosfera com gases de efeito estufa, impedindo que parte do calor que chega do sol retorne para as camadas altas da atmosfera. |
Mudanças Os cientistas estimam que a temperatura da Terra subirá entre 1,4oC e 5,8oC., no decorrer deste século. No pior cenário, as perdas com as principais culturas (arroz, feijão, soja, milho, etc) serão catastróficas, suficientes para prever um período longo de baixa oferta de alimentos – logo de preços elevados. Apenas no caso do café, as estimativas são de queda entre 23% e 92%. Nosso principal produto, a soja, teria reduções de produção variáveis entre 10% a 64%. Como referencia, lembremo-nos que, em 2006, o Brasil deverá exportar US$9 bilhões em soja e US$3bilhoes em café. |
O que fazer? Já está ficando tarde para qualquer iniciativa. Nada mais poderá ser feito para evitar, totalmente, o desastre. Podemos mitigá-lo, se iniciarmos já, em janeiro de 2007, um amplo programa de poupança de energia, reciclagem e substituição de fontes fósseis. O Governo inglês estima que um programa desta ordem custará 1% do PIB mundial, nos próximos 100 anos – apenas para mitigar os efeitos deletérios. O que você pode fazer: use menos combustíveis fósseis para ter um Feliz 2007. E para que os próximos anos também sejam felizes. |
Acessos desde 01/05/2000