Energia mais cara
Décio Luiz Gazzoni

 A coluna de hoje deveria abordar a Embrapa Agroenergia. Mas, igual ao presidente Lula, esqueci de combinar com o companheiro Evo Morales e fui atropelado pelos fatos. No momento, estamos todos perplexos com a atitude do ex-cocaleiro. Há décadas não se via algo parecido com a decisão do presidente boliviano que, seguramente, vai custar muito caro a ele – pessoalmente – e ao povo boliviano. Por alguns anos, investidores sérios não vão querer absolutamente nada com a Bolívia. E assim, irão para o ralo as divisas, os empregos, a chance de progresso. Morales não foi nada original. É lastimável, mas estava tudo escrito no “Manual do Perfeito Idiota Latino Americano” (Plinio A. Mendoza, Carlos A. Montaner e Alvaro Vargas Llosa - Editora Bertrand Brasil, 1997). 

Política Externa
Antes de comentar sobre a Bolívia, é bom falar sobre o Brasil. Pode ser que não se aplique o bordão da moda (“Nunca antes na História deste país...”), mas dá para dizer que foram poucos os momentos em que a nossa política externa foi uma sucessão tão grande de fiascos como agora. Perdemos a OEA, o BID, a OMC, dilaceramos o Mercosul, deixamos de apoiar a Argentina quando esta precisou, mas cedemos em tudo quando Kirchner exigiu privilégios comerciais. Cedemos nossa liderança natural e ponderada na América Latina, para o histrionismo do companheiro Chavez, que pinta e borda de Norte a Sul. Recentemente, ofendeu com palavras de baixo calão um dos candidatos à presidência do Peru. Soberanamente, o presidente peruano chamou de volta seu embaixador em Caracas.
  Cucarachadas
Temo pelo pior. Acho que, mais uma vez, a Bolívia fará jus ao seu passado e vislumbro um cenário em que Morales não completará seu mandato. Infelizmente para a democracia e para a América Latina, vista lá de fora como um amontoado de republiquetas de bananas. Quem semeia ventos, colhe tempestades. Para se eleger, Morales destemperou a língua, prometeu mundos e fundos a todos os grupos de reivindicação, muitos conflitantes entre si. Uniu-os, precariamente, para eleger-se, mas não conseguirá cumprir as promessas. Com isto já havia perdido 20% de sua popularidade entre março e abril. Vem aí as eleições legislativas. No desespero, Morales confiscou os bens das companhias petrolíferas, para atender uma parte das reivindicações, de olhos postos nas eleições. Já havia feito algo semelhante com a EBX, agradando a alguns companheiros radicais, mas desagradando quem perdeu emprego e renda.

Chaves
Morales não nega que seu conselheiro e inspirador é o companheiro Chavez. Talvez por esta razão o governo brasileiro praticamente não reagiu à expropriação sofrida pela Petrobrás. Deveria ter reagido, pois o governo deve proteger os interesses e o patrimônio nacional, como é o caso da Petrobrás. E deveria ficar mais preocupado ainda com os boatos que correm o mundo de que, passada a eleição boliviana, reverter-se-ia, parcialmente, a legislação expropriatória. Parcialmente, porque, ao que consta, o patrimônio seria entregue para gestão da PDVSA. Você não sabe o que é PDVSA? Bingo: Petróleos de Venezuela!
  Agronegócio
O alinhavo anterior serviu para evidenciar as ameaças e oportunidades contidas no ato retr[ogrado de Morales. Uma das ameaças recai, diretamente, sobre os brasileiros que plantam na Bolívia, ou nos empresários que venderam para estes agricultores. Outra ameaça é a elevação do custo do gás, logo do custo de produção de agrotóxicos e fertilizantes e de processamento de produtos agrícolas. Os empresários ficarão altamente inseguros em investir em ampliação de fábricas, devido à instabilidade energética. Você confiaria no abastecimento e no preço do gás boliviano? A oportunidade: cada vez fica mais claro que não podemos continuar dependentes de combustíveis fósseis, em especial do exterior. Precisamos cumprir nosso destino de ser o líder mundial da produção de agroenergia. Além dos excelentes negócios que propicia, a independência energética nos livraria de ver o país chantageado, e sem reação à altura.

 
 

Embrapa Agroenergia I
Décio Luiz Gazzoni

 No 33º. aniversário da Embrapa, o Ministro Roberto Rodrigues comunicou à sociedade brasileira a criação da Embrapa Agroenergia. Sua missão será viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável e eqüitativo do negócio da agroenergia do Brasil, em benefício da sociedade. O objetivo principal será coordenar a plataforma de PD&I em agroenergia, gerar e transferir conhecimento e tecnologias que contribuam para a sustentabilidade das cadeias da agroenergia e dos co-produtos associados, visando a competitividade do agronegócio brasileiro. 

Velho paradigma
O Brasil parte com algum atraso. Pelo menos há 6 anos vínhamos chamando a atenção para a enorme avenida que se abria para o agronegócio brasileiro, em função da crise dos combustíveis fósseis. O suprimento energético do mundo depende, hoje, em 80% deles, o que é absolutamente insustentável. O petróleo vai acabar – não importa se em 30 ou 50 anos – e seu preço vai disparar. Você acha a gasolina cara? Prepare-se para pagar o dobro, em 5 anos. Os conflitos político-bélicos (Afeganistão, Iraque, Irã, Venezuela, Bolívia) vão se acentuar com o esgotamento das reservas. E o aquecimento global, filho bastardo dos combustíveis fósseis, apressará o fim do ciclo do petróleo. Para que a memória fique bem avivada, lembre-se da pixotada de Evo Morales que, há 10 dias, confiscou a Petrobras na Bolívia, criando enorme insegurança no abastecimento de gás domiciliar e industrial no Brasil.
  Novo paradigma
O mundo cometeu uma insanidade histórica ao tornar-se refém do petróleo. Para o futuro, precisamos reverter as turbinas, visando atingir 80% de fontes renováveis na matriz mundial. Energia fotovoltaica, eólica, das marés, geotérmica e agroenergia comporão a matriz do futuro. Nos próximos 20 anos, a transição será feita à custa de álcool, biodiesel, biogás e derivados de florestas energéticas – a agroenergia. Serão centenas de bilhões de dólares anuais transacionados no comércio internacional, por conta dos novos “carriers” energéticos. O Brasil possui enormes vantagens comparativas no cenário de energias renováveis, desde que detenha o domínio tecnológico setorial. Sobre o diferencial tecnológico que representará a Embapa Agroenergia, falaremos na próxima semana.

 


 

Embrapa Agroenergia II
Décio Luiz Gazzoni 

O Brasil está condenado a ser o líder mundial da agroenergia. Só com muita incompetência governamental e empresarial perderemos o trem da História, pois não há país do mundo com tantas vantagens comparativas. Entretanto, para que o destino se cumpra, é necessário, também, que o Brasil seja o líder mundial da tecnologia de agroenergia. Depender de tecnologia alienígena será entregar o filé e ficar com o osso. A agregação de valor depende, diretamente, do domínio tecnológico.   Embrapa
As expectativas confluem para a Embrapa Agroenergia, com mandato federal para organizar a geração e transferência de tecnologia na área. Na concepção conceitual que apresentamos ao Ministro Roberto Rodrigues (que a aprovou), a menor das preocupações da nova Unidade da Embrapa será a produção de matéria prima (oleaginosas, cana, florestas, etc.) Para tanto, a Embrapa dispõe de competência reconhecida mundialmente, nas outras 40 Unidades. O foco está em dois segmentos: as fontes energéticas (biodiesel, etanol, biogás, carvão, briquetes, co-geração, etc) e os bioprodutos.

 

Bioprodutos
Aí está a menina dos olhos do novo negócio! Poucos se deram conta que, o fim do petróleo não significará, apenas, que faltará gasolina na bomba. Vai faltar matéria prima para a indústria petroquímica. Aí entra a biomassa. Os co-produtos pós extração da energia (álcool = bagaço; biodiesel = torta) serão os fornecedores de matéria prima para a nova indústria química que sucederá a petroquímica, quando o petróleo acabar. Serão novos fármacos, plásticos, biopolímeros, etc., que vão acrescentar muito valor ao nosso agronegócio.
  Inovação
A Embrapa Agroenergia não inova apenas na parte científica. A proposta do modelo de gestão e articulação com o sistema produtivo é agressivamente inovadora e moderna, contemplando redes complexas de pesquisa, consórcios de “stakeholders”, Empresa de Propósito Específico e Centros Regionais de Informação e Transferência de Tecnologia. Mais que uma unidade de pesquisa, é um verdadeiro benchmarking do futuro da tecnologia no Brasil. Será a consecução da visão de futuro que já expressamos anteriormente: o Brasil estará para o mundo do novo paradigma energético como a Arábia Saudita está hoje para o velho paradigma do petróleo.

 


Biotecnologia, agricultura e saúde
Décio Luiz Gazzoni

 O futuro dirá quanto tempo, dinheiro e vidas perdemos na discussão estéril sobre soja transgênica, enquanto o mundo dava saltos incríveis, utilizando a biotecnologia a serviço da Humanidade. O governo anterior foi patrulhado e as amarras da pesquisa foram desatadas apenas no Governo Lula - do mesmo partido que patrulhou o Governo anterior! Um caso didático de nem faça o que digo, menos ainda o que faço! Agora, é correr atrás da máquina. A Embrapa está desenvolvendo OGMs capazes de produzir o Fator IX, responsável pela coagulação do sangue. Os hemofílicos não produzem essa proteína, têm velocidade de coagulação lenta, sendo suscetíveis a hemorragias, com risco de óbito. Atualmente, controla-se a ausência do Fator IX com medicamentos. A Embrapa pretende produzido-lo no leite dos animais ou na soja – produto nacional e muito mais barato.

 

Gênese
A utilização de OGMs como biofábricas poderá reduzir os custos de medicamentos em até 98%. O meu amigo Elíbio Rech, um dos expoentes científicos da Embrapa Cenargen, é o líder dos estudos que criaram a soja com fator IX, que aguarda liberação para testes. A pesquisa com camundongos está em fase mais avançada. O leite dos camundongos transgênicos contendo fator IX já está sendo avaliado no Hospital de Apoio de Brasília, com o mesmo equipamento utilizado para testar os medicamentos existentes no mercado, com resultados altamente positivos. Confirmada a qualidade e a segurança do produto, a próxima etapa consiste em medicar pacientes portadores de hemofilia para avaliar o efeito de coagulação, comparativamente aos medicamentos químicos. Vencida essa etapa, podem ser geradas vacas transgênicas que produzam o fator IX diretamente no leite. As primeiras bezerras transgênicas contendo fator IX no leite deverão nascer até o final de 2006.
  Anti-cancerígeno
O domínio dessa tecnologia está permitindo desenvolver também plantas de soja com anticorpos contra o câncer de mama, que vão auxiliar na prevenção e diagnóstico da doença. A Embrapa também investe no desenvolvimento de alface com gene para combater a diarréia infantil e soja com gene do hormônio de crescimento. Estes são apenas dois exemplos, porque a Embrapa desenvolve um trabalho sistemático de coleta de genes da nossa fauna e flora, com potencial de utilização nas áreas de agricultura e saúde.

Recuperando o tempo
Na corrida para recuperar o tempo perdido, a Embrapa investe em diversos estudos, não só na área agronômica, mas integrando as áreas farmacêutica e de química fina com a Agronomia. Embora seja um grande negócio, tanto as plantas quanto os novos animais, produtores de medicamentos, não estarão disponíveis para qualquer produtor agrícola. Elas terão uso controlado e estarão acessíveis apenas para os produtores que investirem no ramo das biofarmácias, devidamente integrados nas cadeias produtivas de nutrição e de medicamentos.

 


Herança maldita
Décio Luiz Gazzoni

 O próximo Presidente da República, eleito ou re-eleito, terá que lidar com uma situação explosiva. Segundo a Folha de São Paulo (29/5/06), citando fontes do Governo Federal, o número de acampados sob as lonas pretas de beira de estrada ultrapassa a um milhão. Se o número absoluto é apavorante, é ainda mais intrigante haver aumentado quase 300% desde 2003. Eram 60.000 famílias no inicio deste governo, que agora somam 230.813. 

Indicadores sociais
Este é um dos poucos indicadores sociais a piorar nas últimas décadas. O analfabetismo caiu de 56% para 13%, entre 1940 e 2000. A mortalidade infantil decresceu de 15 para 2,5% no mesmo período, enquanto a população cresceu mais de 300%. A melhora dos indicadores sociais na última metade do século XX fez com que a expectativa de vida do brasileiro, ao nascer, crescesse de 41 para 70 anos. Entretanto, a estagnação do crescimento econômico e as amarras da legislação trabalhista frearam o crescimento do emprego no Brasil. Em conseqüência, nos últimos quatro anos, a oferta de novas vagas (descontada a migração do trabalho informal para o formal) resumiu-se a empregos de baixa qualidade e em índices equivalentes ao crescimento da população.
  Crise
A explosão da população de sem-terra explica-se por quatro razões principais: i) A promessa do Presidente Lula de assentar todas as famílias de sem terra, o que elevou as expectativas e inchou o movimento; ii) a queda do emprego e da remuneração urbana; iii) a crise do agronegócio, que expulsou trabalhadores rurais e agricultores familiares do campo; iv) o fracasso de muitos programas de reforma agrária, que fazem refluir assentados para os acampamentos.
  A herança
Os dirigentes do MST vivem uma crise existencial. Por um lado não podem abandonar o PT, partido que sempre lhes deu guarida e abrigo. Por outro, não têm mais como explicar aos companheiros que vivem sob as lonas porque as promessas não são cumpridas e porque, ao invés de diminuir, a população de sem terra aumenta. A crise se tornará aguda porque a população de sem terra quadruplicou, e porque os dirigentes agora têm novo mote para explicar a inação governamental: as ações do MST apenas na área rural não seriam suficientes para que suas metas sejam atingidas. Logo prometem atuar também na área urbana, paradespertar a consciência cívica da população”. Eu não gostaria de estar na pele do próximo Presidente da República.



Queda da Bastilha?
Décio Luiz Gazzoni

 Há 7 dias escrevi neste espaço: “O próximo Presidente da República, eleito ou re-eleito, terá que lidar com uma situação explosiva. Segundo a Folha de São Paulo, citando fontes do Governo Federal, o número de acampados sob as lonas pretas de beira de estrada ultrapassa a um milhão. Se o número absoluto é apavorante, é ainda mais intrigante haver aumentado quase 300% desde 2003. Eram 60.000 famílias no inicio deste governo; agora somam 230.813.

 

Tétrica premonição
Escrevi mais: “Os dirigentes do MST vivem uma crise existencial. Por um lado não podem abandonar o PT, partido que sempre lhes deu guarida e abrigo. Por outro, não têm mais como explicar aos companheiros que vivem sob as lonas por que as promessas não são cumpridas e por que, ao invés de diminuir, a população de sem terra aumenta. A crise se tornará aguda porque a população de sem terra quadruplicou, e porque os dirigentes agora têm novo mote para explicar a inação governamental: as ações do MST apenas na área rural não seriam suficientes para que suas metas sejam atingidas. Logo prometem atuar também na área urbana, paradespertar a consciência cívica da população”.
  Quem semeia ventos...
Acima de tudo, quero deixar claro que condeno, integralmente, o vandalismo cometido peloscompanheiros que invadiram o Congresso Nacional. Portanto, minha análise não justifica o ato covarde e bárbaro. Mas, quem não se dá o respeito, não é respeitado. O Congresso Nacional se submeteu ao Executivo. O Procurador Geral da República denunciou o que ele chamou de quadrilha, liderada por José Dirceu (ex- Ministro) que, através do pagamento do tal mensalão, subverteu o que deveria ser a representação e a vontade popular.
  ...colhe tempestades
Se as instâncias de Governo não punem mensaleiros e sanguessugas; se não punem quem viola contas bancárias de “simples caseiros”; se não punem os pagamentos indevidos de empresas privadas a filhos e prepostos; se não punem os desvios de dinheiro das empresas estatais; se a ética e a moralidade não fazem parte dos nossos valores, criou-se o caldo de cultura para MST, MLST e assemelhados se julgarem no direito de fazer justiça por conta própria. Esses movimentos foram cevados por um partido político, como parte de sua estratégia para chegar ao poder. Agora, perdeu o controle da víbora que criou, agigantada pelo meio de cultura dos escândalos. Repito: com esta herança maldita, não queria estar na pele do próximo Presidente da República.



Fair Trade
Décio Luiz Gazzoni

 Se você está à cata de um diferencial competitivo para o seu negócio, saiba que, em 2005, consumidores de países ricos gastaram US$ 1,2 bilhão comprando produtos com o selo da Fairtrade Labelling Organization (FLO). Trata-se de uma certificadora de regras politicamente corretas no comércio internacional. O embrião surgiu nos anos 60, com agências de cooperação e ONGs americanas, que apoiaram financeiramente pequenos produtores de países pobres, dispostos a reduzir o uso de agrotóxicos e dispensar o trabalho infantil. Nos anos 90 a idéia ressurgiu no bojo de uma associação de consumidores de países ricos, dispostos a pagar mais por um mesmo produto, desde que, em sua produção, hajam sido adotadas práticas de proteção ambiental e de defesa dos direitos humanos.

 

Crescimento
O mercado cresceu 30% em 2005, e alguns big shots do mercado internacional, como Starbucks e a Dunkin' Donuts só importam café de produtores certificados. Outros pesos pesados, como a Kraft, aderiram ao selo do comércio justo. O contingente de certificados é estimado em mais de 1 milhão de produtores, em cerca de cinqüenta países. Sob fiscalização da FLO, eles exportam café, chá e cacau. vinhos e artigos esportivos. Apesar da desconfiança dos sindicatos de produtores rurais brasileiros (que juravam ser o sistema apenas uma fórmula para criar barreiras às exportações de países pobres), já existem 17 associações de produtores certificadas pela FLO. As suas exportações ultrapassaram 2 milhões de dólares em 2005 (0,18% do total mundial), mostrando que temos uma enorme avenida aberta à nossa frente. Um dos exemplos é a Associação dos Citricultores do Paraná (Acipar), que recebe US$100 a mais por tonelada de suco vendido à Alemanha. O recurso extra financia a capacitação de colhedores, a manutenção de tratores, cursos de datilografia e de informática.
  Dez mandamentos
Gostou da idéia? Então, mãos à obra e comece a praticar o seguinte “decálogo” de oito regras: i) Crie uma associação aberta de produtores; ii) Seja absolutamente transparente na prestação de contas; iii) Não discrimine sexo ou raça; iv) Implante boas práticas agrícolas e reduza a aplicação de agrotóxicos; v) Trabalho forçado, nem em pensamento: vi) Sob hipótese alguma crianças devem trabalhar; vii) Todos os empregados devem ter carteira assinada; viii) As condições de trabalho devem ser saudáveis e seguras. Depois, é só contactar a FLO, solicitar a certificação e ganhar o bônus.



Inspiração
Décio Luiz Gazzoni

 

Se um jogador de basquete saltasse como uma pulga, uma enterrada exigiria uma tabela a 300 m de altura! Se um homem desse tantos passos quanto uma abelha bate as asas, caminharia 20 km/dia, durante 70 anos! O salto da pulga ou o bater das asas da abelha se devem à resilina, a proteína mais elástica já descoberta.

 

Pulgas
Os cientistas já isolaram o gene que codifica para a resilina. Isto é meio caminho para produzir uma “biofábrica”, uma bactéria com alto teor de resilina. Assim, podem ser produzidas próteses, estruturas flexíveis e resistentes e até tênis para jogar basquete. Estima-se que mais de 70% dos medicamentos encontrados nas farmácias nada mais são que produtos químicos extraídos da natureza ou inspirados em moléculas naturais. Agora, a biotecnologia salta dos medicamentos para outros produtos que melhoram nossa qualidade de vida.
  Gafanhotos e besouros
Você já viu uma nuvem de gafanhotos? São milhões de insetos voando em bando, em espaços exíguos, sem que um bata no outro. Isto se deve a um sensor neuronal, de altíssima velocidade, que permite mudanças bruscas de rumo em 0,045 segundos – tarefa impossível para humanos. A indústria automobilística está aproveitando o principio em um novo e complexo sistema para evitar colisões no trânsito urbano. A mesma indústria imita a aerodinâmica de um peixe asiático, e produziu um protótipo 30% mais leve, que consome 20% menos combustível. Que dizer de uma espécie de besouro que só põe seus ovos em árvores recém queimadas? Para perpetuar a espécie, o besouro precisa detectar incêndios florestais à distância. Nem é preciso discorrer sobre as múltiplas utilidades de um sensor de incêndios, atuando a quilômetros do local onde ocorre. Ou dos micro-pelos das patas dos insetos, que permitem aderir firmemente a superfície. Tão firmemente quanto os mexilhões que resistem às ondas do mar, aderidos às rochas.
  Embrapa
Copiar a Natureza ou nela inspirar-se não é demérito, é poupar tempo no desenvolvimento de utilidades que beneficiem a sociedade. Foi com este mote que propusemos a lógica da programação de pesquisa da Embrapa Agroenergia. Além de buscar produtos com alta densidade energética, a Embrapa vai perscrutar, nos resíduos e nas tortas que restarem após a extração da energia, moléculas e substâncias que possam servir de insumo para a indústria química, incluindo a farmacêutica. Em nosso entender, esse é o primeiro passo para que a biomassa substitua o petróleo, como fornecedora de matéria prima para a indústria.


Missão cumprida, Roberto!
Décio Luiz Gazzoni

 No dia 20 de dezembro de 2002, assinei esta mesma coluna, com o mesmo título acima, e que começava assim: “São 21 horas do dia 28 de dezembro de 2006. Desembarcamos em Congonhas e, finalmente, Roberto vai resgatar uma dívida antiga: vamos passar a noite jogando conversa fora, cantando tangos, boleros e todo o repertório da dor-de-cotovelo. Desde 2002, suas grandes responsabilidades não permitiam pequenos prazeres, como ir a Buenos Aires apenas para assistir shows de tango e esticar a noite nos bares da Boca, sorvendo a canja dos artistas da voz e do bandoneon.”

 

Abreviado

Meu amigo Roberto Rodrigues, eu sempre achei que você ficaria no cargo até o último dia deste governo. Ficaria, por seus méritos. Entretanto, seus méritos acabaram obnubilados por uma enorme crise, provocada pelas sete pragas do agronegócio, capitaneadas pela enorme carga tributária, pelos juros escorchantes, pelo câmbio super valorizado e pela falta de logística de transporte e armazenagem da safra agrícola. Foi muito triste acompanhá-lo durante a entrevista coletiva do dia 28 de junho, 6 meses antes da data que eu imaginava.

 

 

 

Desvantagens

Por polidez, e como último ato de lealdade, Roberto não pode declinar publicamente os motivos pelos quais abrevia sua permanência à frente do Ministério. No entanto, quem vive o dia a dia do agronegócio, sabe da angústia de Roberto Rodrigues em não conseguir resolver o conjunto de entraves que ocasionaram a atual crise do agronegócio (falta de logística, alta tributação, juros altos, real valorizado, falta de segurança no campo, legislação trabalhista anacrônica). Escrevi sobre o tema na última edição da revista Cultivar.

 

 

 

 

 

Muito obrigado

Nós, que admiramos o seu trabalho, só podemos dizer: muito obrigado Roberto, pelo que fez e pelo que tentou fazer e não conseguiu Sei que não serve de consolo, mas em nosso último contato, Roberto lastimava o que ele considerava “o ano da maior crise do agronegócio”. Não foi para consolá-lo, mas na oportunidade lhe disse “a maior crise será no ano que vem, pois este ano o agricultor ainda estava capitalizado e com esperanças”. Roberto vai continuar batalhando na iniciativa privada. E desde já, agradecemos por colocar a sua competência para melhorar o agronegócio nacional. É o que pretendo lhe dizer pessoalmente, na audiência que já tínhamos marcado para hoje à tarde.


Europa, nosso cliente
Décio Luiz Gazzoni 

Ao participar da elaboração do Plano Nacional de Agroenergia, colocamos em evidencia a inevitabilidade da liderança brasileira na geração e comércio internacional de agroenergia. Inevitabilidade em termos: todas as vantagens comparativas estão do nosso lado – precisamos transformá-las em diferenciais competitivos e em negócios palpáveis. Um dos futuros clientes preferenciais do nosso biodiesel será a Europa, onde a consciência sobre a necessidade urgente de câmbio da matriz energética internaliza-se com muita rapidez. Trata-se de um mercado rico, multifacetado, remunerador e promissor.

Política Energética

Na Europa, como no resto do mundo, a luz amarela acendeu com a primeira e a segunda crises do petróleo (anos 70). existiam diversos órgãos governamentais monopolistas de geração de energia elétrica, de energia nuclear ou de produção e distribuição de combustíveis fósseis. Fontes renováveis de energia constituíam-se em exceção, concentradas em hidroeletricidade, mormente na Suécia e Itália. A partir dos anos 80, inicia-se um processo gradual de mudança deste quadro, lastreado em questionamentos sobre a segurança do suprimento energético, impactos ambientais, competitividade das economias européias e desenvolvimento regional.

 

 

Demanda

            Entretanto, a maior visibilidade do processo, até o momento, é o aumento da demanda energética. Estima-se que a dependência externa de petróleo e gás natural crescerá de 80% e 46% (2000) para 93% e 73%, respectivamente, se a matriz energética não for alterada. Estes números apontam para sérios desdobramentos como: i) aumento da dependência do Oriente Médio; ii) custos crescentes de energia; iii) sujeição a crises de abastecimento; iv) impactos ambientais incrementais. Em conseqüência, a Europa trabalha com cenários que prevêem aumento da eficiência energética, geração própria de energia renovável, ou sua importação de terceiros países.

 

 

 

 

Oportunidade

            está a nossa oportunidade, não apenas para o biodiesel, porém para etanol e derivados de florestas energéticas. A conclusão óbvia é que o nosso mercado interno é muito importante, porém deve ser visto também como uma oportunidade de fortalecer a musculatura, ganhar eficiência e competitividade, de olhos postos no mercado europeu. Entre outros aspectos, desde devemos nos preocupar com baixo custo, atendimento das especificações e absoluto respeito às questões sociais e ambientais de todo o ciclo de produção de energia.

 


Brasil, China e Índia.

Décio Luiz Gazzoni
 

 Juntos somos 2,6 bilhões de pessoas (40% da população do mundo), habitantes de países com uma enorme vocação para crescer. No caso do Brasil, um potencial até agora represado por políticas macro-econômicas míopes e falta de espírito desenvolvimentista. Aliás, foi a falta de crescimento da nossa economia que permitiu atingirmos o equilíbrio na balança comercial de petróleo.  Tivéssemos crescido na média do mundo e ainda estaríamos importando muito petróleo. Mas, o fato principal é que, em 25 anos, estes países dobrarão o consumo de energia, a crer em recente estudo publicado pelo Banco Mundial. Se nada for feito, em 2030 também dobraremos a emissão de gases de efeito estufa, nos mesmos países.

 

 

 

 

Balanço de energia

Há 4 anos, o Banco Mundial deflagrou o projeto 3 Country Energy Efficiency Project (3CEE), atuando em parceria com diversas instituições com expertise no assunto. Em maio de 2006, durante, um congresso realizado na França foi liberado o relatório final do projeto. Em suas conclusões, os especialistas apontam a necessidade de que Brasil, China e Índia invistam em projetos que aprimorem a eficiência tecnológica de seus processos de produção de energia, como premissa básica para reduzir a projeção da demanda energética em até 25%, dentro do período estudado. O relatório é cristalino ao indicar a necessidade urgente de desenvolvimento de novas tecnologias energéticas. De acordo com o documento, novas e modernas tecnologias não apenas garantiriam o abastecimento energético, como reduziriam a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa.

 

 

 

 

 

 

Desafio
A leitura do relatório liberado pelo BIRD, mostra o Brasil em uma situação mais favorável em relação à China e à Índia, destarte seus pecados. Apesar de dispor de uma das matrizes mais limpas do mundo, o uso de combustível fósseis no Brasil cresceu 18% nos últimos 15 anos, para um crescimento global da demanda energética de 29%. Ou seja, deixamos de investir nas nossas vantagens competitivas. O relatório projeta, até 2015, um consumo de 244 trilhões de kw/h por ano, se o crescimento do PIB ocorrer a 4% a.a. Isto significaria aumentar em 65% a oferta de energia, com potencial de ampliar as emissões de gases de efeito estufa de 302 para 665 milhões de toneladas ao ano. Nosso país dispõe de duas avenidas para evitar o desastre que se anuncia: racionalizar o uso de energia e aumentar, desproporcionalmente, a participação de agroenergia no balanço energético nacional.


Desvantagens competitivas
Décio Luiz Gazzoni 

Costumamos ressaltar as vantagens competitivas do Brasil (terra, clima, tecnologia, mão de obra, etc.). Não vi um estudo que agregasse sob um único título as nossas “desvantagens competitivas”, que, no frigir dos ovos, passam a ser vantagens competitivas de nossos competidores. 

Tributação
Sem dúvida, a maior das desvantagens. Quase 50% do PIB brasileiro é sugado pelo governo, que o reaplica de forma ineficiente e perdulária. Apesar das promessas e juras em contrário, o atual Governo tanto incrementou a pressão tributária sobre os contribuintes, quanto aumentou os gastos em despesas de custeio, diminuindo os investimentos, ou seja, piorou a qualidade do gasto público. 

Legislação trabalhista
Enquanto nos EUA e nos países mais competitivos do mundo, do total despendido pelo empregador, entre 80 e 88% é recebido pelo empregado, como remuneração, no Brasil o trabalhador recebe, em média, 50% do que o patrão desembolsa. Às vezes, o valor dos encargos sobre os salários é maior que o salário recebido pelo empregado. Com isto, os empregadores preferem a automação, os contratos com pessoas jurídicas ou a informalidade. Perdem o Brasil e o trabalhador

Logística
O que há de bom no setor de transporte e armazenamento é o que foi privatizado nos anos 90 (ferrovias, estradas pedagiadas, armazéns). As estradas federais estão intrafegáveis e muitas das estaduais também, fazendo com que, muitas vezes, o preço do frete seja superior ao custo de produção de um produto agrícola. 

Segurança patrimonial
Basta dizer que, durante o atual governo, o número de filiados ao MST morando sob as lonas passou de 230.000 para mais de um milhão. O custo de garantir o patrimônio (terra, máquinas, benfeitorias) está onerando cada vez mais o nosso agronegócio. E, às vezes, nãocomo proteger o patrimônio, que é simplesmente perdido, sem qualquer apoio dos governos para manter a legalidade. Quanto ao seguro agrícolanada a declarar

Juros e Câmbio
Pagando as mais altas taxas de juros do mundo, nossos produtores têm demonstrado uma habilidade gerencial superior aos concorrentes. Enquanto nos EUA, na Europa e no Japão, a agricultura é subsidiada , aqui ela é fortemente taxada e os juros são escorchantes. Também vivemos, nos dias atuais, o que deve ser a mais alta taxa de apreciação do real, muito superior à relação 1:1 do início do Plano Real, que tanto prejudicou o agronegócio. A valorização do real é um dos principais fatores da atual megacrise do agronegócio.


Combustíveis, clima e saúde
Décio Luiz Gazzoni

Estamos conseguindo desfazer, em menos de um século, o que a Natureza levou centenas de milhões de anos para construir: o clima da Terra. O equilíbrio entre os componentes da atmosfera terrestre, em especial gases e vapores, consolidado ao longo da evolução do planeta, é o responsável por manter a temperatura média anual da Terra em, aproximadamente, 15º.C. Esse equilíbrio, atingido a duras penas, permite a vida por estas bandas, da forma como a conhecemos. Se a temperatura se altera, mesmo que minimamente, todos os sistemas são afetados, com enorme impacto sobre os organismos vivos. Na agricultura, se sabe que a diferença de apenas 1º. C. na temperatura média anual pode significar mais uma ou duas gerações de insetos ou ácaros, demandando mais agrotóxicos, aumentando os custos e os riscos sanitários e ambientais.

 

 

 

 

Mudanças climáticas
Não bastassem os desastres como furacões, tornados, nevascas, secas e enchentes, que ceifam vidas com freqüência cada vez maior, devido às mudanças climáticas, os cientistas estão descobrindo que as mudanças do clima também têm efeitos diretos sobre a saúde. Cientistas da Universidade de Harvard haviam determinado que, de 7 milhões de mortes por câncer em 2001, um terço estavam ligadas a fatores de risco que poderiam ser modificados. Entre eles estão alimentação ruim, fumo, álcool, obesidade, falta de exercício e poluição do ar. A poluição do ar está ligada, umbilicalmente, ao uso de combustíveis fósseis, matriz das mudanças climáticas globais. Outros cientistas avançaram na mesma linha de estudos e chegaram a conclusões assustadoras.

 

 

 

 

 

 

 

 

Saúde
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, é possível estimar em 150 mil o número de óbitos ocorridos no mundo, que podem ser diretamente associados às mudanças climáticas globais, nos últimos 30 anos. Estudo publicado na revista Nature de 17/11/2005 mostra que cerca de 5 milhões de pessoas foram diagnosticadas com problemas de saúde, ocasionados diretamente pelas mudanças climáticas. Os pesquisadores identificaram mortalidade cardiovascular, doenças respiratórias, doenças infecciosas e subnutrição (causada por perdas de safra devido a mudanças climáticas) como os principais distúrbios de saúde associados com mudanças climáticas. Você sabe qual o principal fator que provoca as mudanças climáticas? É a queima de combustíveis fósseis. Se não havia outro motivo para o mundo investir em biocombustíveis, apenas os expostos acima seriam suficientes.


CIBI
Décio Luiz Gazzoni 

Com a seqüência de anos de baixíssimo crescimento do PIB, o Brasil insiste em contrariar as previsões de especialistas. Uma dessas previsões apontava a emergência da China, Índia, Brasil e Indonésia (CIBI) como fortes potencias mundiais, no futuro próximo. Quem assina o vaticínio é o Conselho de Inteligência Nacional dos Estados Unidos, que reúne as 15 agências de inteligência do país, coordenado pela CIA. Segundo eles, os erros de política externa e de política econômica corroerão a hegemonia dos Estados Unidos. A Europa terá de adaptar sua força de trabalho, sob o risco de enfrentar um período de prolongada estagnação econômica. Até a ONU, o FMI e o BIRD podem se tornar obsoletos se não se ajustarem às mudanças do novo pólo de poder.

Mapa do futuro
O documento alinhava cenários até 2020 e intitula-se Mapping the Global Future. China e Índia são os pilares de mudanças em curso, as mais revolucionárias desde a IIa. Guerra. O surgimento do CIBI compara-se ao advento da Alemanha unida no século XIX ou aos EUA do século XX. O século XXI pode alçar a Ásia à liderança mundial, pela combinação de alto crescimento econômico, expansão de suas capacidades militares, força de trabalho de suas grandes populações e mercado crescente e com poder aquisitivo. China e Índia almejam a liderança tecnológica mundial (com pesados investimentos em biotecnologia!), atraindo as bases das multinacionais para estes países.

 

 

 

 

Brasil
Contrariando as intenções do nosso governo, que adora baixos crescimentos da nossa economia, o estudo do NIC aponto o Brasil como um país de alto potencial, economia diversificada e população empreendedora, um grande patrimônio nacional e sólidas instituições econômicas. De acordo com o cenário, nosso país seria um parceiro natural das atuais grandes potências (EUA, Europa, Japão), porém também das novas potências (China, Índia, Indonésia e Rússia). Uma das grandes vantagens comparativas do Brasil é o seu agronegócio pujante. O NIC também descobriu o que o mundo já via: o Brasil está condenado não apenas a ser o celeiro de alimentos, mas também a grande usina de energia do mundo. O novo salto de desenvolvimento do país deve ser capitaneado pelo agronegócio da agricultura de energia. Só que, como naquela conversa folclórica entre Garrincha e Feola, falta combinar com os russos! Ou seja, falta apenas termos um Governo que não interfira com os desígnios divinos e nos permita realizar nosso potencial de desenvolvimento.


Congresso de Entomologia
Décio Luiz Gazzoni

Escrevo do Recife, onde se realiza o XXI Congresso Brasileiro de Entomologia, com quase 1500 participantes. no sábado passado tivemos um excelente simpósio sobre o uso de tiametoxam (Cruiser) no tratamento de sementes. Este inseticida foi desenvolvido para proteger culturas de pragas do solo ou da parte aérea. que os cientistas acabaram descobrindo outras propriedades até mais interessantes que o controle de pragas. Quando sementes de soja, milho e outras culturas são tratadas com este inseticida, a germinação é antecipada, o poder germinativo e o vigor das plântulas é maior, as plantas crescem mais, resistem melhor aos veranicos e, na colheita, rendem entre 6 e 8% mais que as plantas não tratadas.

 

 

 

Frutas
Outro simpósio muito interessante tratou dos Programas Integrados de Produção (PIF) de frutas, em especial uva, manga, mamão e maçã, destinadas à exportação. O Brasil é o maior produtor de frutas do mundo, porém exporta relativamente pouco em relação ao que produz. Na tentativa de expandir o mercado, foram criados os PIFs, que são programas de boas práticas agronômicas (nutrição de plantas, sanidade, colheita, pós-colheita, etc), atendendo às exigências dos consumidores (qualidade e inocuidade) e da sociedade organizada nos países importadores (proteção ambiental, questões sociais). Em especial, existe uma forte preocupação quanto à presença de resíduos de agrotóxicos nas frutas, que, cada vez mais, representa uma barreira quase intransponível para quem pensa em exportar. Em alguns casos, a simples presença do agrotóxico, mesmo em quantidades infinitesimais, é suficiente para embargar uma importação.

 

Manejo de Pragas
O PIF nada mais é que uma melhoria dos consagrados programas de manejo de pragas, dos quais o MIP Soja é o grande exemplo mundial. No caso de frutas, as preocupações se concentram em algumas pragas como mosca branca, ácaros e cochonilhas. Um dos trabalhos apresentados no Congresso tratou das cochonilhas de frutas de clima temperado do sul do Brasil (como Diaspidiotus perniciosus, Pseudaulacaspis pentagona e Pseudococcus viburni), sendo esta última um vetor de vírus, ampliando o potencial de dano deste grupo. Os conceitos de manejo de pragas tiveram o condão de mudar a cara da tecnologia agronômica, nos últimos 20 anos. Aumenta a participação de práticas culturais e de controle biológico no mix de controle de pragas. E, os novos inseticidas lançados pela indústria, são muito menos tóxicos ao Homem, aos animais e ao ambiente.

 

 

 


Mamona
Décio Luiz Gazzoni 

Escrevo de Aracaju, onde transcorre o Congresso Brasileiro de Mamona. Talvez você não lembre, mas o Paraná foi o maior produtor de mamona do Brasil e o Brasil o maior produtor do mundo. Hoje o Brasil é o quarto produtor, a Índia responde por 65% da produção mundial. A mamona ainda possui um longo caminho tecnológico e gerencial a ser trilhado. A produtividade brasileira é de 600kg/ha, a do mundo 1300 kg/ha. No Brasil, existem referencias de 5 t/ha, os híbridos irrigados chegam a 8,5 t/ha e a máxima produtividade teórica é de 16 t/ha.

Óleo caro
O óleo de mamona é cotado no mercado internacional em torno de US$1000,00/t, o dobro de outros óleos como de soja ou dendê. E não é um óleo comestível, sua importância reside no seu aproveitamento na indústria de química fina e farmacêutica. Mas, recentemente, tem sido olhada com muito carinho para aproveitamento na produção de biodiesel. Embora a indústria energética não suporte o valor do óleo vigente no mercado internacional, a acomodação futura deve ocorrer, pois o mercado para indústria fina e farmacêutica é relativamente estreito. Com o aumento da produção, os preços devem cair rapidamente, ajustando-se às cotações dos demais óleos.

 

 

 

Social
O “revival” da mamona ocorre especialmente por conta de sua adequação à agricultura familiar, especialmente daqui do Nordeste brasileiro. Trata-se de uma cultura muito intensiva em mão de obra, do plantio até a colheita. Além disso, a mamona pode completar o seu ciclo com 300-400mm de chuva durante o ciclo, que pode durar entre 130 e 170 dias. Com esta tolerância ao estresse hídrico, a mamona é das poucas culturas que podem ser cultivadas no semi-árido brasileiro.

 

Tecnologia
Ainda um longo caminho a trilhar, na questão tecnológica. Na área agronômica, novas variedades e híbridos são necessários, além de inúmeros processos de manejo da cultura e controle de pragas, e nutrição das plantas. Na área industrial, dois aspectos merecem atenção. Do lado do óleo, há que adequar as suas características físico-químicas às especificações do biodiesel, em especial em relação à viscosidade. Na torta, há necessidade de eliminar toxinas como a ricina e a ricinina e os princípios alergogênicos. A Embrapa está investindo fortemente no desenvolvimento de tecnologias agronômicas e agroindustriais. Conforme os resultados vão saindo do campo, espera-se que o Brasil volte a ocupar o primeiro posto na produção mundial de mamona e que o óleo de mamona torne o Nordeste autônomo na produção de biodiesel.

 Habemus musa
Décio Luiz Gazzoni

Desta vez Julia Roberts não está representando, mas seu papel não é menos importante: ela assumiu a presidência do conselho consultivo da EBI (Earth Biofuels Incorporation). Trata-se de uma empresa constituída para produzir e comercializar biocombustíveis e que tem, entre seus acionistas o cantor country Willie Nelson, e o piloto de corridas Rusty Wallace. No começo até achei que era uma daquelas jogadas de marketing para aproveitar o sucesso de celebridades. Mas, depois de ler muito a respeito, verifiquei que se trata de um investimento muito bem avaliado, pelas perspectivas de lucro no setor. Afinal, a empresa foi criada em 2004 e já ameaça a liderança de empresas mais tradicionais.

 

 

 

  Crescimento
Um número liberado esta semana confere uma dimensão interessante para avaliar o interesse que os biocombustíveis estão gerando no mundo inteiro. O USDA prevê um crescimento da safra mundial de grãos de 20 milhões de toneladas, dos quais 70% serão destinados à produção de biocombustíveis. Tem mais: no ano passado a Europa produziu cerca de 6 bilhões de litros de biocombustíveis, dos quais 3,3 bilhões de litros de biodiesel. Nos EUA, o volume de milho transformado em etanol passou de 18 para 55 milhões de toneladas, entre 2001 e 2005. Este crescimento espetacular fez com que os EUA ameaçassem a liderança histórica do Brasil na produção e comercialização de álcool.
 

Conflitos
Esses números espetaculares, do ponto de vista dos negócios, são os responsáveis por atrair personalidades de sucesso para o setor. Entretanto, já começa a ser discutido o conflito entre produção de alimentos e de energia. Algumas comparações, como o consumo anual de álcool por uma camionete, que demanda um volume de grãos suficiente para alimentar uma pessoa no mesmo período, começam a circular nos meios acadêmicos. Este conflito é real para os EUA, onde o aumento da área de milho ocorre à custa da redução da área de soja e o incremento da área de girassol avança sobre a área de algodão. Ou na Europa, onde não há mais como expandir a área de produção de oleaginosas para a produção de biodiesel.

Brasil

O Brasil passa galhardamente por esta discussão. Temos, no mínimo, 90 milhões de hectares de terra agricultável para expandir nossa agropecuária, seja ela de vocação alimentar ou energética, embora, no caso de oleaginosas, praticamente qualquer cultivo possa ser de dupla finalidade. Com tal vantagem competitiva, não estaria na hora de atrair os capitais de Julia Roberts para investir no Brasil? Bem, se os capitais não puderem vir, aceitamos só a proprietária deles!


Controle genético
Décio Luiz Gazzoni 

Os avanços da biotecnologia estão cada vez mais ligados à melhora da qualidade de vida da Humanidade. Também passa a existir muita interação entre os avanços da biotecnologia agrícola e a medicina. Por exemplo, os processos que geram tumores são muito semelhantes entre os animais e vegetais. Eles são parte da evolução das espécies, mesmo que este processo seja umerro de concepçãoou umerro de execução”. 

Plantas e animais
Os cientistas estão utilizando a planta de Arabidopsis (modelo em estudos biotecnológicos) para entender em profundidade a função de uma proteína chamada DEL1 no processo de divisão das células. Este processo também é acompanhado em células de orelhas de camundongos, para estabelecer a similaridade entre animais e vegetais. As plantas de Arabidopsis foram modificadas por engenharia genética, silenciando o gene que codifica para a DEL-1. Silenciar um gene, no jargão científico, significa que o gene continua presente, porém não envia as instruções para produzir a proteína. Verificou-se que, na ausência da proteína, o processo de duplicação das células se interrompe após a divisão dos cromossomos. Aparentemente, a DEL1 promove a duplicação cromossômica, mas não completa a divisão celular. Se a hipótese for correta, pouco poderá ser feito para salvar plantas de seus tumores, pelo alto custo do tratamento e por sua inviabilidade prática.

 

Humanos
Mas o estudo é importante para a espécie humana. Sabe-se que a alteração do número de cromossomos (ou do seu conteúdo) pode causar diversos distúrbios orgânicos, inclusive o desenvolvimento de tumores. Desta observação preliminar os cientistas estabeleceram uma hipótese importante: se a observação efetuada nas plantas de Arabidopsis for confirmada em seres humanos, pode ocorrer que, sob determinadas condições, a proteína E2F7 (estruturalmente similar à DEL1) seja responsável pela multiplicação dos cromossomos nas células humanas, sem que o processo de divisão celular seja completado corretamente. Neste caso, haveria algumas células no organismo com um potencial de serem células que redundariam em um tumor maligno. Se confirmada a hipótese, os cientistas poderão iniciar o desenvolvimento de terapias gênicas, visando corrigir erros de programação genética na codificação para a proteína E2F7, eliminando uma das possibilidades de desenvolvimento de tumores malignos. Graças ao conhecimento básico obtido na biotecnologia agrícola.


Novas alternativas energéticas
Décio Luiz Gazzoni 

Na semana passada participamos de dois eventos sobre Agroenergia. O primeiro na Confederação Nacional da Indústria, que congregou alguns pesos pesados do empresariado nacional, interessados nas oportunidades de investimento relacionadas à indústria do biodiesel. Olhando apenas o mercado nacional, o negócio parece pequeno, pois estamos falando de 2 bilhões de litros para 2012. Entretanto, quando olhamos para a demanda mundial de mais de 34 bilhões de litros, prevista para 2010, a magnitude do negócio começa a ficar patente. 

Novas alternativas
Para a decolagem da indústria de biodiesel, é necessário remover algumas barreiras do caminho, como a logística, o financiamento, etc. Mas o que garantirá a sustentabilidade do negócio, no longo prazo, serão as inovações tecnológicas. Estima-se que, em 2020, será necessário produzir o dobro de óleo vegetal que produzimos em 2006, apenas para atender as demandas energéticas. Para que esta oportunidade não se transforme em uma ameaça ambiental, teremos que desenvolver novas alternativas para produção de óleo vegetal, com alta densidade energética por unidade de área. Ou seja, não será possível produzir 150 bilhões de litros de biodiesel a partir de plantas como soja ou girassol.

  Pinhão manso ou macaúba?
Este foi o tema do segundo evento. A Embrapa e as instituições parceiras começam a atentar para a nova realidade, buscando alternativas de plantas com alta capacidade de produção de óleo, acima de 5 toneladas por hectare. E que também tenham outras características interessantes para a agricultura do futuro, como rusticidade, alta capacidade de extração de nutrientes, menor demanda de água, etc. Duas plantas que hoje são exploradas sob a forma de extrativismo começam a chamar a atenção: a macaúba e o pinhão manso. A macaúba reúne as condições para ser o dendê do cerrado brasileiro, pela sua alta potencialidade de produção de biomassa e sua capacidade de suportar longos períodos sem chuvas. E o pinhão manso é ainda mais radical, sendo bem adaptado às regiões semi-áridas no Nordeste brasileiro, podendo fazer uma dobradinha interessante com a mamona. Agora, para quem prefere a heterodoxia total, durante o Congresso da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel foi muito discutida a possibilidade de produção de óleo vegetal a partir de algas, que possuem uma alta capacidade de produção de biomassa, com elevados teores de óleo vegetal e de proteínas. Estes temas ingressam hoje na agenda de pesquisa, para começar a desenhar o perfil do agronegócio brasileiro da próxima década.

 

Perspectivas da Agroenergia
Décio Luiz Gazzoni 

Escrevo de Veneza, a cidade dos Dodges. Ontem aproveitei para voltar à Piazza de San Marco, para rechecar uma informação, com fins estritamente profissionais: desde a última vez que aqui estive, teria subido o nível da água em Veneza, ameaçando submergir um dos patrimônios da Humanidade? 

Carbono fóssil e clima
Este é um dos exemplos que usarei amanhã, quando proferirei uma conferencia para cerca de 300 empresários, de diferentes países, ligados ao comércio internacional de produtos agrícolas. Foi me pedido para traçar um panorama do impacto da agronergia no agronegócio, nos próximos anos. E, do meu ponto de vista, um dos principais “drivers” da escalada acentuada da produção e uso de biocombustíveis está no tema ambiental. A queima de combustíveis fósseis está provocando mudanças dramáticas no clima ao redor do mundo. Os eventos extremos estão aumentando a sua freqüência e tornando-se cada vez mais severos. Falo de ondas de frio ou de calor intensos, de furacões e tempestades, de nevascas. E falo de degelo dos pólos da Terra e de neves eternas, que já contavam com milhares de anos de existência, e estão desaparecendo em menos de 5 anos.
  Degelo
Nos últimos 25 anos, cerca de 20% do gelo do Pólo Norte desapareceu. É só conferir em www.nasa.gov. Como a água não está desaparecendo, ela está indo para os oceanos. No século XX, o nível dos oceanos subiu cerca de 20 cm. A previsão dos cientistas é de que continuem subindo 1cm por ano, ao longo do século XXI. Com um metro a mais, não apenas a Veneza italiana desaparece, mas a Veneza brasileira – Recife – sofrerá enorme impacto em sua área urbana. De Copacabana até a Barra, também haverá impacto negativo. Para não falar da Holanda, cujos diques não suportarão a elevação dos mares.
  Biocombustíveis
Muito do estrago já está contratado, pelas bilhões de toneladas de poluentes jogados na atmosfera, por conta da queima de combustíveis fósseis - e nada pode ser feito para revertê-lo. O mundo está acordando para a necessidade de mitigar os danos futuros, reduzindo a dependência de fontes energéticas de carbono fóssil. O último baluarte da resistência ruiu em janeiro passado, quando o Presidente Bush admitiu que os EUA são viciados em petróleo e que a situação é insustentável. Mais uma vez a agricultura é chamada para dar a sua contribuição e o resumo da minha mensagem aos empresários será: até a metade deste século, a agricultura de energia movimentará o maior volume de recursos do agronegócio, muito mais do que a produção de fibras ou alimentos. Voltaremos ao tema na próxima semana.

 

 

 

Mais biocombustíveis
Décio Luiz Gazzoni

 

Chego de Veneza - onde apresentei uma conferencia para algumas centenas de empresários de todo o mundo, sobre o futuro dos biocombustíveis – com as mesmas certezas e inseguranças, só que agora consolidadas. Debatendo o assunto, ficou claro que a produção de biodiesel no mundo vai crescer a altas taxas, como uma das fórmulas para os diferentes países signatários cumprirem seus compromissos com o Tratado de Kyoto. 

Certezas e dúvidas
A Europa consumirá 13 bilhões de litros de biodiesel em 2010, mas não conseguirá produzir este volume. O continente passará de exportador a importador de óleo de canola e de soja, além de óleo de dendê. Outros países, como os EUA, também aumentarão o consumo em escala logarítmica. China, Japão e Índia inserem-se no esforço global para reduzir o consumo de energia fóssil. Mas, onde produzir mais 140 bilhões de litros de óleo vegetal nos próximos 15 anos? Os olhos do mundo se voltam para o Brasil. Espera-se que aqui exploda a produção de soja em 2012, para 85 milhões de toneladas. Eu também espero, mas com a crise que aí está, com o câmbio de sinal invertido, juros altos, impostos mais altos ainda, estradas que não existem mais, como atender o apelo do mundo para produzir mais? Outras dúvidas: até onde os governos de todo o mundo vão continuar bancando políticas públicas de sustentação da produção de biodiesel, para mantê-lo competitivo? O que fazer com 280 milhões de toneladas de farelos (soja, algodão, canola, girassol, etc), que resultarão da produção do óleo?

 

  Alimentos x energia
Lendo os jornais ou assistindo à televisão européia, percebe-se o grande apoio da sociedade às energias renováveis. Porém, eu coço a cabeça quando faço a pergunta para mim mesmo: e daqui a dez anos, quando a Europa e os EUA direcionarem a produção agrícola para energia, e o preço dos alimentos subir, a sociedade continuará disposta a apoiar? Mesmo sabendo que, se não reduzir o consumo de combustíveis fósseis, o preço dos impactos ambientais será alto? Falará mais alto o estomago ou a preocupação com o futuro?

PS (1): Semana passada falei que fui medir a altura do mar Adriático, na Piazza de San Marco. Pois ele subiu 23 cm, no último século, 1cm a cada 4 anos! Maior responsável: aquecimento global pela queima de combustíveis fósseis!

PS (2): A única notícia sobre o Brasil, nos jornais e tvs da Europa tratava da compra do dossiê contra o candidato Serra. Que vergonha ter que explicar aos cidadãos de outros países o que ocorria aqui!

Eleições e agronegócios
Décio Luiz Gazzoni 

Arrisco desenvolver uma linha de raciocínio que não ouvi de nenhum analista eleitoral. De forma estereotipada, o Presidente Lula ganhou onde a bolsa família pesa no orçamento e perdeu onde o agronegócio é forte. Mas não perdeu por conta dos votos dos produtores ruraiseles se diluem na massa de eleitores. Perdeu porque o agronegócio, o principal motor da economia do país, impulsionador dos empregos e da renda, está em um mau momento. A pasmaceira geral que atinge o agronegócio brasileiro (com raras exceções) não afeta os agropecuaristas, os empresários de processamento, os exportadores. Afeta o bóia fria, o empregado rural, o operário da agroindústria, o motorista de caminhão. As revendas de insumos vendem menos, o que significa menos emprego, menos comissões, menos renda

Efeito na economia
O efeito se esparrama pela economia. O motorista de táxi sofre junto com a empresa de transporte urbano ou interurbano; o dono da mercearia não recebe as vendas a fiado, como não recebe o dono do boteco. Diminui o emprego doméstico e até o informal. Os filhos dos pais afetados pela queda de renda saem da escola particular para a pública, a mesada diminui, até o uso do carro da família passa a ser restringido. Teria chegado a hora de rever o real super-valorizado, os altos juros e os impostos escorchantes?
  Crise
Em 28 de junho passado encontrei o ex-ministro e meu particular amigo Roberto Rodrigues. Ele estava um poço de mágoas, pelo que não pôde fazer pelo agronegócio, enquanto ministro. Dizia que havia assumido o MAPA com o agronegócio em alta e crescendo. E que virara um gerente de crises, entregando o Ministério no ano da maior crise do agronegócio brasileiro. Disse-lhe então, sem pretensão de consolá-lo: “...a maior crise, Ministro, não ocorre este ano, virá no próximo. Este ano o agricultor começou a safra menos endividado e com o astral mais alto. No próximo, estará endividado, sem crédito e sem ânimo”. Parece que, de algum modo, as urnas estão alertando para a previsão.
  Londrina
Obviamente, não pude verificar os resultados de todos os 5.000 municípios do Brasil. Mas, entre as centenas que meus amigos e eu examinamos, foi em Londrina que o Presidente Lula teve a menor votação (17%). O que ocorreu, se aqui estão grandes lideranças do PT estadual e nacional? Se o prefeito é do PT? Será que apenas os buracos das ruas (que dobram de número a cada dia) explicam isto? Ou porque Londrina é um dos ícones do agronegócio? Quem se arrisca fornecer uma explicação definitiva?

 

 

 

O fator agrônomo
Décio Luiz Gazzoni

 Os números do agronegócio brasileiro orgulham o setor. Concordo que poderiam ser muito melhores se a paridade do real com as moedas estrangeiras fosse justa; se os juros fossem compatíveis, o financiamento adequado. Se existisse seguro agrícola e estradas decentes, etc. Noves fora estes mata-burros, o Brasil detém o maior saldo comercial do agronegócio mundial, equivalendo a 90% das suas exportações, e respondendo por 37% das exportações e por 28% do PIB brasileiro. É o setor que mais gera empregos, com o menor tempo de resposta e o menor custo, responsável pela melhor distribuição de renda e pela interiorização do desenvolvimento. 

Os números
Entre os grãos, o Brasil é o segundo produtor mundial de soja, com vocação para primeiro. A nova sensação do campo são as carnes, com crescimento espetacular das exportações: nesta década aumentamos em 200% a exportação de frango, 250% a de carne bovina e 400% a de carne suína. Em 2005 aumentamos em 18% a produção de carne bovina, 15% a de frango e 22% a de suínos. Açúcar? A exportação aumentou 250% na década. Álcool? Incremento de 1100% nas exportações do período.

 

As razões de sucesso
A natureza generosa sempre esteve aí. Faltava transformar as vantagens comparativas em fator de competitividade. É aí que entra o fator agrônomo, símbolo das equipes que tornaram o Brasil o líder mundial em tecnologia de agricultura tropical. Dos laboratórios, passando pelas estações de pesquisa, até chegar às propriedades agrícolas, o caminho da formação do conhecimento e da transferência de tecnologia sempre passa por um Engenheiro Agrônomo.

 

  Outros números
Os números que melhor atestam a importância do fator agrônomo no diferencial competitivo não estão no aumento da produção ou da exportação. A melhora da produtividade da agropecuária brasileira, essencialmente por conta do avanço tecnológico, é o grande diferencial. A atuação dos agrônomos na geração e transferência de tecnologia fez com que a produtividade das lavouras de grãos crescesse 80% nos últimos 12 anos. Foi o que permitiu aumentar em 110% a produção, exigindo apenas mais 22% de área. Sem o efeito agrônomo, contrabalançando com avanço tecnológico as barbeiradas de política agrícola e financeira, o Brasil jamais apresentaria um portfólio de produção e exportação tão exuberante. Portanto, nada mais justo que hoje, 12 de outubro, a sociedade renda sua homenagem ao dia do Engenheiro Agrônomo – co-responsável pelo pão e pelo dólar nosso de cada dia!

 

Um projeto Manhattan
Décio Luiz Gazzoni 

Participei ontem, em Brasília, de uma reunião com o cientista Ignacy Sachs, um dos principais intelectuais da esquerda moderna mundial, professor da Universidade de Paris. O tema da discussão: Agroenergia. Foi interessante ouvir o ponto de vista de um intelectual que não se envergonha de dizer que não é um especialista em agroenergia, mas que se dispõe a discuti-la sob a ótica da segurança energética e da sustentabilidade social e ambiental. 

Conflito?
Sachs citou um ícone das ONGs ambientais, Lester Brown (Worldwatch Institute), que antevê um conflito insuperável entre a agricultura de energia e de alimentos. Lester costuma contrastar os interesses dos 800 milhões de proprietários de automóveis e dos 2 bilhões de famintos. Sachs alivia esta análise de forma otimista, não prevendo um conflito desta natureza nos próximos 30 anos. Ao contrário, os avanços científicos, especialmente em tecnologia agronômica, que se encarregaram de desmentir Malthus, vão desmentir também um conflito que pode se afigurar um sofisma

 

 

  Projeto Manhattan
Sachs traz à tona a figura do Projeto Manhattan – o esforço concentrado do governo norte americano que, em 3 anos, permitiu o domínio da tecnologia nuclear e a construção da bomba atômica – para dramatizar alguns parâmetros associados à agroenergia. A similaridade se resume à necessidade de o Brasil investir, de forma concentrada e com muita intensidade, em tecnologia de geração de agroenergia. Porém a semelhança com o projeto Manhattan termina no esforço de guerra para gerar tecnologias e processos de produção. Seus objetivos são bem mais nobres que os objetivos do Projeto Manhattan original. 
  Social e ambiental
Sachs salienta que existe um sério problema de abastecimento sustentável de energia, que precisa ser resolvido no médio prazo. Porém, chama a atenção que o mote central deve ser a mitigação dos impactos ambientais da queima de combustível fóssil e a solução de problemas sociais que afligem o mundo. Lembrou que 30% da população economicamente ativa do mundo está desempregada, sub-empregada ou não recebe uma remuneração digna. Donde propugna que não basta produzir energia renovável. Ë necessário que a sociedade aproveite a oportunidade que se abre para gerar mais empregos e distribuir mais renda. Com isso evitaria a avalanche de problemas sociais, como a prostituição, a violência urbana ou o tráfico de drogas. Mais do que utopia, as palavras de Sachs me soaram como esperança de um mundo melhor.


HBIO
Décio Luiz Gazzoni 

Meu amigo Dr. Baldy me cobra e eu não posso deixar de atender. Afinal o que é o HBio e qual seu impacto no agronegócio? Inicialmente, HBio não é biodiesel. A Petrobrás desenvolveu um processo que permite adicionar até 18% de óleo vegetal (que pode aumentar com a melhoria do processo) ao petróleo a ser refinado. O óleo diesel é uma das frações produzidas pelo refino do petróleo, obtidas em uma seqüência de três etapas. Pela destilação atmosférica obtém o diesel DD (Destilação Direta). Sobra um resíduo atmosférico que é destilado a vácuo, produzindo gasóleo, o qual é transformado em diesel FCC (combustível craqueado por catálise). Resta o resíduo final, que é processado por coqueamento retardado, obtendo-se o diesel coque. 

Obtenção do HBio
Estas três frações são misturadas e recebem a adição de óleo vegetal, seguindo para uma unidade de hidrotratamento (HDT), onde é injetado hidrogênio molecular. A unidade HDT é responsável pelo tratamento e especificação das várias correntes de diesel produzidas nas refinarias. O óleo vegetal, por ação do catalisador já utilizado no HDT de óleo diesel, é hidrogenado (saturação de ligas duplas) e craqueado (sua molécula é rompida na porção glicerina). Assim, o óleo vegetal é transformado em hidrocarbonetos parafínicos lineares na faixa do óleo diesel (C16 a C18), propano (GLP) e água. Os compostos parafínicos melhoram a qualidade do óleo diesel, destacando-se o aumento da qualidade de ignição (número de cetano), a melhor lubricidade e a redução do teor de enxofre, que é responsável pela chuva ácida, decorrente da queima do diesel comum.
  Impacto no campo
O potencial desta tecnologia é imenso. Hoje a Petrobrás detém sua patente, porém ela poderá ser licenciada a outras refinadoras – que também podem desenvolver seu processo próprio. Como o Brasil consome anualmente 40 milhões de toneladas de diesel, o potencial brasileiro é de absorção de 6,1 milhões de toneladas de óleo vegetal. Ocorre que, em 2006, o Brasil deverá produzir 6,3 milhões de toneladas de óleo vegetal. Ou seja, o processo HBio poderia drenar todo o óleo vegetal produzido no Brasil. Ou, olhando pelo lado positivo, aumentar a demanda de soja em 35 milhões de toneladas! E estamos falando apenas de Brasil. O potencial do mundo é fantástico – eu diria, utópico, inatingível. Porém, o agronegócio brasileiro pode se apropriar da maior parcela deste novo mercado fabuloso, que é paralelo ao do biodiesel. Sem contar a produção adicional de farelo, que é uma riqueza ainda maior que o óleo.

 

Mercado de álcool
Décio Luiz Gazzoni 

Tenho dito que, até o final da próxima década, a cana-de-açúcar representará para o agronegócio brasileiro o que a soja representa atualmente, em termos de negócios na cadeia. O mercado brasileiro é pequeno, chegará, no máximo, a 40 bilhões de litros, até 2020. Já o mercado externo é fantástico. Vejamos o exemplo dos EUA, o país que mais consome combustíveis fósseis no mundo que, atualmente, produzem a mesma quantidade de etanol de milho que o Brasil produz de cana. Ocorre que o mercado de gasolina americano é superior a 450 bilhões de litros. Na melhor das hipóteses, os americanos conseguiriam triplicar sua produção de etanol de milho na próxima década, à custa de uma retração brutal na destinação do milho para alimentação animal. A partir deste limite eles dependerão de duas alternativas. Primeiro: produzir etanol nos EUA, a partir de celulose. Segundo: importar etanol.  

Produtividade
        O Brasil é parte da solução porém, obviamente, não poderemos expandir indefinidamente a área de cana, produzindo 8.000 L/ha de etanol. Por hipótese, colocar no mercado americano 100 bilhões de litros de etanol significaria expandir 12,5 milhões de ha. No entanto, há outros mercados a atender. Logo, será necessário aumentar a produção de álcool por ha. A melhor saída será produzir álcool de celulose, que pode ser do bagaço ou da palhada de cana, de gramíneas ou de florestas energéticas (eucalipto ou pinus).

 

  Tecnologias
A primeira possibilidade é a hidrólise ácida da celulose, seguida de fermentação. Esta tecnologia já existe em fase comercial e permite produzir pouco mais de 2.000 L de etanol por ton de biomassa seca. O potencial estimado da tecnologia, no médio prazo, é dobrar esta produtividade. A segunda possibilidade é a hidrólise enzimática, seguida de fermentação. O processo é similar ao anterior, apenas a hidrólise da celulose é feita por enzimas e não por ácidos, sendo o rendimento equivalente à hidrólise ácida. Em ambos os casos, os açúcares obtidos são fermentados para produzir álcool. A terceira alternativa é a gaseificação, que pode ser conduzida de duas formas. A gaseificação inicial, que é uma queima parcial para obter gás de síntese (CO e H2), é semelhante para as duas tecnologias. Obtido o gás de síntese, pode-se transformá-lo em etanol através de bactérias bio-engenheiradas, ou através de catalisadores. Por estes processos, é possível obter até 4000 L de etanol/ton de biomassa. Conclusão: quem dominar a tecnologia, dominará o rico mercado de etanol.

 

 

 

Agroenergia e justiça
Décio Luiz Gazzoni

 Recebo um honroso convite para apresentar uma palestra sobre Agroenergia, no 23º Encontro Nacional dos Juízes Federais do Brasil, que se realiza esta semana, no Recife. Pensei muito sobre como abordar o tema junto a Suas Excelências, e não foi muito difícil concluir que a questão técnica não era a mais relevante. O como produzir, onde produzir é muito interessante para outros públicos, porém o momento é propício para discutir temas que possam ser úteis no dia a dia dos magistrados. 

Segurança
Quando participei da elaboração das Diretrizes Nacionais de Agroenergia, exaradas pela Presidência da República, chamei a atenção de um aspecto que, posteriormente se tornaria o centro das atenções, quando o companheiro Morales “descomisou” o patrimônio da Petrobrás e de outras empresas, bem como ameaçou com a desapropriação de terras de investidores estrangeiros. Em ambos os casos houve um apelo do Estado Boliviano para que estes investidores lá aportassem seus capitais, sua capacidade gerencial e suas ligações comerciais. O Brasil não conseguirá tornar-se o líder mundial da Agroenergia sem o aporte de capitais estrangeiros, porque nossa capacidade de poupança interna não nos permite alavancar uma empreitada tão ambiciosa. Para atrair estes capitais, a segurança jurídica (garantia de cumprimento de contratos e garantia patrimonial) é essencial. O tema consta não apenas das Diretrizes da Agroenergia, mas do nosso ordenamento legal e é fundamental o seu respeito para que a imagem de seriedade do Brasil seja ressaltada.
 

Ética
Existem dois debates em curso, em que a questão ética é um tema interveniente. Em um deles, existe uma corrente alegando que, o fato de destinarem-se grandes áreas para a produção de energia significará a redução da oferta de alimentos e o aumento da fome. Não compartilho desta opinião, acho que o problema da fome não é de oferta de alimentos, mas de renda para adquiri-los. Nos próximos 50 anos o Brasil pode incrementar tanto a agricultura de energia quanto a de alimentos, sem conflitos. Outra corrente alega que o aumento da atividade agrícola (energética ou de alimentos) ocorrerá com pesados custos ambientais. Discordo também desta afirmativa. Toda a atividade humana implica em impactos ambientais (positivos ou negativos). Entendo que dispomos de sistemas de produção que permitem mitigar impactos negativos e potencializar os positivos. São estas as discussões que pretendo propor aos nobres magistrados.

 

 

 

Os números da crise
Décio Luiz Gazzoni 

O ex-Ministro Roberto Rodrigues dizia que o agronegócio havia perdido R$26 bilhões na última safra. O total é chocante e eu resolvi fazer os cálculos para ver se chegava a esse valor. Concluí que, se o número não é este, é muito próximo. Consideremos duas premissas: primeiro, o mundo está ávido por produtos agrícolas e, segundo, o Brasil reúne as principais vantagens comparativas para ofertá-los. Nosso pecado foi impedir que estas vantagens se transformassem em competitividade real.   Perda de safra
O primeiro prejuízo pode ser medido pela diferença entre o que deveríamos produzir e o que produzimos. Em 2003 produzimos 123 milhões de toneladas de grãos e estávamos crescendo mais de 8% ao ano. Neste ritmo, em 2006 deveríamos superar 150 milhões de toneladas, ao invés de reduzir para 120, além do fracasso de 2004, de 113 milhões de toneladas. A diferença entre o que produzimos e o potencial do período chega a 80 milhões de toneladas. A um valor médio de 400 reais por tonelada, já saímos perdendo mais de R$ 30 bilhões.
  Outras perdas
A perda mais sentida é a defasagem cambial. Abrimos 2003 com a cotação a R$3,50:US$1,00 e chegamos a 2006 em torno de R$2,10:US$:1,00. Logo os 30 bilhões acima passam a ser R$50 bilhões. Que passariam a um valor maior, se for considerada a queda nas cotações dos produtos agrícolas. Mas fiquemos apenas nos acréscimos de custos internos, pela necessidade de controle da ferrugem da soja (+/- R$150,00/ha), pelo aumento dos custos da terra e dos fertilizantes e pelo aumento do frete, uma vez que a malha rodoviária foi destruída nestes três anos. Coroe com os juros mais altos do mundo. A azeitona da empada fica por conta da voracidade tributária. Mesmo com lucros decrescentes, nosso agronegócio ainda paga os tributos mais elevados do planeta. Insensível à crise, o Governo liberou os recursos de AGF apenas no final de maio passado, deprimindo mais os preços.

O Brasil perdeu

Tudo somado, cerca de R$80 bilhões em 3 anos. Dividido por três, chegamos aos números de Roberto Rodrigues. Multiplicando por 4 (que é o fator de agregação de renda no pós porteira), as perdas do agronegócio, nos últimos 3 anos, ultrapassaram a R$320 bilhões. Isso ajuda a explicar o crescimento pífio do Brasil neste período, apenas superior ao Haiti. Ajuda a explicar o desemprego e a má distribuição de renda. Só resta um consolo: nossos agricultores demonstraram que são muito bons para sobreviver ante tamanha adversidade e que podem se recuperar – quando Dias melhores chegarem.

 

Conferencia Internacional de Agroenergia
Décio Luiz Gazzoni

 

Lembro da visita do Premio Nobel da Paz, Norman Borlaug a Londrina, mas não lembro de outro Premio Nobel por estas paragens. Agora teremos a oportunidade de ver o Premio Nobel de Química de 2003, Allan McDiarmid, durante a Conferencia Internacional de Agroenergia. O Professor da Universidade da Pennsylvania vai discorrer sobre o uso da biomassa para produzir energéticos e bio-produtos – substâncias químicas que podem ser extraídas de plantas, com altíssimo valor de mercado. 

Ignacy Sachs
O Dr. Mc Diarmid não será estrela isolada da Conferencia. O Dr. I. Sachs, professor da Sorbonne e Consultor da FAO falará sobre a revolução energética do século XXI – das energias fósseis às renováveis. Antes dele, abre a Conferencia o Dr. Ghassem Asrar, Diretor do Agricultural Research System dos EUA, falando sobre as inovações que estão saindo dos laboratórios americanos na área de bioenergia. De um cientista do mesmo instituto será a palestra sobre como agregar valor aos resíduos da cana de açúcar após a produção do álcool.
  Programa intenso
No total serão 20 painéis e 9 conferencias, abordando diferentes facetas das oportunidades de negócios e das novas tecnologias da agricultura de energia, o filão emergente do agronegócio mundial. Teremos um cientista canadense falando das oportunidades de cultivo de canola e um argentino apontando as oportunidades do girassol. Um cientista do Departamento de Energia dos EUA discutirá os cenários da demanda de energia mundial para os próximos anos, destacando onde estão as oportunidades para a energia que vem do campo. O Dr. Mendehlssohn, da Universidade de Yale, apresentará estudos sobre os impactos das mudanças climáticas na agricultura brasileira e as medidas para sua mitigação.
 

Filão de oportunidades
A Agroenergia deverá ser o segmento do agronegócio que movimentará o maior volume de recursos no comércio internacional, nas próximas décadas. Apenas para conferir alguns números, a produção de álcool no mundo deve saltar dos atuais 35 bilhões de litros para mais de 100 bilhões, ao longo da próxima década. Até 2020, as estimativas são de produção de 140 bilhões de litros de biodiesel. Apenas estes dois produtos energéticos devem movimentar 200 bilhões de dólares anuais e o Brasil é o grande candidato a ocupar o maior quinhão do mercado.

 

 

 A Conferencia acontecerá aqui em Londrina, de 11 a 13 de dezembro, no Hotel Sumatra. As inscrições podem ser feitas pelo site www.pjeventos.com.br

 

CONAE
Décio Luiz Gazzoni
 

Volto ao tema da Conferencia Internacional de Agroenergia, que inicia na próxima segunda feira em Londrina. Trata-se de uma oportunidade ímpar para investidores, produtores, industriais, professores, cientistas e estudantes tomarem contato com a realidade atual e com os cenários futuros da Agroenergia no Brasil e no mundo.

 

Plano
Na terça feira o Ministro Luiz Carlos Guedes Pinto, da Agricultura, apresenta a versão definitiva do Plano Nacional de Agroenergia (aliás, gestado em Londrina!). O Plano aponta os caminhos para os agricultores e agroindustriais brasileiros amealharem parcela substancial do mercado de biocombustiveis, no comércio internacional. Antes dele, na noite de segunda, a Ministra Dilma Roussef discorre sobre a Política Energética Brasileira, um balizador para os investimentos no agronegócio.

 

 

  Mercado de Carbono
Um dos painéis que mais tem chamado a atenção abordará o mercado de carbono, uma oportunidade ímpar de captação de recursos para investimento em Agroenergia, a partir dos fundos oriundos dos países ricos (e poluidores). Quem tiver interesse em saber como se comportam os motores usando biodiesel ou óleo vegetal puro, terão a oportunidade de ver as pesquisas mais recentes no setor. E o Dr. Henry Joseph, da ANFAVEA, vai discorrer sobre a política da indústria automobilística em relação ao desenvolvimento de veículos que utilizem biocombustíveis. Se o seu interesse se concentrar nas pesquisas que a Embrapa está desenvolvendo com matérias primas para produção de álcool, biodiesel e derivados florestais, haverá um painel específico sobre o tema.
  Mercado de Carbono
Um dos painéis que mais tem chamado a atenção abordará o mercado de carbono, uma oportunidade ímpar de captação de recursos para investimento em Agroenergia, a partir dos fundos oriundos dos países ricos (e poluidores). Quem tiver interesse em saber como se comportam os motores usando biodiesel ou óleo vegetal puro, terão a oportunidade de ver as pesquisas mais recentes no setor. E o Dr. Henry Joseph, da ANFAVEA, vai discorrer sobre a política da indústria automobilística em relação ao desenvolvimento de veículos que utilizem biocombustíveis. Se o seu interesse se concentrar nas pesquisas que a Embrapa está desenvolvendo com matérias primas para produção de álcool, biodiesel e derivados florestais, haverá um painel específico sobre o tema.

 

Co-produtos

Extraído o óleo ou o álcool, ainda sobra biomassa. Cinco cientistas vão mostrar as tecnologias disponíveis para transformar esta biomassa em produtos comercializáveis, através da agregação de valor. Se o seu negócio é produzir biodiesel em pequena escala, para a sua propriedade ou para um consórcio de produtores, a Embrapa e a UnB estarão apresentando um protótipo em desenvolvimento para atender este mercado. Se o leitor está procurando um nicho de investimento no setor, o ex-ministro Alysson Paulinelli abordará as fronteiras de expansão da Agroenergia no Brasil, no futuro próximo. E o ex-presidente da Embrapa, Eliseu Alves, discutirá o conflito entre produzir alimentos ou energia.

 

A Conferencia acontecerá aqui em Londrina, de 11 a 13 de dezembro, no Hotel Sumatra. As inscrições (se ainda houver disponibilidade) podem ser feitas pelo site www.pjeventos.com.br

 

CONAE – Capítulo Final
Décio Luiz Gazzoni 

Londrina já sediou bons congressos científicos, porém a Conferencia Internacional de Agroenergia que se encerrou ontem se insere no capítulo dos eventos da mais alta qualidade. Foram mais de 70 palestrantes interagindo com mais de 600 participantes, em um nível de discussão elevadíssimo. Impossível sintetizar o resultado de 20 painéis e oito conferencias plenárias, que resultaram em mais de 110 horas e discussão de temas científicos, tecnológicos e mercadológicos. 

Óleo vegetal como combustível
Eu gostaria de comentar uma das múltiplas apresentações. Foi uma palestra sobre o impacto do uso de óleo vegetal puro em motores de ciclo diesel, descrevendo um estudo desenvolvido por um pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas. Incitado pelo burburinho crescente de que agricultores estavam misturando óleo vegetal puro (principalmente soja ou girassol) ao diesel, o colega investigou a fundo as implicações desta prática. Em parceria com uma das grandes produtoras de motor de ciclo diesel instalada no Brasil, ele desenvolveu um estudo comparando dois motores. Em um deles, o combustível utilizado era o óleo diesel comum, vendido em bombas. Outro motor foi abastecido com óleo vegetal extraído de girassol, devidamente filtrado para eliminar qualquer impureza.

 

Perigo
O motor operando com óleo diesel completou a seqüência de testes, sem que qualquer problema fosse detectado. O motor utilizando óleo de girassol operou por pouco mais de 60 horas – e parou! O problema detectado foi a excessiva temperatura do óleo lubrificante – mais um pouco e o motor acabaria fundindo. Verificou-se a diluição do óleo lubrificante, depósitos e crostas nos bicos injetores, tampas de cabeçote, câmara de combustão, mancais, etc. Os motores comerciais de ciclo diesel não estão preparados para operar com um combustível com propriedades químicas e físicas tão distantes do petrodiesel, como é o óleo vegetal. Por isso a necessidade das reações químicas para transformar o óleo vegetal em biodiesel, quando o motor passa a operar com os mesmos parâmetros de óleo diesel. O óleo vegetal provoca perda acentuada de potência, maior consumo, depósitos na câmara de combustão, e faz com que a bomba de combustível e a bomba injetora trabalharem em ritmo forçado. Além de jogar na atmosfera quilos de poluentes tóxicos, como dioxina e acroleína. Conclusão: usar óleo vegetal em motores diesel é prejuízo certo para todo mundo.

 

Salários de deputados
Décio Luiz Gazzoni

A princípio parece não haver relação entre o aumento de 91% no salário dos parlamentares e o agronegócio. Espero convencer o leitor do oposto. Em primeiro lugar, lembre que os parlamentares, ao contrário dos demais brasileiros, não recebem apenas 13 salários anuais. Tem o 14º., a convocação extraordinária de duas vezes ao ano, etc. Além disso, existe uma série de outras verbas vinculadas que, somadas, ultrapassam o valor de R$100.000,00 mensais. Mas fiquemos apenas no vencimento, um total estimado de R$360.000,00 por ano. O aumento concedido aos parlamentares federais repercute nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Tudo somado, estima-se que a repercussão atinja alguns bilhões de reais.   Significado
Este montante adicional significa mais de 40% de tudo o que o Governo gasta com a polêmica bolsa família. Significa que o Congresso sozinho tem orçamento maior que muitos ministérios. Significa que alguém vai pagar a conta. Como o dinheiro não tem o dom da auto-reprodução, significa que vem aí mais imposto para tapar o rombo do orçamento público. Significa que a dívida pública vai aumentar, o que pode voltar a elevar juros. Significa que sairá dinheiro de algum lugar, tanto para pagar os super-salários quanto os juros da dívida que aumentará. Ora, mais impostos, mais juros e menos recursos para a sanidade agropecuária, para a pesquisa, para o financiamento da produção e da comercialização é o preço que o agronegócio vai pagar para que “não haja fuga de cérebros do Congresso!”.
  Culpa
Como mote para reflexão de Natal, faço a seguinte provocação: os menos culpados nesta história toda são os deputados e os senadores. Eles não mentiram, não enganaram ninguém, são as mesmas pessoas, com o mesmo caráter e comportamento que demonstraram ao longo dos últimos 4 anos. Qual foi o recado das urnas: continuem assim, estamos gostando de vocês! Nós eleitores não nos importamos se faltarem recursos para educação, saúde, transporte ou segurança. Mensalão, sanguessuga, dossiês falsos e incompetência não nos afetam. Portanto, antes de, precipitadamente, culpar os parlamentares pelo aumento nos vencimentos, seria interessante analisar o sinal que foi enviado pelos eleitores nas últimas eleições. Nós, eleitores, avalizamos o comportamento anterior e assinamos um cheque em branco para que a coisa continuasse do mesmo jeito no futuro. Se depois desta reflexão ainda for possível, desejo a todos um Feliz Natal.

Mudanças climáticas
Décio Luiz Gazzoni
 

Uma das palestras mais interessantes da Conferencia Internacional de Agroenergia, realizada em Londrina, foi apresentada pelo Dr. Eduardo Assad, e tratou do impacto do aumento da temperatura terrestre sobre o agronegócio. O Dr. Assad mostrou os resultados de seu modelo matemático, indicando como a área disponível para agricultura, com baixo risco, diminui com o aumento da temperatura média. Projetando seus dados para o mundo, verificou que, até a metade do século, a produção agrícola mundial poderia cair cerca de 40%, se o ritmo de elevação da concentração de gás carbônico na atmosfera continuar subindo na mesma taxa que ocorre atualmente.

 

Combustíveis fósseis
Hoje ninguém mais duvida que o petróleo, o carvão e o gás natural são os grandes responsáveis pela elevação da concentração de gás carbônico na atmosfera. Ocorre que se trata de um depósito de carbono que a Natureza imobilizou no subsolo há centenas de milhares de anos. Após essa imobilização, estabilizou-se a composição química da atmosfera, regulando a temperatura do planeta. Mas, nos últimos 50 anos, a sociedade global decidiu extrair todo este petróleo e carvão das profundezas e queimá-lo nos carros e nas termoelétricas. Resultado: saturamos a atmosfera com gases de efeito estufa, impedindo que parte do calor que chega do sol retorne para as camadas altas da atmosfera.
  Mudanças
Os cientistas estimam que a temperatura da Terra subirá entre 1,4oC e 5,8oC., no decorrer deste século. No pior cenário, as perdas com as principais culturas (arroz, feijão, soja, milho, etc) serão catastróficas, suficientes para prever um período longo de baixa oferta de alimentos – logo de preços elevados. Apenas no caso do café, as estimativas são de queda entre 23% e 92%. Nosso principal produto, a soja, teria reduções de produção variáveis entre 10% a 64%. Como referencia, lembremo-nos que, em 2006, o Brasil deverá exportar US$9 bilhões em soja e US$3bilhoes em café.
  O que fazer?
Já está ficando tarde para qualquer iniciativa. Nada mais poderá ser feito para evitar, totalmente, o desastre. Podemos mitigá-lo, se iniciarmos já, em janeiro de 2007, um amplo programa de poupança de energia, reciclagem e substituição de fontes fósseis. O Governo inglês estima que um programa desta ordem custará 1% do PIB mundial, nos próximos 100 anos – apenas para mitigar os efeitos deletérios. O que você pode fazer: use menos combustíveis fósseis para ter um Feliz 2007. E para que os próximos anos também sejam felizes.

 

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