Espetáculo do crescimento I

Décio Luiz Gazzoni

 

Há quatro anos nos foi prometido o espetáculo do crescimento, que ficou no espetáculo do discurso. O número mágico do espetáculo: 10 milhões de novos empregos formais. Ficou em uma percentagem do total, a maior parte formalização de postos de trabalho já existentes, com o nível de desemprego estabilizado. Nosso crescimento ficou abaixo da média mundial, da média dos emergentes e, na América Latina, superamos apenas o Haiti. O novo espetáculo do crescimento tem outro número cabalístico: 5% ao ano. Analisemos porque não crescemos no passado, e a real probabilidade de crescimento no futuro.

 

Mundo

O mundo globalizado vive, há 5 anos, um período de efusivo crescimento, sem paralelo na História da Humanidade. China, crescendo consistentemente a 10% ao ano, seguida de perto pela Índia; Argentina, crescendo 44% no período (contra 10% do Brasil), após uma queda de 15% no PIB, devido ao maior calote da dívida pública, em todos os tempos. Portanto, as razões para o baixo crescimento do Brasil repousam, exclusivamente, nos fatores internos. Ressalte-se que perdemos a locomotiva do passado recente, que pode não passar novamente neste e nos próximos anos.

 

Impostos

Qualquer estudioso sério concorda que um dos principais entraves ao crescimento sustentado do Brasil é a elevada carga tributária. Eventualmente, alçamos um “vôo de galinha”, para logo retrocedermos, pois faltam os fundamentos para um crescimento sustentável. Há 10 anos a pressão tributária sobre o PIB era de 26%, hoje é de 40%. – e continua crescendo! De cada 100 reais gerados na economia brasileira, os governos drenam R$40, que não retornam integralmente em investimentos sociais ou produtivos, perdendo-se no conhecido descontrole dos gastos governamentais. Sem olvidar que a estimativa do PIB capta uma parcela ponderável da renda gerada pela economia informal, que não paga impostos. Logo, quem efetivamente paga os tributos é taxado acima dos 40% da pressão tributária (arrecadação de impostos dividida pelo PIB), como os assalariados ou as empresas sérias e honestas.

 

Juros

Nos últimos 4 anos pagamos os juros mais altos do planeta. Nada indica que alguma coisa vá mudar nos próximos 4 anos. O corolário dos juros altos é que, além do tomador privado pagá-los, a dívida pública cresce continuamente, como fruto dos juros altos. A sociedade paga esta dívida através de mais impostos, de menos serviços (ou de mais baixa qualidade), ou da supressão dos investimentos – o tal do superávit primário para pagamento do serviço da dívida. A análise prossegue na próxima semana.

  

 

Espetáculo do crescimento II

Décio Luiz Gazzoni

 

Não apenas tributos e juros elevados entravam nosso crescimento, há o real supervalorizado, que atravanca as exportações (mais indústrias, mais empregos, mais renda) e facilita a importação de bens de consumo (menos indústrias, menos empregos, menos renda). A elevada taxa de juros (que atraem investimentos especulativos estrangeiros) é uma das razões para a supervalorização. A falta de uma política macro-econômica consistente de direcionamento dos superávits do comércio internacional é outra.

 

O apagão logístico

O agronegócio brasileiro estacionou há alguns anos, acompanhando a paradeira da economia brasileira. Com o agronegócio a pleno vapor, não haveria estradas para transportar a produção, armazéns para estocá-la, energia para processá-la e portos para exportá-la. Nossas estradas estão completamente esburacadas, ameaçando o patrimônio e a vida dos que nela trafegam, a ponto de um juiz interditar uma estrada federal para preservar vidas humanas. Investimentos em hidrovias e ferrovias nem pensar. Os portos operam em seu limite. O governo está reconhecendo que cerca de 50% da energia das termoelétricas, especialmente as movidas a gás, não existe a não ser no papel. Como as hidroelétricas não saem do papel, o Brasil não pode nem pensar em crescer acima dos ridículos 2-3% dos últimos anos, pois corre o risco de um apagão energético. Como arrisca aumentar a produção agrícola e não ter como transportá-la, armazená-la ou exportá-la.

 

Tecnologia

A taxa de investimento em novas tecnologias é muito baixa no Brasil, o que nos torna dependentes de tecnologia alienígena – que leva parte dos lucros da produção, através dos roialties. Na área agrícola, o orçamento dos institutos de pesquisa diminuiu consistentemente, nos últimos anos, enquanto proporção do PIB do agronegócio. Isto significa que, quando o agricultor necessitar de inovações mais rentáveis ou que reduzam seus custos, para aumentar sua competitividade, elas não estarão disponíveis.

 

 

Resumo

Sem temer a falta de originalidade - nem foi nossa pretensão - é absolutamente inviável pensar em crescimento de 5% ao ano sem reduzir, fortemente, juros e impostos; sem corrigir a defasagem cambial; sem pesados investimentos em logística e infra-estrutura; sem políticas industrial e agrícola coerentes; e sem investimentos maciços em tecnologia agrícola e formação de recursos humanos.

 

 

 

 

Apocalipse now?

Décio Luiz Gazzoni

 

Escrevo de Paris, onde participo da Reunião do Painel de Energias Renováveis da Academia Internacional de Ciências, da qual sou membro. Somos 15 cientistas dos cinco continentes, convidados a analisar a situação atual e propor medidas para incrementar o uso de energias renováveis. Como não poderia deixar de ser, um dos principais temas das reuniões e dos intervalos é a bagunça climática que está tomando conta do mundo. Nossa geração conseguiu, em menos de 20 anos, perpetrar mudanças climáticas que a Natureza costuma demorar milênios para efetuar. Nossos agricultores estão sentindo na carne os efeitos do clima alterado, ora com secas prolongadas, ora com inundações.

 

Câmbios climáticos

Nessa época do ano, Paris costumava mostrar uma de suas faces mais charmosas, estendendo o tapete branco da neve pelas ruas, calçadas e telhados, convidando para o fondue de fromage regado a vinho. Quem conhece a Cidade Luz sabe que ela secularmente está preparada para o frio. É só olhar o forte ângulo dos telhados, desenhados para escorrer o excesso de neve. Pois aqui está fazendo cálidos 12oC, mistura de heresia e decepção. Não apenas Paris, mas a Europa e até a costa Leste dos EUA estão com temperaturas altíssimas para esta época do ano. Em Moscou, que costuma congelar a -30oC em janeiro, está a +6oC, segundo o meu colega da Academia de Ciências da Rússia. No Central Park, em Nova Iorque, as cerejeiras anteciparam o florescimento de maio para janeiro. Temo que se repita o verão de 2003, quando fui testemunha de uma onda de calor que matou mais de 30.000 europeus.

 

 

 

Clima e Energia

O que clima tem a ver com energia? Tudo! O principal motivo do aquecimento global é o uso intenso de petróleo, gás e carvão, que significam 80% da oferta de energia mundial. A queima destes combustíveis produz os gases de efeito estufa, responsáveis por alterar o clima mundial. Aumenta a temperatura, mais ar condicionado é usado nos países ricos, queimando mais petróleo. Nossa missão na Academia de Ciências é mostrar que existe um cenário alternativo, em que o mundo possa, progressivamente, livrar-se do vício do petróleo e similares, reduzindo o impacto sobre o clima. Para tanto, excita-se a criatividade dos cientistas para encontrar novas fontes de energia. Uma das que estamos discutindo é particularmente excitante: bactérias geradoras de energia elétrica. Voltaremos ao tema em breve.

 

 

Mercado de Biodiesel

Décio Luiz Gazzoni

 

Ao apagar das luzes de 2006, o governo sacramentou a intenção de antecipar de 2012 para 2010 a obrigatoriedade da mistura de 5% de biodiesel no petrodiesel. Também está em estudo a antecipação para julho deste ano a obrigatoriedade da mistura de 2%. As distribuidoras de combustíveis anunciam investimentos superiores a R$ 200 milhões, na disputa pelo mercado. A pioneira (BR Distribuidora) já anuncia lucros com a venda da mistura de petrodiesel e biodiesel.

 

Novos mercados

A Petrobrás firmou contrato com a Viação Itaim Paulista, fornecendo B30 para os 1900 ônibus da empresa (6 milhões de litros por mês). A Petrobrás também negocia o B30 para outras frotas em Belo Horizonte e Recife, devido ao crescente interesse dos frotistas em operar com um combustível de menor impacto ambiental. Na mesma linha segue a Companhia Vale do Rio Doce, que pretende operar com biodiesel a sua frota e as suas 35 termelétricas. No momento a Petrobrás se vale dos estoques adquiridos em leilões, que superam a necessidade da empresa para formular o B2. Porém, no curto prazo, a companhia deverá ingressar como forte compradora no mercado, tendo em vista o crescente interesse do mercado corporativo no biodiesel.

 

Números

O biodiesel provém de 16 usinas em funcionamento, com capacidade de 532 milhões de litros. De imediato, 4 novas usinas entram em operação, expandindo a capacidade para 800 milhões de litros. Não por coincidência, este é o número cabalístico do mercado cativo de B2 para 2008 e esta é uma das razões para que a obrigatoriedade seja antecipada para 2007. No varejo, a Petrobrás vende o B2 nos 3.600 postos de sua rede, além de fornecê-lo para 2,2 mil empresas privadas. Em 2006 foram apenas 37 milhões de litros, mas a meta até a metade deste ano é expandir o atendimento para 5.400 postos e 6.000 clientes, com vendas de 35 milhões de litros/mês. A Shell já iniciou a venda de B2 em 135 postos da rede além de 100 grandes consumidores, prevendo, para 2007, vender 60 milhões de litros de biodiesel. A Ipiranga e a AleSat também ingressaram no mercado, sendo que a última implanta sua própria usina com capacidade de produzir 114 milhões de litros.

 

 

Matéria prima

No final da cadeia os negócios estão avançando de vento em popa. Mas, e na produção de matéria prima, estamos preparados para ofertar todo o óleo demandado? Conseguiremos expandir a produção de oleaginosas? Este é o assunto das duas próximas colunas.

 

Uma locomotiva apitando I

Décio Luiz Gazzoni

 

Não apenas apitando na porta do Brasil, como estendendo um tapete vermelho e nos forçando a embarcar na composição. A dúvida é se conseguiremos embarcar. O mundo inteiro busca energias renováveis, onde se inclui a agroenergia, projetando um mercado fortemente comprador, no médio e no longo prazos.

 

Quatro mercados

Nota-se, com clareza, quatro grandes vertentes no mercado de biodiesel: (i) o mercado das políticas mandatórias, que cria uma reserva equivalente ao percentual de adição do biodiesel ao petrodiesel. No Brasil, é estimado em 800 milhões de litros em 2008 e em 2,2 bilhões em 2010. No mundo, mais de 70 países exararam legislação impondo a mistura compulsória e outros o farão brevemente; (ii) o mercado corporativo, em que empresas buscam um ganho de imagem pelo uso de combustível limpo; (iii) o mercado concorrencial, em que as distribuidoras oferecem o produto além das imposições das políticas mandatórias, e (iv) o mercado de auto-abastecimento, em que produtores rurais ou frotistas produzem seu próprio biodiesel. É difícil estimar o tamanho real do mercado para os próximos anos. A variável diretriz mais importante será a reação da opinião pública às mudanças climáticas globais e o suporte às corporações que investirem em combustíveis menos poluentes.

 

Suporte

Pelo andar da carruagem, ao menos nos países desenvolvidos, este suporte será muito grande. A amostra é pequena, porém um fato chamou minha atenção em um workshop do qual participei, em Amsterdam. O diretor de uma empresa de energia relatou haver no seu site na Internet a opção para que o consumidor decidisse o “mix” de fontes de energia elétrica que pretendia receber. O consumidor ingressava com o número de conta de energia e deslizava uma chave, escolhendo qualquer valor entre 100% de energia produzida com óleo diesel a 100% de biomassa. Resultado: em pouco mais de 30 dias foi obrigado a retirar a opção do site, pois não havia mais oferta de geradoras de energia elétrica que utilizassem biomassa. Este pequeno exemplo indica a importância que o consumidor, que também é um cidadão, confere à necessidade de produzir energias limpas. Outro exemplo vem dos postos de biodiesel B100, que se multiplicam pela Alemanha, com um mercado claramente comprador. O Brasil vai aproveitar esta oportunidade? Discutiremos o tema na próxima semana.

Uma locomotiva apitando II

Décio Luiz Gazzoni

 

Somente com as políticas mandatórias dos países grandes consumidores de diesel, a demanda superará a 33 bilhões de litros de biodiesel, em 2010. A UE precisará 13-14 bilhões de litros. Para o início da década de 20, a oferta de óleo vegetal precisará crescer 160%, para atender a demanda nutricional e de biodiesel para mistura compulsória ao diesel.

 

Onde produzir?

Nos próximos 5 anos, esgota-se a área do Hemisfério Norte, em especial da UE e dos EUA. China, Índia, Japão e outros grandes consumidores de energia não têm área para expansão. Os grandes produtores de dendê (Malásia, Tailândia e Indonésia) atingirão seu limite na próxima década. Esqueça a Austrália e a África ainda tem um longo caminho pela frente até tornar-se um ambiente favorável a grandes negócios. A Argentina esgota sua área de expansão em 20 anos, o Paraguai antes disto. A Bolívia não receberá investimentos internacionais para expandir sua produção, nos próximos 15 anos, até que a imagem negativa de agressão ao patrimônio privado e descumprimento de contratos desapareça.

 

Brasil

Aqui há área para expandir nos próximos 50 anos, tem sol, água, agricultores, empresários e tecnologia, desde que consigamos: (i) reduzir a tremenda carga tributária; (ii) reduzir a excessiva taxa de juros; (iii) disponibilizar crédito no volume e momentos adequados e em modelos compatíveis com o risco e com a maturação dos empreendimentos; (iv) adequar a taxa de câmbio, para estimular a exportação; (v) garantir a segurança patrimonial da propriedade privada e a consistência e longevidade do arcabouço jurídico; (vi) dispor de políticas agrícola, industrial e de exportação que permitam agregar valor aos produtos; (vii) formar mão de obra especializada, e; (viii) suportar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias, para que o país sempre esteja na fronteira do conhecimento, em condições de competir com vantagens sobre os concorrentes.

 

Embarque

Cumprida a lição de casa é só embarcar na composição que nos espera com dezenas de bilhões de dólares em negócios na área de agroenergia, gerando milhões de empregos no interior do país, aumentando a renda e provocando melhor distribuição da mesma, oferecendo oportunidades aos jovens, consequentemente reduzindo os índices de criminalidade do país. O Brasil vai embarcar neste trem? Só depende de nossas autoridades e lideranças.

 

 

 

 

Eletricidade de biomassa

Décio Luiz Gazzoni

 

Vem mudanças importantes na área energética. Já utilizamos combustão direta da biomassa em caldeiras, com produção de 40 GWh, em unidades com potência média de 20 MW. A combustão direta pode chegar ao custo de US$0,042/kWh, com redução do preço da biomassa, e com alguns avanços tecnológicos. Mas surgem novas tecnologias, como a combustão de biomassa/carvão, com até 10-15% de madeira, além da gaseificação da biomassa e uso do gás em ciclos combinados. Considerando a evolução nos custos internacionais de biomassa e da tecnologia, as projeções futuras indicam que, em 2030, o custo poderá cair para US$ 1100/kW, equivalente a US$0,04/ kWh. Uma termoelétrica em construção na Bahia, utilizando madeira (com custo abaixo de US$ 1,5/GJ) e potência instalada de 32 MWe, terá 37% de eficiência elétrica líquida, com custo de US$ 2500/kWe. Isto significa uma redução de 40% em relação ao custo vigente no Hemisfério Norte.  

Ciclos a vapor

Os sistemas utilizados no Brasil são predominantemente ciclos a vapor (queima direta) em co-geração nas indústrias de cana e papel/celulose. As usinas de cana-de-açúcar passam hoje por uma transição, evoluindo de sistemas a vapor de baixa pressão (até 20 bar) para sistemas a alta pressão (até 80 bar), permitindo ir além da auto-suficiência, gerando energia elétrica para venda ao sistema interligado. Os sistemas de queima direta poderão gerar até 2,4-2,7 GW por ano, se usarem cerca de 25% da palha em adição ao bagaço (ou até 3,4 GW, com 40% de palha). No setor de papel e celulose, usando a lixívia negra, cavacos e cascas de madeira, a indústria se auto-abastece. Dos outros resíduos agrícolas, apenas os referentes a arroz e trigo tem um potencial de até 450 MW. Resíduos de produção madeireira são utilizáveis em unidades relativamente pequenas, com potência estimada de 400- 800 MW.

 

Gaseificação

As tecnologias de gaseificação estão em desenvolvimento no país desde o início dos anos 90, destacando-se dois projetos. Um deles é a uma central operando com madeira e gaseificador de leito circulante; outro é o desenvolvimento de tecnologia para integração do sistema de gaseificação a uma usina de açúcar no Brasil. São projetos embrionários, pioneiros, mas que apontam para um futuro em que, cada vez mais o Brasil esquecerá as termoelétricas movidas a carvão mineral e a petróleo para o uso de biomassa.

 

 

Eletricidade de resíduos

Décio Luiz Gazzoni

 

Nos últimos quatro anos, três fatos, relacionados ao etanol combustível, chamaram a atenção da sociedade. O primeiro foi a retomada do programa de álcool combustível, em banho maria desde os erros da década de 90, o que havia minado a confiança do consumidor. O segundo foi o salto tecnológico dos carros bi-combustível, que eliminaram essa desconfiança. O terceiro fato contraria o ex-Ministro Palocci, que afirmara que o Governo cometeria erros novos: novamente repetiu um erro antigo. O mesmo erro de Sarney/Collor, ao não perceber que as mudanças tecnológicas alterariam a oferta e procura do álcool combustível, exigindo estratégias para garantir o abastecimento.

 

Aproveitamento

Apesar do governo, a indústria de álcool se moderniza. O álcool obtido da cana-de-açúcar representa um terço do potencial energético da planta, estando o restante na palhada e no bagaço, com potencial de dobrar a energia obtida pela produção do álcool. Estima-se que a co-geração respondeu por 3,6% da energia elétrica produzida no Brasil entre 1985 e 1992 e vem ganhando espaço maior nos últimos tempos. Até recentemente, na indústria sucro-alcooleira, o bagaço, era utilizado para geração de calor, substituindo a lenha. Atualmente, o bagaço é utilizado para gerar vapor, o qual produz calor, eletricidade ou tração. O aumento do preço do petróleo tornou mais atraente a utilização do bagaço para co-geração de energia. Como ainda estamos no alvorecer do processo, existe um grande espaço de melhoria tecnológica para maximizar a eficiência da co-geração.

 

Matriz energética

Segundo o Balanço Energético Nacional, a participação da biomassa na matriz energética brasileira é de 27%, usando lenha e de carvão vegetal (11,9%), bagaço de cana-de-açúcar (12,6%) e outros (2,5%). De acordo com a ANEEL, o potencial autorizado para empreendimentos de geração de energia elétrica de biomassa é de 1.376,5 MW. Destes refira-se o uso do bagaço de cana-de-açúcar (1.198,2 MW), resíduos de madeira (41,2 MW), biogás ou gás de aterro (20 MW) e licor negro (117,1 MW). Em 2005, três novas centrais geradoras (bagaço de cana) entraram em operação comercial no País, com potencia de 59,44 MW. Projeções da Agência Internacional de Energia indicam que o peso relativo da biomassa (incluindo resíduos) na geração mundial de eletricidade deverá passar de 10 TWh, em 1995, para 27 TWh em 2020. Portanto, ao dirigir um carro bicombustível, lembre que, da cana-de-açúcar, além de álcool, também se produz eletricidade.

 

 

 

Comércio Exterior

Décio Luiz Gazzoni

 

Não basta dispor do termômetro, é necessário saber interpretar a temperatura do paciente. Febre de 38º.C é bom se baixou de 40º.C, ou ruim se subiu de 36º.C. Mais que o saldo de US$46 bilhões no comércio exterior, em 2006, seu contexto é importante. As exportações cresceram 16% em valor, porém o volume exportado aumentou apenas 3,8%. O maior valor deveu-se ao aumento da cotação das principais comodities. Poder-se-ia argumentar maior exportação de manufaturados, porém estes cresceram apenas 3,3%. Aí vem o contexto: Qual foi o crescimento real do volume exportado pelo mundo? Foi de 9,4%. E dos países em desenvolvimento? Subiu 10,8%.  

Trem

Assim como no crescimento do PIB, também nas exportações perdemos o trem da História, que foi aproveitado por outros países. A perda de fôlego é evidente, pois no triênio 2003-2005, o volume exportado cresceu 14% (19% de manufaturados), sendo este crescimento devido em parte à “herança maldita” do governo anterior (medidas de incentivo à exportação), e em parte pela orgia compradora da Ásia. Os chineses continuam comprando, o Brasil é que está desacelerando as exportações, pela taxa de câmbio defasada.

 

 

Importação

Confirma-se o problema cambial examinando as importações. Elas aumentaram 8% nos países ricos e 13% nos emergentes. Já o Brasil foi atropelado pelo crescimento de 24%, quase 10 vezes o crescimento do PIB. A maior parte das importações é de bens de consumo, ou seja, estamos transferindo a outros países riqueza e empregos, que o IBGE estima em 1% do PIB. A combinação perversa entre juros altos, impostos mais altos ainda e real supervalorizado é veneno para matar hipopótamo. Parte da recuperação econômica da Argentina ocorre por conta dos erros do Brasil que, com sua tributação maluca, permite que o vizinho compre soja em draw back, apenas para processar e re-exportar em seguida. Lá ficam bilhões de dólares em renda e milhares de empregos. Os setores calçadista e têxtil estão se mudando de mala, cuia e empregos para países com juros, câmbio e tributos mais favoráveis. Como a China!

  

Câmbio

Já vimos esta novela em anos passados. Câmbio valorizado é como carro sem combustível na subida. Vai até um ponto e volta de ré. Voltar significa crise cambial, fuga de reservas, juros mais altos e dependência de capitais estrangeiros de curto prazo. Significa, sobretudo, baixo crescimento e desemprego. O busílis do problema é a coragem e a capacidade para enfrentá-lo e corrigi-lo.

 

 

Uma verdade inconveniente

Décio Luiz Gazzoni

 

Escrevo de Buenos Aires onde se realiza o 1° Congreso Americano de Biocombustibles. A estrela do evento é o dublê de ex vice-presidente americano e diretor de cinema, Al Gore. Se o leitor ainda não assistiu “Uma verdade inconveniente”, (Cine Com-tour), faça-o por si, por seus filhos e netos. Al Gore é jornalista por formação e político por vocação. Sua luta para denunciar o despejo de gases de efeito estufa na atmosfera não é recente. Ao contrário, o documentário é auto-biográfico, no sentido de que mostra que, há 50 anos, havia cientistas chamando a atenção para o tema, o que levou Al Gore – então um aluno secundarista – a envolver-se. Talvez, se Jeff Bush não fosse governador da Florida, Al Gore seria o atual presidente dos EUA e muita coisa poderia ser diferente, não apenas para os EUA mas para o mundo. Por exemplo, com Al Gore não haveria a recusa americana de firmar o Tratado de Kyoto e iniciativas para aumentar a participação da energia renovável na matriz energética teriam ocorrido há mais tempo.  

Ameaça

Sofrimento de alguns, bom para os outros. As mudanças climáticas estão mostrando com intensidade cada vez maior a sua face perversa. É acompanhar os últimos 10 anos. Este ano, por exemplo, não havia inverno no Hemisfério Norte até meados de janeiro. Até as cerejeiras do Central Park floriram com 5 meses de antecedência. Em Moscou a temperatura estava 40 graus acima da média histórica. De repente o mundo desabou, e o Hemisfério Norte sofre com nevascas tremendas, com até 2 m de neve nas ruas, temperatura de 40 graus abaixo de zero. Além dos tufões totalmente extemporâneos. É o resultado de 100 anos de consumo exagerado de petróleo e carvão, em especial nos últimos 50.

 

Oportunidade

A nossa oportunidade está na desgraça alheia, pelas vantagens comparativas do Brasil para produzir bioetanol, biodiesel e derivados de madeira. Entretanto, vou insistir muito num ponto. O Brasil é imbatível na produção de biocombustíveis, no paradigma tecnológico atual. Como este será o grande negócio dentro do agronegócio futuro, os países ricos estão despejando bilhões de dólares para desenvolver novos processos de produção de biocombustíveis, que poderão nos jogar para o acostamento da História. Por exemplo, basta um país desenvolver um processo de produção de bioetanol de celulose que nossa produção de álcool vai para o espaço em menos de 10 anos. Fica o alerta para nossas autoridades.

 

  

 

Óleos essenciais

Décio Luiz Gazzoni

 

 

 

Cresce de importância um setor não tradicional do agronegócio, que representará transações de alguns bilhões de dólares, no futuro muito próximo. Falo das plantas que produzem óleos essenciais. Não é por acaso que, há milênios os óleos essenciais compõem as fórmulas dos perfumes. Essas substâncias atuam no sistema límbico, ou seja, aquele local do cérebro onde são controlados os instintos primários e básicos de sexo, sede e fome. O aroma de um perfume lhe trouxe uma lembrança? Não estranhe, pois as experiências de vida se associam ao sistema límbico, de maneira que um aroma permite recuperar, instantaneamente, experiências do passado, que estavam estocadas nos neurônios. Estudos demonstram que, por indução do aroma, recuperamos lembranças registradas no sistema límbico, permitindo terapias para superar medo ou timidez, gerar sensação de sensualidade ou melhorar a auto-estima.  

Efeitos

Os cientistas descobriram que alguns óleos essenciais atuam como calmantes, enquanto outros agem como estimulantes. No relacionamento interpessoal, os calmantes podem reduzir a tensão de um primeiro encontro, gerado pelo nervosismo natural do desconhecido e a ansiedade proveniente do temor do insucesso. A escolha do óleo essencial e sua associação com ocasiões é um dos segredos dos perfumistas. Detalhes que parecem mínimos são levados em consideração, como o local de produção e seu ambiente (clima, solo, vegetação, pragas, etc.). entra a vantagem da produção natural de vegetais com alto teor de óleos essenciais, pois os produtos sintéticos parecem não exercer o efeito desejado, com a mesma intensidade. Está o desafio dos agrônomos que trabalham nos institutos de pesquisa.

 

 

Afrodisíacos

Enquanto a maioria dos óleos essenciais apenas cria um ambiente sensual, sem ação direta e intensa sobre a libido, a outros são atribuídas propriedades afrodisíacas, supostamente por sua atuação bioquímica, ligando-se a receptores hormonais do organismo. Existem registros de que óleos essenciais extraídos da sálvia esclaréia, ilangue-ilangue, rosa e gerânio possuem ação estrogênica. Neste particular, destaca-se a sálvia esclaréia, que possui alto teor do óleo essencial denominado esclareol, onde alguns autores vislumbram potencial no tratamento de desordens menstruais por baixa produção de estrógenos. Conforme as descobertas saem dos laboratórios dos cientistas para os campos e para os locais de manipulação dos perfumes, vai sendo plasmado o negócio de produção de plantas ricas em óleos essenciais, com alto valor agregado.

 

 

 

Energia e desenvolvimento

Décio Luiz Gazzoni

 

Na terça feira passada participei do painel “Novas Tecnologias para Bioenergia", promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da USP. Sem demérito aos demais colegas que compuseram o painel, o que mais me enriqueceu foi a longa conversa em particular com o Prof. Ignacy Sachs, coordenador do painel. O professor Sachs, do alto de seus quase 80 anos, tem a energia de um atleta de 20. Aposentado da Universidade de Paris, encontra tempo para ser professor visitante em diversas universidades ao redor do mundo (a USP entre elas) e atuar como consultor em organizações internacionais, como a FAO. O prof. Sachs é o maior intelectual da moderna esquerda, com uma visão clara da necessidade de atentar para os aspectos sociais e ambientais do desenvolvimento. Conviveu e interagiu com todos os ícones da Economia do séc XX, sendo um repositório das teorias econômicas dos tempos modernos, além de possuir uma mente brilhante quando se trata de desenvolver modelos abstratos e pensar o futuro.

 

Oportunidade

O prof. Sachs visualiza o Brasil como condenado a ser o epicentro da moderna revolução energética, com fulcro em Energia Renovável, em especial aquela obtida da biomassa. Porém, seu olhar é mais abrangente que o mero suprimento de energia. Ele consegue vislumbrar com clareza que esta é uma oportunidade de corrigir vieses de exclusão social, através do aproveitamento energético da biomassa e da obtenção de bioprodutos derivados do “resíduopós extração da energia. Clareza também não lhe falta quando condiciona o fato às políticas públicas que confiram sustentabilidade à geração de renda nos locais de origem das populações rurais, sustando as migrações e abrindo uma janela de oportunidade de melhora da qualidade de vida.

 

Sintonia

Também tenho chamada a atenção para esses aspectos, bem como para outro tema no qual o prof. Sachs e eu concordamos: de nada valem as vantagens comparativas naturais brasileiras para a produção de agroenergia, se não estivermos no estado da arte tecnológico em relação ao resto do mundo. Volto a resgatar um exemplo que utilizei: o Brasil detém, hoje, a melhor tecnologia de produção de etanol de cana do mundo. Entretanto, quando algum país dominar a tecnologia do etanol celulósico enzimático – e o Brasil não dispuser dela – estaremos fadados a assistir a decadência de um dos ramos mais florescentes do nosso agronegócio.

 

 

 

 

Brasil, 2027

Décio Luiz Gazzoni

 

Imagine-se em 2027, lendo uma entrevista com um líder de uma ONG muito ativa na luta contra os transgênicos em 2007, fazendo um mea culpa, assumindo que a luta contra a biotecnologia derivou de uma visão errada, que representou anos de atraso na agropecuária brasileira, com perda de renda e empregos, diminuindo a produção de alimentos e aumentando o custo de produção. “Por nossa culpa, outros países que investiram em biotecnologia, tornaram-se hiper eficientes e abocanharam o mercado do Brasil. Mas, como o Brasil tem a maior área agrícola do mundo, o nosso atraso tecnológico só fez aumentar a fome no mundo”, diria o líder.

 

Futurologia e História

Obviamente, o parágrafo anterior é pura ficção, inspirada na entrevista da Folha de São Paulo (27/3) com Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, e hoje um dos principais defensores da energia nuclear. “Estávamos focados em armas e em guerras nucleares, preocupados com a possibilidade de a civilização e o ambiente serem destruídos pelo holocausto nuclear. Vejo que cometemos um erro ao incluir a energia nuclear como parte disso. Falhamos em distinguir o uso pacífico da tecnologia do destrutivo“. Moore analisa as conseqüências daquela atitude: “Além disso, a preocupação com as mudanças climáticas criou uma situação muito diferente no mundo. Agora queremos reduzir o consumo de combustíveis fósseis, não só pelas mudanças climáticas como pela poluição do ar.” E o mea culpa definitivo “A única forma de reduzir o consumo de combustíveis fósseis de maneira significativa é fazer isso com um programa agressivo de energias renováveis combinado à energia nuclear”. Mein Gott, é o mesmo fundador do Greenpeace, que tão ferozmente combatia o uso pacífico da energia nuclear há 20 anos? “Seria benéfico para o Irã ter energia nuclear, a não ser que o país queira usar essa tecnologia para fins maléficos”. Vade retro Satanás, diria o mesmo Moore, há 20 anos! Veja sua opinião sobre os ambientalistas que não aceitam energia nuclear: “É uma infelicidade. Acredito que eles ainda estão presos a uma mentalidade da Guerra Fria. ... O princípio que devemos adotar é que não podemos banir os usos benéficos de uma tecnologia só porque ela pode ser usada para o mal. Mais de 1 milhão de pessoas já foram mortas na África com um simples facão. Eles limpam o terreno e cortam a madeira, mas ele também pode ser usado para cortar braços de humanos e matá-los”. Agora leia novamente o primeiro parágrafo, imaginando-se em 2027, mas tendo presente os fatos reais de 2007.

 

Nunca antes...

Décio Luiz Gazzoni

 

...na história deste país o sistema de transporte foi tão maltratado quanto nos últimos quatro anos! O caos no transporte aéreo, que paralisou o país no último final de semana, é o retrato de uma tragédia anunciada. Qualquer empresário que observasse o aumento da demanda do seu produto, em níveis superiores a 20% ao ano, saberia da necessidade de ampliar a área de produção e garantir a logística de abastecimento, transporte e distribuição. Ainda mais se fosse monopolista no setor. Pois, desde 2003, o volume de passageiros nos aeroportos cresce à taxas geométricas de 20%, emitindo berros (não apenas sinais) de que a logística dos aeroportos, a grade de vôos e o controle do espaço aéreo precisavam ser adequados. Foram ceifadas mais de 150 vidas no acidente com o Boeing da Gol e mesmo assim não se viu o Governo Federal tomar qualquer providencia. Infelizmente, o desastre continua sendo anunciado. Vergonha das vergonhas foi o vexame de assistir companhias aéreas internacionais suspenderem os vôos para o Brasil, por absoluta desconfiança na capacidade do nosso Governo de resolver o problema, o que acabou sendo corroborado pelas trapalhadas que se seguiram.   ...na história deste país o sistema de transporte foi tão maltratado quanto nos últimos quatro anos! O caos no transporte aéreo, que paralisou o país no último final de semana, é o retrato de uma tragédia anunciada. Qualquer empresário que observasse o aumento da demanda do seu produto, em níveis superiores a 20% ao ano, saberia da necessidade de ampliar a área de produção e garantir a logística de abastecimento, transporte e distribuição. Ainda mais se fosse monopolista no setor. Pois, desde 2003, o volume de passageiros nos aeroportos cresce à taxas geométricas de 20%, emitindo berros (não apenas sinais) de que a logística dos aeroportos, a grade de vôos e o controle do espaço aéreo precisavam ser adequados. Foram ceifadas mais de 150 vidas no acidente com o Boeing da Gol e mesmo assim não se viu o Governo Federal tomar qualquer providencia. Infelizmente, o desastre continua sendo anunciado. Vergonha das vergonhas foi o vexame de assistir companhias aéreas internacionais suspenderem os vôos para o Brasil, por absoluta desconfiança na capacidade do nosso Governo de resolver o problema, o que acabou sendo corroborado pelas trapalhadas que se seguiram.

 

 

Agronegócio

Veja o leitor como será difícil resolver o nó da logística do agronegócio. A crise aérea se alastra há 8 meses, todos os benditos dias as rádios, os jornais e as tvs colocam noticias escabrosas, fazem comentários duros sobe a incapacidade governamental, alertam sobre os riscos crescentes e nenhuma atitude é tomada para solucionar o problema, que ainda vai se arrastar por muito tempo. Aliás, foi tomada uma atitude, sim: a bancada do Governo tenta, denodadamente, sepultar a CPI do caos aéreo. No setor agrícola, não foi tomada uma única medida governamental para impulsionar o transporte fluvial ou ferroviário. Ao contrario, aqui no Paraná diminuiu a oferta de vagões. As estradas, nas principais regiões agrícolas, desapareceram, deixando em seu lugar um enfileirado de buracos que destrói o caminhão e consome o lucro do agricultor. Numa atitude eleitoreira desesperada, há um ano foi lançado uma ridícula operação tapa buracos, que nunca saiu do papel, porque a própria Controladoria da União descobriu que outros buracos iam ser tapados e as estradas continuariam de mal a pior. Parece impossível chegar mais ao rés do chão: quando o país precisa mudar radicalmente sua modal de transporte, para ganhar competitividade, a única coisa que o Governo ofereceu foi tapar buracos criados por sua inação – e sequer isto foi feito.

 

Faltará comida?

Décio Luiz Gazzoni

 

Já ouvi uma centena de vezes a pergunta: com a expansão da Agroenergia, faltará comida? A resposta é: em termos. Não no Brasil dos próximos 50 anos. Aqui Deus nos deu água, terra e sol em abundância. Tecnologia para chegar aonde chegamos nós dispomos, a dúvida é se continuaremos na fronteira do conhecimento nos próximos anos, com a defasagem de investimentos em pesquisa e desenvolvimento entre o Brasil e outros países. Em 2007, estamos plantando 63 milhões de hectares e usamos 220 milhões para pastagens. Descontando florestas, rios, cidades, lugares íngremes, etc., ainda sobra quase 100 milhões para plantar. Entretanto, a área de pastagem vai diminuir muito nos próximos anos. De um lado porque as áreas com pastagens degradadas serão, gradativamente, incorporadas ao sistema produtivo. De outro lado, a lotação de animais por unidade de área está aumentando, o que significa liberar área para lavoura. Finalmente, cada vez mais os agricultores estão utilizando o sistema de integração lavoura/pecuária, que significa uma área extra à agricultura de, no mínimo, 20 milhões de ha por ano.  

Agroenergia

Por mais que se expanda a área de cana e de oleaginosas, nos próximos 30 anos, não faltará terra para produzir comida no Brasil. Se a fome persistir, será por falta de renda para adquirir alimentos, nunca por falta de produção, seja para consumo interno ou para exportação. Imaginemos um cenário extremo, quiçá nunca realizável, de que o Brasil seja convocado para produzir 20 vezes mais álcool do que produz hoje. Considerando que, seguramente, dobraremos a produtividade de álcool por ha em 30 anos, precisaríamos de outros 27 milhões de ha de cana. É só comparar com a disponibilidade acima, para ver a folga que temos. Isto se, neste período não estivermos produzindo etanol celulósico, com um rendimento por unidade de área muito maior que o etanol de cana.

 

 

Alhures

Agora, no que tange a outros países, a resposta é diferente. EUA, Europa e Ásia terão que escolher entre produzir alimentos ou energia. Verifique o leitor que o pequeno aumento da demanda de milho para produzir etanol nos EUA fez disparar o preço do milho, da soja, do trigo, etc., porque não há como expandir a área de milho americana sem diminuir de outros cultivos. Mesmo com cultivares transgênicas, altamente produtivos, o impacto será ponderável. Nestes países, aumentar a produção de energia diminuirá a produção de alimentos.

 

 

 

Credere est videre

Décio Luiz Gazzoni

 

Em uma das ultrajantes esperas em aeroportos, troquei idéias com o meu amigo Jorge Samek, presidente da Itaipu Binacional. Provoquei-o no seguinte: entre as 22h e as 6h, as comportas de Itaipu são abertas, porque diminui a demanda de eletricidade. Porque não aproveitar a energia não gerada para produzir Hidrogênio? Muito se fala na futura Economia de Hidrogênio, porém poucos se dão conta que, para gerar Hidrogênio, é necessário um gasto enorme de energia, tornando sua produção um contra-senso. A menos que a energia seja renovável e muito barata. É o caso de Itaipu durante a madrugada, porque os custos fixos e grande parte dos variáveis já foram absorvidos no preço que pagamos pela energia, logo o custo de gerar energia de madrugada seria marginal.

 

Perspectivas

A geração de Hidrogênio combustível é elegível para receber créditos de carbono para custear suas instalações, o que auxiliaria a viabilizar o negócio e induzir a geração de tecnologia. Ainda não dispomos de tecnologia no estado da arte para produzir e utilizar Hidrogênio em forma corrente e em alta intensidade, devido aos altos custos financeiros e energéticos da produção de Hidrogênio. Porém, se for concebida uma perspectiva real de viabilizar o uso do Hidrogênio, e se forem concedidos os devidos estímulos (especialmente financeiros) às redes de pesquisa, seguramente os problemas tecnológicos serão resolvidos rapidamente. A seqüência de ações que vislumbro para produção de Hidrogênio prevê uma fonte de energia barata (daí a energia da madrugada de Itaipu). Em segundo lugar necessitamos de matéria orgânica (que pode ser biomassa, dejetos ou resíduos da agricultura ou agroindústria), ofertando substâncias ricas em Hidrogênio que, por uma seqüência de reações químicas, libere o Hidrogênio molecular (H2), rendendo como bônus uma plêiade de outros bioprodutos, de interesse da indústria química, farmacêutica ou alimentícia. A produção de Hidrogênio deverá ocorrer de forma distribuída, próximo aos locais de consumo, para evitar o custo de formação de estoque e de transporte, e porque o Hidrogênio é uma molécula tão pequena, que necessita ser armazenada a alta pressão, e que acaba vazando através de paredes metálicas, causando desperdícios. Uma vez consolidado o uso industrial, pode ser estendido para o setor de transporte, inicialmente para frotas cativas e transporte urbano até ser possível expandir para o público em geral. Eis uma nova vertente de futuro para o agronegócio, no ventre da segunda geração de biocombustíveis.

 

 

O dinheiro que vem do esgoto

Décio Luiz Gazzoni

 

Ganhar dinheiro transformando esgoto em adubo só podia ser coisa da Embrapa e a notícia é particularmente auspiciosa hoje, dia em que a Embrapa comemora 35 anos. O lodo de esgoto é um produto estigmatizado, um passivo para as companhias de saneamento. Bem, era, até que o Dr. Jorge Lemainski, pesquisador da Embrapa Cerrados, resolveu fazer limão desta limonada. A parte sólida do esgoto é de apenas 0,01%, mas lembremos que o esgoto se mede em milhões de litros.  A Embrapa está de olho neste potencial há mais de uma década, com excelentes resultados no seu uso como fertilizante para soja, milho, reflorestamento, fruteiras e gramíneas, entre outras plantas.  

Potencial

A coleta de esgotos se restringe a menos de 20% dos municípios, onde vive 50% da população brasileira. Porém, do total coletado, pouco mais da metade é tratado. O resto, infelizmente, vai contaminar os rios. O uso do lodo do esgoto tratado permite transformar passivo ambiental em lucro financeiro. O Dr. Lemainski lembra que o uso do lodo recicla os nutrientes, a maior parte proveniente da agricultura, sem os custos de incineração ou de aterros sanitários. O produto, mais barato, substitui fertilizantes minerais com ganho econômico e de produtividade, ao mesmo tempo em que evita os impactos ambientais decorrentes da queima do lodo na incineração e na concentração de nutrientes em aterros sanitários.

 

 

Vantagens

Os riscos do lodo para o ambiente e à saúde humana são evitados pela aplicação correta da tecnologia e com equipamentos de proteção, para evitar a ação deletéria de microrganismos. Desta forma, centenas de milhares de hectares de cultivos agrícolas poderiam ser fertilizados com o lodo, evitando o despejo nos rios de, aproximadamente, 10 bilhões de litros de esgoto, por dia. Assim, cidades de porte grande e médio, podem se beneficiar, de imediato, da tecnologia desenvolvida pelo Dr. Lemainski. O pesquisador da Embrapa também demonstra a vantagem financeira, pois, para cada real de adubo químico investido na cultura de milho, o retorno financeiro é de R$ 1,48. Por outro lado, para cada real de lodo, o ganho será praticamente dobrado, de aproximadamente R$ 1,90. Os números ficam mais fortes quando se considera que, em geral, são consumidos R$ 800,00 de fertilizante por hectare nessa cultura. Ou seja, se o agricultor investir R$ 800,00 em adubo proveniente do lodo de fertilizante, para adubar o milho, a sua margem na colheita aumenta em R$1520,00. Uma boa idéia para prefeituras e associações de agricultores.

 

 

Co-geração

Décio Luiz Gazzoni

Como atender as novas necessidades de energia que vão surgir? Em princípio, as necessidades sociais podem ser atendidas aumentando a oferta, reduzindo o consumo ou com o emprego de equipamentos mais eficientes. Acontece que o Conselheiro Acácio está solto e toda a mobilização do governo serve para propor expansão da oferta. Terminamos Angra 3? A usina de Madeira é ambientalmente viável, passa pelo Ibama? Aumentamos nossa dependência do gás da Bolívia? O biodiesel da mamona será a redenção do Nordeste? Eis as dúvidas que tiram o sono das autoridades. eficiência energética não comove autoridades e, para o povão, o tema interessa na iminência de uma crise ou quando embarcamos nela.  

Apagão

O fato central é que os números apontam para um descompasso entre a demanda e a produção de energia no final da década (2010). Isto, usando como premissa que o Brasil vai crescer a taxas pífias, como as dos últimos 5 anos. Caso prevaleça a vontade do presidente Lula de elevar o crescimento a 5% ao ano, a falta de investimentos no setor energético (embora falte investimentos em todos os setores de infra-estrutura do Brasil) vai cobrar seu preço. Ou seja, vai faltar energia até antes de 2010, porque o governo brasileiro não investiu no aumento da capacidade energética do Brasil. E, se faltar chuva, pode ser que o apagão venha até em 2008. Uma enorme ironia, quando os que têm boa memória lembram que, no apagão de FHC, Lula deitou e rolou, com críticas violentas e ácidas à falta de previsão, de visão e de investimentos do governo, para falar o mínimo.

 

Cana

A boa notícia: o BNDES abriu financiamento de sistemas de vapor de usinas sucro-alcooleiras para expansão da pressão acima de 60 bar. Os equipamentos das usinas, em geral, têm um terço desta pressão, o que impede que seja maximizado o aproveitamento energético das usinas, inclusive com co-geração de eletricidade para colocação no grid. Embora não haja garantia de que os potenciais sejam de geração de eletricidade sejam integralmente aproveitados, a linha de crédito do BNDES vai fazer com que o setor sucro-alcooleiro reflita sobre a oportunidade, possa entender melhor as regras do novo mercado de energia elétrica e se preparar para os futuros leilões. Por outro lado, o mercado de energia elétrica vai se dar conta das vantagens desta nova energia com menores perdas e que depende pouco dos sistemas de transmissão, pois é gerada perto das cargas, com sazonalidade complementar à da cana, ou seja, o melhor dos mundos.

 

A Energia do Futuro

Décio Luiz Gazzoni

 

Berlin – Escrevo da capital da Alemanha, onde se realiza a XV Conferencia Européia de Biomassa Energética, o mais importante evento global do setor. Após 2 dias de Conferencia, salta à vista o bordão que tenho utilizado: nãovantagem competitiva que resista a uma mudança de paradigma tecnológico. Observo que estamos no limiar de importantes câmbios tecnológicos na agroenergia. E esta mudança se deve ao enorme volume de recursos que os governos e a iniciativa privada estão investindo em pesquisa e desenvolvimento. Durante a Conferência ouço falar em milhões (ou centenas de milhões) de euros ou de dólares.

 

Diferença

O Governo dos EUA investe um bilhão de dólares apenas no desenvolvimento do processo de etanol celulósico - e este valor equivale a dois anos do orçamento total da Embrapa (salários mais custeio)! É por isto que uma tecnologia que, há meros 4 anos era utopia, está se tornando comercial. são diversos empresários que investem no processo, apesar de o break even se situar na paridade com o barril de petróleo a US70,00. Por que um empresário tomaria esta iniciativa? Por dois grandes motivos: primeiro, marcar o terreno e alavancar contratos de grande volume e largo prazo; segundo, porque as biorefinarias também estão se tornando realidade e, em um futuro muito, muito próximo, renderão aos pioneiros eco-empresários energéticos muito mais lucro que o etanol ou o biodiesel. E o que vem as ser uma biorefinaria: é uma refinaria, quase igual à de petróleo, que usa biomassa como matéria prima. Ao invés de petróleo, o insumo é lixo orgânico, restos da agro-indústria, bagaço de cana, resto de poda de frutíferas, serragem, pastagem, palha de arroz, etc.

 

Metas

Os empresários estão começando a se convencer que nunca haverá óleo suficiente para produzir todo o biodiesel ou o bioquerosene que estão sendo demandados pelas políticas públicas e apostam na pirólise de baixa temperatura, usando biomassa como matéria prima, para produzir bio-óleo. Por que esta corrida ao ouro? Porque, depois do discurso de Bush anunciando que os EUA substituirão 20% da gasolina em 2017, a Europa lança o tríplice 20 para 2020: reduzir em 20% a emissão de gases de efeito estufa; substituir 20% dos combustíveis fósseis por biocombustíveis; e aumentar a eficiência energética em 20%. É com tristeza que vejo o quanto o Primeiro Mundo está avançando em tecnologia e que, destarte os discursos do presidente Lula, o Brasil continuará sendo o país de um futuro que nunca chega.

 

Um passo à frente

Décio Luiz Gazzoni

 

Budapeste – Completo a seqüência de contatos científicos após a Alemanha, passando pela Polônia, Áustria e Hungria, à busca de parceiros para desenvolver tecnologia em agroenergia conjuntamente com o Brasil. Tive a oportunidade ímpar de conhecer os programas, os laboratórios, os cientistas e as verbas para pesquisa. Fecho o giro vendo com alegria que se inicia uma nova etapa na relação sociedade-meio ambiente-energia. Mas com tristeza de ver que, uma vez mais, a locomotiva ficou apitando na porta de um país de oportunidades chamado Brasil e nós não soubemos embarcar. Preferimos ficar discursando na plataforma, esperando que ninguém mais embarcasse no trem. Quando vejo que fermentar pentoses derivadas de celulose não é mais problema, sinto que até a nossa pujante lavoura canavieira está sob ameaça.

 

Biomassa para líquidos

O Brasil tem a maior área para expansão agrícola, em todo o mundo.Nossas autoridades nos convenceram que conosco-ninguém-pode, pois esta vantagem seria insuperável. Porém, o Primeiro Mundo, que não teria mais como expandir a área agrícola, descobriu algumas brechas. Uma delas é ativar as áreas que os Governos pagavam para o agricultor não plantar (para não deprimir preços). Outra, identificar toda a biomassa disponível para fins energéticos, que passa de um bilhão de toneladas. A terceira brecha foi investir maciçamente no desenvolvimento tecnológico. Primeiro, produzindo sucedâneos do diesel sem óleo vegetal, com os processos de flash-pirólise e de Fischer-Tropsch (diesel sintético). De repente, o lixo, o esterco e a palhada sem valor, passam a representar um percentual enorme da futura energia da Europa. O outro caminho foi o desenvolvimento de biorefinarias, uma agregação de valor espetacular, que viabiliza economicamente os biocombustíveis. Enquanto isto, os pesquisadores de energia nuclear (incluindo fissão), eólica e solar trabalham 24 horas por dia para antecipar a próxima etapa energética.

 

Europa Oriental

Até países da antiga União Soviética estão saindo rapidamente do seu atraso, como pude ver na Polônia e na Hungria. A União Européia investe bilhões de euros nas Universidades e Institutos, permitindo um equilíbrio nas inovações que saem dos laboratórios do Oriente e do Ocidente, formando redes de P&D que incluem os dois lados. A diferença do fervilhar de pesquisa em Agroenergia entre o eixo Europa/EUA e o Brasil é tão grande, que acho que conseguimos empurrar o futuro brasileiro para a próxima grande oportunidade que aparecer.

 

Plástico de mandioca

Décio Luiz Gazzoni

 

Cientistas da Poli-USP obtiveram um filme plástico, produzido a partir de amido de mandioca e açúcares, baseado em um trabalho pioneiro da UNICAMP. O plástico é biodegradável, comestível, tem propriedades antibacterianas e pode mudar de cor de acordo com o estado de conservação do produto. Por enquanto ainda é coisa de laboratório, mas é uma inovação estimulante. A cada ano, o Brasil consome 4 milhões de toneladas de plástico e apenas 16,5% é reciclado - o restante é poluição para, no mínimo, um século. Além do que, quando acabar o petróleo não vai faltar apenas a gasolina no posto da esquina, mas também o insumo para a indústria petroquímica, como a de plásticos.

 

Vantagens

A primeira vantagem é a ambiental: decreta-se o fim da poluição do lixo plástico. A outra é a redução de uso dos conservantes sintéticos dos alimentos, devido à adição ao plástico de cravo e canela, que são antimicrobianos naturais, o que redunda em maior vida útil do produto na prateleira. Uma terceira vantagem é a indicação de acidez. Segundo os cientistas, muitos alimentos, quando se deterioram, sofrem alterações no pH, que fica mais ácido. Pela suas características, o plástico apresenta cor diferente, de acordo com o pH do produto embalado. Logo, em contato com alimento ácido (deteriorado), o plástico assumirá uma coloração que indicará ao consumidor que o produto não está em condições de consumo. Para a mudança de cor da embalagem, os pesquisadores utilizaram extratos naturais de repolho roxo, uva e cereja. Estes produtos possuem antocianinas, que são substâncias que mudam de cor com o pH. Entre todos, o repolho é o que está se saindo melhor nos testes, mas o uso de resíduos da elaboração de vinho também se mostra animador.

 

Negócios à vista

A quarta vantagem é o impulso que será dado ao cultivo da mandioca, com a abertura de um mercado quase ilimitado, de alto valor agregado. Está aí a oportunidade para estabilizar a produção de mandioca, pela via da regularização do preço, permitindo que o Brasil possa assumir a liderança mundial na sua produção. Lembremo-nos que não é apenas o Brasil que busca um sucedâneo para os plásticos derivados de petróleo. Seguramente, outro grupo de cientistas, em outro país, encontrará outra solução. A vantagem brasileira será sempre o seu custo de produção de mandioca e de cana-de-açúcar, que é imbatível, pelos paradigmas atuais. Logo, abre-se, também, um grande mercado exportador, ampliando as possibilidades de grandes negócios.

 

 

 

 

Agroenergia – o médio prazo

Décio Luiz Gazzoni

 

Como previsto, o surgimento indiscriminado das políticas públicas de mistura de diesel e biodiesel, em diversos países do mundo, está tendo como conseqüência o aumento do preço dos óleos e gorduras, que ficaram cerca de 50% mais caras nos últimos 6 meses. Sem dúvida, tanto biodiesel quanto etanol serão parte importante da estratégia energética dos próximos anos e não se pode condenar governos que buscam formas de incentivar a substituição parcial do petrodiesel por biodiesel. Entretanto, há necessidade de coordenação e busca de alternativas viáveis para a questão. O que se observou, no passado recente, é que cada Governo exarou suas medidas internas – em resposta aos reclamos da sociedade civil – de forma isolada. Como tal, o mercado está entendendo que a demanda física e a demanda projetada de óleos e gorduras está acima da capacidade de oferta do produto, no curto e no médio prazo.  

Maior rendimento

Qualquer solução necessita de muito investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. A primeira grande saída é aumentar a densidade energética por unidade de área, ou seja, produzir mais óleo por hectare. Com culturas anuais como soja, girassol, canola ou mamona é possível extrair, entre 600 e 1500 kg/ha de óleo. Já o dendê, palmácea tropical, produz 5.000 kg/ha, em lavouras comerciais. Considerando os novos materiais genéticos e as pesquisas em andamento, é possível estimar que, no final da próxima década, será possível extrair mais de 10.000kg/ha de óleo de dendê. Outras palmáceas tropicais ou subtropicais, como a macaúba, podem ser parte deste esforço. O único problema é que esta solução depende de pesquisa que vai maturar em 15-20 anos!

 

 Novos processos

Outra alternativa, de maturação mais curta, é desvincular a produção de biodiesel dos óleos vegetais, através de processos como a gaseificação ou a síntese por Fischer-Tropsch. Neste último caso, decompõe-se a matéria orgânica até hidrogênio e monóxido de carbono, reconstruindo-se as moléculas para obter diesel, gasolina, gás ou lubrificantes sintéticos. Para tanto, qualquer biomassa serve como matéria prima. Pode ser lixo orgânico, gordura de esgoto, palha de arroz, serragem, cavaco de madeira, restos de cultura, resíduos de poda de árvores, etc. Ë o caminho que eu percebi que os europeus vão tentar trilhar, para garantir as metas de incremento de bioenergia. É um alerta para o nosso Governo, para que não deixe de investir em novos processos e novas cultivares, para que o Brasil não perca esta grande oportunidade de negócios.

 

O agronegócio do perfume

Décio Luiz Gazzoni

 

O leitor conhece o termo "feromônios"? Trata-se de hormônios externos a um organismo, muito comuns no reino animal. Eles são muito estudados nos insetos, onde foram identificados hormônios sexuais, de atração, de alarme, de trilha, etc. São substâncias químicas voláteis que, quando liberadas por um indivíduo, afetam o comportamento de outros indivíduos da mesma espécie. No caso dos insetos, o feromônio de alarme provoca a dispersão da comunidade (perigo à vista). O feromônio de agregação exerce efeito oposto#agro.

 

Comunicação

Para nós, seres superiores, acostumados à fala e aos sinais, pode parecer esquisito. Porém, os feromônios representam uma forma de comunicação não verbal, e seu estudo vem demonstrando tratar-se de elementos-chave no relacionamento entre indivíduos. Apesar de não serem percebidos conscientemente, os feromônios podem determinarpor exemplo - a escolha do parceiro. Você passou por uma paixão aguda (ou conhece alguém acometido por ela) em que nãoexplicação racional para o fenômeno? Suspeite dos feromônios, pois eles podem ser a explicação para um comportamento diferenciado!

 

Fisiologia

Sabemos que o hipotálamo é um centro olfativo e libera diversos hormônios que passam para a pituitária, induzindo-a a segregar os hormônios que governam e controlam os ciclos sexuais dos mamíferos. Isto permite entender o efeito dos feromônios masculinos sobre o sexo oposto. O efeito dos feromônios sobre as pessoas é tão forte que, em experiências feitas com meninas internas em colégios de freiras, e que manifestavam desarranjos menstruais, estas tiveram uma redução perceptível do distúrbio ao passarem a estudar em colégios onde mantinham contato com meninos. A suspeita dos médicos é que a alteração ocorreu por interferência de um feromônio masculino.

  

Óleos essenciais

 

Existem relatos de uso comercial dos feromônios, em que substâncias exaladas por homens são aspergidas sobre artigos femininos, aumentando, perceptivelmente, suas vendas. Certos óleos essenciais possuem compostos que imitam os feromônios, causando efeito semelhante sobre as pessoas. Alguns exemplos são o aipo, cominho, ylang ylang, jasmins e o benjoim do sião. Como o leitor percebe, existe uma enorme oportunidade de negócio na base desta pirâmide, que permite ocupar o nicho de produção de plantas com alto teor de óleos essenciais, destinadas a perfumaria, que se trata de um mercado caro e altamente remunerador. É um dos agronegócios do futuro.

 

Biodiesel, sebo e tributação

Décio Luiz Gazzoni

 

Nos últimos meses, o preço do sebo bovino nos últimos tem subido consistentemente no Centro Oeste, principal região produtora, alcançando até R$ 1.000,00 a tonelada, para sebo de boa qualidade. A subida chama a atenção pois, até setembro de 2006, a tonelada de sebo valia de R$ 500,00 a R$ 600,00. Em outubro passado, o óleo de soja saltou de R$ 1.000,00 para R$ 1.300,00 por tonelada. os preços relativos acompanharam, e o preço do sebo saltou para R$ 800,00. O que aconteceu? As pequenas usinas, em especial no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que utilizavam óleo de soja, para produzir biodiesel, mudaram para o sebo bovino. Enquanto a oferta era compatível com a demanda, o preço permaneceu razoável. Mas, no inicio deste ano, o preço do sebo subiu de R$ 800,00 para R$ 1.000,00 a tonelada no centro oeste, e a coisa começou a mudar de figura.   Nos últimos meses, o preço do sebo bovino nos últimos tem subido consistentemente no Centro Oeste, principal região produtora, alcançando até R$ 1.000,00 a tonelada, para sebo de boa qualidade. A subida chama a atenção pois, até setembro de 2006, a tonelada de sebo valia de R$ 500,00 a R$ 600,00. Em outubro passado, o óleo de soja saltou de R$ 1.000,00 para R$ 1.300,00 por tonelada. os preços relativos acompanharam, e o preço do sebo saltou para R$ 800,00. O que aconteceu? As pequenas usinas, em especial no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que utilizavam óleo de soja, para produzir biodiesel, mudaram para o sebo bovino. Enquanto a oferta era compatível com a demanda, o preço permaneceu razoável. Mas, no inicio deste ano, o preço do sebo subiu de R$ 800,00 para R$ 1.000,00 a tonelada no centro oeste, e a coisa começou a mudar de figura.  

Sebo x soja

Antes de ser usado como matéria-prima para biodiesel, o sebo da região Centro-Oeste era transportado para o Sudeste para ser industrializado, sendo transformado em produtos de higiene e limpeza. Tínhamos um preço na região produtora e outro preço posto na região Sudeste. A diferença de preço era devida exclusivamente ao frete. Tudo mudou pois, agora, o preço é o mesmo da região sudeste, que o sebo é consumido na região produtora. O mercado do sebo no Brasil existia antes do biodiesel e a lei de oferta e procura ditava o preço pago ao produtor, tendo períodos de preços mais altos, outros mais baixos. Com a chegada do biodiesel  os produtores de sebo viram uma chance de aumentarem seus lucros. que depois de transformado em biodiesel, as usinas agregavam mais de 100% no preço da matéria-prima, porque continuariam vendendo o produto barato? Os produtores de sebo passaram a dividir com as usinas de biodiesel o lucro.

 

 

 

 Impulso

Nos próximos meses o Grupo Bertin, de Lins SP, iniciará suas atividades no setor de biodiesel. A capacidade de produção da usina que está em fase final de construção, será de 100 milhões de litros de biodiesel por ano e utilizará o sebo bovino como principal insumo. Somente esta usina consumirá cerca de 15% de todo o sebo produzido no país. Com isto, consolida-se a tendência do preço do sebo em um patamar elevado, atrelado ao preço do óleo de soja, do biodiesel e do diesel mineral. Ou seja, conforme o mercado de óleos e gorduras muda de nutricional para energético, cada vez mais o preço das fontes de óleos e gorduras tende a se aproximar.

 

Colheita da cana

Décio Luiz Gazzoni

 

Na semana passada proferi uma conferencia em Dourados (MS), sobre as oportunidades da agroenergia. O centro da discussão, com os quase mil ouvintes, foi o avanço da cana na região, que tem tudo para ser um novo pólo tão pujante quanto Ribeirão Preto. Pudera, a cana, remunera o patrimônio em quase 10% ao ano, enquanto a pecuária de corte, tradicional na região, retorna 2,3%. Nada parecido com os 65% de retorno do grande fazendeiro das Alagoas, mas este é um caso único de sucesso no mundo. Com a chegada da cana, inicia a discussão dos problemas que já ocorrem em regiões tradicionais. Mecanizar a colheita da cana-de-açúcar é o futuro – hoje, cerca de 30% das lavouras brasileiras é colhida por máquinas, especialmente em SP. O investimento inicial é de R$500.000,00, porém redunda em eficiência e redução do impacto ambiental, pela eliminação da queima.  

Social x ambiental

Entretanto, essa opção significa desempregar 100 trabalhadores por colhedora. Com máquinas, aumenta-se em muito a produção, pois um trabalhador braçal colhe 7 t/dia, e a máquina pode ultrapassar 800 t/dia. Logo, a mecanização contribui para o aumento do já elevado número de desempregados, sendo a bandeira de movimentos sociais que se preocupam com o impacto dessa mão-de-obra sem trabalho na sociedade. Estima-se em 360.000 cortadores de cana que ficariam desempregados só em S. Paulo. Uma perguntinha: o que o Governo fez para evitar que este exército de trabalhadores seja jogado nas ruas, sem qualificação para outras atividades, sendo condenado à marginalidade?

 

Econômico

O custo de tirar a cana da lavoura e colocá-la na usina é 25% menor quando a cana crua é colhida mecanicamente e cerca de 37% menor quando a cana queimada é colhida mecanicamente, em relação ao corte manual. Já a colheita manual exige queima. Entretanto, a queima da plantação têm conseqüências como a perda da matéria bruta, prejuízos no caso de atraso no corte, aumento de riscos na deterioração da cana, favorecimento da infestação de microorganismos nos colmos, maior dificuldade na purificação e conservação de caldos, destruição dos inimigos naturais de pragas da cana, da matéria orgânica e da micro e/ou macrofauna, poluição atmosférica, além dos riscos de incêndios em áreas de preservação. Sem esquecer que vem aí o etanol celulósico, que usa a palhada para produzir álcool, logo esta não poderá ser queimada. Governo e sociedade precisam resolver, com urgência o conflito entre social, econômico e ambiental na colheita da cana.

 

Biotecnologia, agricultura e saúde

Décio Luiz Gazzoni

 

O futuro dirá quanto tempo, dinheiro e vidas perdemos na discussão estéril sobre soja resistente a herbicidas, enquanto o mundo dava saltos qualitativos incríveis, usando a biotecnologia a serviço da qualidade de vida. O governo anterior (FHC) deixou-se patrulhar com muita tibieza e as amarras da pesquisa apenas foram desatadas no Governo Lula, do mesmo partido que patrulhou o Governo anterior. Aí entraram em cena outros interesses em defesa do obscurantismo científico, enquanto instituições sérias tentam trabalhar. A Embrapa, a UnB, a Unifesp e o Hospital de Apoio de Brasília, desenvolvem plantas e animais transgênicos capazes de produzir o Fator IX, responsável pela coagulação do sangue. Os hemofílicos não produzem essa proteína e são muito suscetíveis a hemorragias, com risco de óbito. Atualmente, os hemofílicos controlam o risco com medicamentos químicos. A esperança está no sucesso da pesquisa, com produtos muito mais baratos, produzidos diretamente no leite dos animais ou em plantas de soja.  

Gênese

A utilização de plantas e animais transgênicos como biofábricas poderá reduzir os custos de produção de medicamentos a até 2% do custo atual. O meu amigo Elíbio Rech é o líder dos estudos que pretendem desenvolver biofábricas para produção do Fator IX de alta qualidade, em larga escala e com custo mais reduzido. A pesquisa com animais é a que está em fase mais avançada, usando camundongos como modelo para experimentos científicos. Vencida essa etapa, podem ser geradas vacas transgênicas que produzam o fator IX diretamente no leite. As plantas de soja contendo o fator IX já foram transformadas geneticamente, mas ainda não foram testadas.

 

 

Teste

O leite dos camundongos transgênicos foi avaliado no Hospital de Apoio de Brasília, com o mesmo equipamento utilizado para testar os medicamentos químicos, com resultados positivos. Confirmada a qualidade e a segurança do produto, serão medicados pacientes portadores de hemofilia para avaliar o efeito de coagulação, comparando com medicamentos químicos. Usando a mesma tecnologia, foram desenvolvidas plantas de soja com anticorpos anti-câncer de mama, que vão auxiliar na prevenção e diagnóstico da doença. A Embrapa também investe no desenvolvimento de alface com gene para combater a diarréia infantil e soja com gene do hormônio de crescimento. Estes são dois exemplos, porém a Embrapa desenvolve um trabalho sistemático de coleta de genes da nossa fauna e flora, com potencial de utilização nas áreas de agricultura e saúde.

 

 

 

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