Agradando a roça!

Décio Luiz Gazzoni

Dedico esta coluna ao Délio César, que em 14/03 escreveu que o Ministro Turra "...anda até agradando a roça!". Seu faro político percebeu que o ministro está se saindo muito bem, onde outros se atolaram. O Ministério da Agricultura é conflagrado, difícil de conduzir, pelas condições e riscos peculiares da agropecuária. Onde é preciso enfrentar com força o protecionismo comercial de países líderes no mundo. Indo para o seu 14o. mês no cargo, é um ministro recordista de permanência e, pelo andar da carruagem, vai completar tranqüilamente seu mandato até 2002. Este gaúcho de fala e jeito mansos, dono de uma convicção e um otimismo que inspiram credibilidade, está se impondo junto ao meio empresarial e político.   Um Ministro sensível
Estivemos em audiência com o Ministro Turra, onde a delegação paranaense capitaneada pelo Secretário Poloni e pelo presidente da FAEP Ágide Meneghetti, composta por mais de 30 líderes políticos e setoriais, prosseguiu a negociação para a declaração do Paraná como zona livre de febre aftosa em 2000. Depois do susto de 1997, quando o Paraná foi separado do circuito pecuário Sul, por não possuir condições sanitárias e estruturais para ser zona livre, em 2 anos o Paraná passou a modelo em sanidade agropecuária, emulado por outros Estados. E o Ministro Turra reafirmou seu compromisso com nosso pleito, olhos postos na competitividade dos agronegócios. Reafirmou, e determinou à sua equipe que assim seja!
  Metas audaciosas
Esta decisão não é isolada. Bom gaúcho, o Ministro não pensa pequeno. Impôs-se ultrapassar 100 milhões de toneladas de grãos, e US$45 bilhões em exportações agropecuárias. Desenvolvimentista nato, com sua capacidade o ministro será peça chave para o Brasil chegar lá. Parecia impossível, mas o Ministro colocou a equipe econômica do Governo em seu Gabinete, e professoralmente, demonstrou que não há saída para o Brasil, no curto prazo, que não passe por um apoio decidido aos agronegócios. Maturação curta e custo baixo, os agronegócios têm o condão de impulsionar já o emprego e a renda. Arrancou de imediato R$115 milhões para a Defesa Agropecuária, e o de acordo para o que deverá ser o maior empréstimo internacional para a área agrícola, já tomado na América Latina, destinado a eliminar entraves à competitividade, alavancando o setor agropecuário rumo à liderança internacional dos agronegócios. Escrevo e assino: o Brasil será outro após a aplicação deste empréstimo.

 

Os instrumentos
Como embrapiano, confesso que explodi de orgulho ao ouvir o carinho que o Ministro tem pela EMBRAPA, seus planos ambiciosos para o Brasil estar na vanguarda tecnológica do mundo. Homem de visão, determinou urgência na criação das Agências de Defesa Agropecuária, dos Agronegócios, e Agricultura Familiar. Luta pela garantia de financiamento da próxima safra, está estudando com muito cuidado como lidar com a explosiva garantia de preços da soja americana, que pode derrubar a safra brasileira. Semana retrasada sentou-se com o Ministro da Agricultura dos EUA, tratando de acordos bilaterais. Está arrancando a liberação da exportação de carne para os EUA. Já havia firmado, com outros países, acordos vantajosos ao Brasil, como a equivalência de instrumentos sanitários, abrindo mercados antes inacessíveis. E formula uma ambiciosa articulação geopolítica para a participação do Brasil nos órgãos internacionais de sua área.
  Competitividade
O Ministro está agradando a roça por sua efetividade, não pelo discurso. Firme, decidido e bem informado. Uma hora de conversa com ele é suficiente para perceber a clareza como enxerga a competitividade, fundada na qualidade, como a chave do mercado. Produzir sim, mas observando a demanda, foco posto no cliente e suas exigências. Cumprindo padrões de conformidade internacional, impondo-se no mercado pela credibilidade. Protegendo o meio ambiente e atentando para as questões sociais. É isso aí Délio César, o Ministro está agradando a roça e muita gente mais, tchê.

 

Hidroponia e energia

Décio Luiz Gazzoni

A técnica de cultivar plantas sem solo é muito antiga, com registros históricos de produção de vegetais em ambientes aquáticos, o que não impede novos melhoramentos. A Unicamp investiga e difunde a hidroponia para cultivo de hortaliças, que crescem fixadas em substratos artificiais, e são nutridas com solução de sais minerais, calculados para atender as necessidades, sem causar toxidez. Em ambiente controlado, a exposição a microorganismos patogênicos é menor, reduzindo o uso de agrotóxicos. As hortaliças são mais tenras, pela menor exposição a agentes que depreciam sua qualidade, como granizo, sol, vento, chuva, etc.   Consumidores fiéis
Existe uma classe de consumidores fiel (mercado) a produtos hidropônicos. A contribuição da Unicamp está no desenvolvimento do cultivo vertical, permitindo uma horta em espaços exíguos. Os pesquisadores usam lã de rocha e espuma fenólica, um produto estéril, utilizado em arranjos florais, para fixar as hortaliças e absorver a solução nutritiva. Com estas técnicas, poderá ser possível cultivar outras espécies, como o tomate, pepino e pimentão ou espécies arbóreas para viveiros de mudas.
  Energia de biomassa
O capim-elefante, velho conhecido dos pecuaristas, pode virar energia. O IPT trabalha com plantios da gramínea, junto ao Instituto de Zootecnia de São Paulo. Essa gramínea pode render até 40 toneladas de matéria seca por hectare/ano, enquanto o eucalipto rende 6 toneladas. Para estudar o assunto, formou-se uma parceria com a Unicamp, a Embrapa Biologia do Solo, e a Unesp. Pela iniciativa privada participam a Copersucar, Jumil, Companhia Siderúrgica Tubarão e Cimento Itaú. Juntos obtiveram financiamento da Finep para as pesquisas.

Múltiplos usos do capim
A idéia é utilizar o capim-elefante como energético, como fonte de proteína para ração animal, e para a extração de fibras, utilizada em painéis industriais ou na indústria automobilística. A energia virá da transformação do capim em carvão, como redutor siderúrgico, como energético líquido, gasoso ou para queima direta na indústria, em padarias, churrascarias e lareiras. A razão da pesquisa é a perspectiva de que a energia obtida por esta via venha a ter preços inferiores a outras fontes. O rendimento energético será otimizado através da melhoria genética da planta, do sistema de produção, e de bactérias com capacidade de fixação simbiótica do nitrogênio. A pesquisa na área industrial também será realizada, buscando modelos de caldeiras para gaseificação ou produção de carvão superiores aos atuais.
  Energia solar
Sua propriedade não tem água da rede pública? Não é só você. A maioria dos produtores depende de poços ou minas para o abastecimento da casa, para os animais, e para irrigar a horta. A energia elétrica nem sempre existe, e é cara. Sem esquecer o vagalume da energia rural. Pensando nisto, a Universidade Federal de Santa Catarina está criando uma bomba d’água movida a energia solar. A proposta dos engenheiros é simples e barata, fácil e com manutenção acessível. O segredo é um conversor eletrônico adaptado ao captador de energia. Se o sol se ausenta por dois ou três dias, uma bateria armazena a energia elétrica produzida pela luz solar, utilizada quando a energia solar é insuficiente.
  Energia e água barata
Além de simples, o sistema é barato. Estima-se em US$13,00/watt o custo dos painéis, com tendência de queda. Nos EUA o custo está em torno de US$5,00 para painéis de 50 watts. O custo maior é o investimento inicial nos painéis, conversor e bateria, que pode ser amortizado facilmente, pela vida útil de 25 anos. O custo de manutenção e de operação é muito barato, permitindo o abastecimento de água a custos compatíveis com a vida espartana do meio rural. Além do que, é bom não esquecer, que energia solar não produz fumaça nem necessita represar rios – é a energia não poluente.

 

 

Rodada do Milênio

Décio Luiz Gazzoni

A OMC está de novo nas manchetes, agora por acefalia. Renato Ruggiero,o italiano presidente da organização, concluiu seu mandato em 30/4 e, no Primeiro Mundo ninguém pensa em ficar um dia no cargo depois de vencido o mandato. Porém, não se contava com o impasse entre duas candidaturas - a do neozeolandês Mike Moore (suportado pelos países protecionistas da UE e dos EUA) e do tailandês Supuchai Panitchpakdi (representando os países mais liberais, Brasil entre eles). A França, embora apoiando Moore, lançou o brasileiro Celso Lafer como tertius. Particularmente, torço mas não creio nessa solução. Penso que, mais importante que ter o presidente - um implementador de políticas - é definir a política. Aí é que ganha importância a Rodada do Milênio, que se inicia no final do ano. Será uma guerra de competência, de estratégias com objetivos claramente definidos e de delegações organizadas com assessorias qualificadas e condições de negociar e impor. Desde já, governo e iniciativa privada precisam traçar suas estratégias, e preparar as armas e as munições.   Subsídios à produção e às exportações
O Brasil, como a grande maioria dos países, não terá como desenvolver-se em um ambiente dominado pelo protecionismo. Embora duramente negociado na Rodada Uruguai, o tema retornou com força, no bojo da crise mundial. O Brasil deverá não apenas ter uma posição clara e dura contra qualquer tipo de protecionismo, mas, especialmente, deverá negociar esta posição antes do início da Rodada, para garantir a força necessária, e os votos dos parceiros, para impor seu ponto de vista. Em linhas gerais, nosso país deverá batalhar pela eliminação total e definitiva, em um prazo curto, dos subsídios à produção agropecuária, sob qualquer título, bem como dos incentivos à exportação.
  Acesso a mercados
Não basta eliminar o protecionismo direto e explícito, é necessário reduzir todos os demais obstáculos que impedem o acesso aos mercados por parte de países emergentes. Os principais pontos a perseguir são: a redução das tarifas de importação; a eliminação das barreiras técnicas; a eliminação do sistema de quotas, liberalizando integralmente o mercado; a proibição de aplicação de sobretaxas, forma iníqua de combater a competitividade natural de concorrentes; a eliminação da cláusula de salvaguardas especiais, sempre invocada pelos países ricos, quando não conseguem competir adequadamente no mercado. Estas demandas sofrerão uma oposição ferrenha dos países ricos, pois em virtude da falta de escala e dos custos elevados, não conseguirão manter suas posições hegemônicas em um ambiente de liberdade comercial.

 

Garantia de avanços
As cláusulas econômicas dominarão o temário, e terão outros desdobramentos. Os créditos à exportação vinham sendo discutidos no âmbito da OCDE, mas foram bloqueados pelos EUA, que desejam impor unilateralmente seu ponto de vista. Existem diversos países que possuem políticas rígidas de comércio internacional, e entes monopolistas que executam esta política, o que deve ser fruto de regulamentação, pelo anacronismo que representa. Cuidado especial deve ser tomado com o discurso dos agricultores europeus, em torno do tema da multifuncionalidade, um anteparo para esconder o apego ao ranço do passado paternalista que se pretende sepultar.

 

 

  Sanidade agropecuária
Muito se avançou com a Rodada Uruguai, em especial com o SPS, que previu a Análise de Risco, cientificamente fundamentada, como a ferramenta básica da sanidade. Mas o viés protecionista já chegou neste campo também, com um discurso ambíguo da necessidade de introduzir conceitos morais, de ética do comportamento, de saúde ambiental, de adequação social e outros fatores imponderáveis. A posição brasileira neste campo deve ser clara e explícita, repudiando qualquer malversação de um instrumento científico para atender a sede de subsídios dos países do Primeiro Mundo. Foram conquistas duras, avanços importantes, embora insuficientes, e não podemos conceder neste campo. Para a Rodada do Milênio, a partida é a consolidação da Rodada Uruguai, e não a sua revisão.

 

O grão de ouro

Décio Luiz Gazzoni

Terminou ontem, em Londrina, o Congresso Brasileiro de Soja, promovido pela Embrapa, revestido de pleno sucesso, aplaudido pelos seus 1500 participantes. Entre os quais cientistas, pesquisadores, agricultores, industriais, empresários, agrônomos, produtores de insumos, processadores, do Brasil e do exterior. O afluxo é decorrência do que representa a soja para a economia brasileira (7% do PIB do agronegócio, mais de 1% do PIB nacional) e para a produção de grãos (quase 40% do total). Capitaneada pela discussão da soja transgênica, dezenas de facetas científicas, tecnológicas e de mercado da soja foram dissecadas durante os 4 dias do Congresso dedicado ao "golden crop", como dizem os americanos.   Soja é polêmica
A polêmica sobre a soja transgênica no Brasil foi estimulada com seu recente registro no Ministério da Agricultura. Embora pairem dúvidas sobre sua economicidade, o crescimento de seu uso nos Estados Unidos e na Argentina, onde mais de 50% da área é ocupada com genótipos transgênicos, parece depor a seu favor. O mercado enxerga na soja transgênica uma tática para superar os de baixos preços que devem perdurar por mais 2-3 anos. Por outro lado, os opositores alegam as restrições dos países da UE, por efeitos colaterais sobre o Homem e o ambiente. O pesquisador Carlos Rosseto do IAC ateou mais fogo à discussão ao considerar o sistema patentário brasileiro como inconstitucional, "uma fraude" de acordo com suas palavras. Sem o suporte da proteção legal, não haveria como introduzir esta tecnologia no Brasil. O senador Osmar Dias estuda a possibilidade de aprofundar o exame, no Senado Federal, das restrições comerciais apostas pelos países europeus.
 

 

Soja é saúde
A soja é sempre uma esperança de reduzir a desnutrição crônica, pelo elevado teor de proteína de baixo custo. De há muito era conhecido o efeito benéfico da soja, reduzindo a incidência de câncer intestinal e os teores de LDL colesterol, com aumento da fração HDL. Esse último é o "bom" colesterol, enquanto o LDL é o vilão que entope veias e artérias, que podem culminar no temível infarto. Mas, o Dr. Stephen Barnes (Universidade do Alabama) agregou uma dezena de possíveis usos terapêuticos da soja, incluindo desordens pós-menopausa (calorões, osteoporose e desordens cognitivas), além de prevenir distúrbios renais, fibrose cística e a síndrome de Osler-Weber-Rendu. Estudos realizados na China correlacionaram redução de câncer da mama em populações alimentadas com soja, havendo evidências semelhantes para câncer do pulmão e da próstata.

 

Soja é energia
É energia humana, com suplementos proteicos à base de soja, utilizados por atletas olímpicos, pois embora a soja contenha fito-hormônios, seus níveis são muito baixos e não alcançam os teores que poderiam suscitar dúvidas quanto ao uso de estimulantes artificiais. Mas soja também é diesel. Em Curitiba, o IPT vem testando o acréscimo de 20% do éster metílico do óleo de soja ao diesel (Biodiesel 20). Os testes do instituto mostraram, até o momento, que é possível utilizar o novo produto sem alteração dos motores ou de sua regulagem, podendo vir a substituir parcialmente o combustível fóssil. E também é tinta, solvente, lubrificante, plástico, tecidos, adesivos, filmes, etc.
  Abrassoja
Durante o ano de 1988 nos envolvemos pessoalmente na organização da Associação Brasileira de Soja, criada em 1989 durante o CISSOJA, realizado no Hotel Nacional, em Brasília. Os dois motes principais para sua criação foram: a viabilização de uma fonte permanente para financiamento de estudos, pesquisas e difusão de tecnologia para a cultura; e suportar um agressivo sistema de promoção comercial objetivando manter os mercados do complexo soja, abrir novos mercados e novas oportunidades de mercado. Após um período de inatividade, vemos com alegria a idéia ser retomada com entusiasmo, até porque o mercado é hoje muito mais concorrido que há dez anos, e as fontes de financiamento cada vez mais reduzidas e seletivas. Pelo que representou, e pelas repercussões futuras, a soja brasileira é devedora do trabalho do Dr. José França Neto e da equipe que realizou o Congresso.

 

Sinal Amarelo

Décio Luiz Gazzoni

Além dos charutos, a era Bill Clinton será lembrada como um dos períodos mais prósperos dos EUA. Os indicadores econômicos e sociais apontam melhorias sensíveis durante os 6 anos de governo de Clinton. A crise deflagrada com a quebra dos países asiáticos, que teve no Brasil a última peça de dominó, não se transformou em tragédia pelo peso específico da economia americana, e pelas atitudes pró-ativas de seu governo (para salvaguardar seus negócios, saliente-se!). Entretanto, as crises são da essência do capitalismo, que vive de ciclos sucessivos, como forma de equilíbrio. No dia 14 de maio acendeu-se a luz amarela, com o anúncio da inflação americana de abril: 0,7%. Para nós brasileiros, que tivemos 0,7% por hora comercial, parece nada. Para o gigante americano, significa ações para sustar a escalada inflacionária.   O que pode acontecer
Se os EUA frearem sua economia, o mundo inteiro vai ter prisão de ventre, pela dependência planetária do PIB americano, um quarto da riqueza do mundo. A primeira atitude do governo americano será aumentar a taxa de juros. Como conseqüência, reduz-se o crédito de consumo e de investimento, desacelerando a economia. O que implica em menor importação, produtos brasileiros entre eles. Aumentar 0,5% da taxa de juros do FED repercute mais que 10% na taxa de juros básica do BC do Brasil. O que implica em fuga de capitais daqui para lá. Conseqüência: diminui o crédito e estanca-se a redução da taxa de juros no Brasil, interrompendo a incipiente retomada desenvolvimentista, capitaneada pela agropecuária, que cresceu 17% no primeiro trimestre desse ano. Além dos efeitos econômicos diretos, não se pode esquecer o efeito psicológico, que derrubou as bolsas do Brasil e de outros países, após a divulgação da inflação ianque, gerando um empobrecimento generalizado, alastrando o clima de contração do mercado. Um clima de expectativa, de insegurança, que pode se transformar em pessimismo, com redução no volume de negócios ou novos empreendimentos. Com menos renda circulando, diminui a demanda por produtos agropecuários, derrubando ainda mais os preços já comprimidos pelos estoques elevados da maioria dos produtos.

Protecionismo
Se o protecionismo americano era intenso com a economia aquecida, espere um acirramento de posições caso seja reduzido o crescimento do país. Esta é uma atitude reflexa da sociedade e dos governos: esfria a economia, esquenta o protecionismo. Basta olhar para o Mercosul: enquanto o Brasil manteve o real supervalorizado, ocorreu um festival de importações de produtos da Argentina, em especial agropecuários. Acompanhados de hinos de louvor ao Mercosul, e textos laudatórios ao amor do Brasil aos parceiros do bloco. Bastou o governo (tardiamente) corrigir seu erro histórico, para sofrermos acusações pesadas de dumping, de protecinismo, de comércio desleal, que nada mais são que uma cortina de fumaça para permitir que o governo argentino imponha medidas compensatórias para proteger seus produtos. O esfriamento da economia americana vai acirrar esta posição porque vai reduzir mercado para os dois grandes componentes do bloco, fazendo valer aquele ditado de que "em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão". Ou seja, o bloco rachado e em crise vai enfrentar a contração do mercado, acirrando a briga em família.
  O que fazer
Torcer para que a inflação de abril seja uma bolha, que o governo americano aja rapidamente, que a crise seja curta e superficial, que a contaminação dos mercados mundiais seja a menor possível. Mas, também devemos agir pro-ativamente. Não vamos esquecer a Rodada do Milênio, a oportunidade única de enfrentar o protecionismo com regras explícitas de liberalização do mercado. Não podemos nos deixar levar pelo pessimismo de uma crise episódica, indo com menos agressividade para a mesa de negociações. A própria liberalização do mercado é um curativo para este abalo da economia americana, e um antídoto para crises futuras.

Rumos do Mercosul

Décio Luiz Gazzoni

O Mercosul impactou profundamente os agronegócios brasileiros. Nada mais será o mesmo, nem o leite nem a carne, o arroz, o trigo, a soja ou o milho. É fundamental estar atento aos rumos que o bloco assume, antecipando movimentos para aproveitar as oportunidades. Em 1998, percebemos o que significa globalização com a frieza (e dureza) das trapalhadas sexuais de Mr. Clinton ou como um negócio mal feito por um banco japonês, podem afetar o preço das commodities ou o emprego do peão da fazenda. Assim, antes do Mercosul é importante analisar o mundo, que traçará o cenário para os rumos do Mercosul.   Arrumando a casa
Diz-se que as crises são da lógica do capitalismo. Corações e mentes do mundo desejam a reversão do negativismo de 1998. Já comentamos a falta de um líder mundial expressivo, carismático, personalidade que intervém no rumo da História, recolocando a economia nos trilhos. Enquanto este líder não vem, devemos buscar uma saída para o imbroglio em que nos metemos. É importante fugir daquele ambiente que parece dominado pelos 5 mandamentos que Luiz Gonzaga Belluzo referiu: 1. Quem pode mais chora menos; 2. Faça o que digo, não o que faço; 3. Ou está comigo ou contra mim; 4. Escreveu, não leu, o pau comeu; 5. Bom cabrito não berra. Será necessário findar a imposição unilateral das regras comerciais do mundo globalizado por não mais que 15 atores principais do Primeiro Mundo.
  Retorno às origens
Corra da idéia que o Mercosul é só ameaça, apenas permitiu que nosso "inimigo" - a Argentina - ocupasse os espaços comerciais. A origem do Mercosul fundou-se no ganho de competitividade pela complementaridade das economias. O Mercosul é um laboratório de preparação para a globalização, e para que os países atuem em bloco, na busca de mercados. A dependência excessiva das economias regionais, polarizadas entre Brasil e Argentina, é um viés a corrigir. Já usei a figura de que os dois países não podem polarizar o Mercosul, criando a figura de dois bêbados se apoiando: se um tropeça o outro desaba.

A ampliação do Mercosul
Enquanto a ALCA patina no protecionismo americano, resta a ampliação do Mercosul. Além de Chile e Bolívia, na fase de noivado, temos Perú, Colômbia, Equador e Venezuela namorando o bloco. Os diplomatas devem buscaar uma negociação conseqüente de preferências tarifárias com os países da Comunidade Andina, que falharam em sua tentativa de criar um bloco comercial. Não menos importante será o prosseguimento das negociações para o acordo de livre comércio do Mercosul. Esta abertura programada e negociada não terá o mesmo impacto das primeiras etapas, porém é importante que as lideranças setoriais da agropecuária estejam atentas, pois significa a derrubada das últimas barreiras, e a vigência do império da competitividade intra-regional.

 

 

 

  Acordo com a União Européia
O euro entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 1999, com a ambição de ser uma alternativa ao dólar. Uma Europa forte significa modificações no comércio internacional. A Europa lança olhares lânguidos para este pedaço do planeta, pois, desde a criação do Mercosul a Europa mais que duplicou suas vendas para o bloco. A intenção dos ideólogos do Mercosul era o oposto. Está prevista uma Cúpula Mercosul/UE para este ano, onde teremos que ir com gana, energia e agressividade, pedindo equidade comercial. O que significa exigir da Europa o fim dos subsídios agrícolas, sobretaxas, cotas e demais fantasmas do protecionismo, como prometeu em Marraqueche em 1994. Não dá mais para tergiversar: ou o Mercosul passa a exigir igualdade nas relações comerciais, ou perde sentido a existência do bloco. A atual crise argentina, em parte reflexo da crise brasileira necessita ser episódica e compartimentalizada: não podemos dar ouvidos à falsas denúncias de protecionismo brasileiro, quando, na realidade, o Brasil (tardiamente) ajustou seu câmbio e ganhou competitividade.

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Clones, transgênicos e Cia.

Décio Luiz Gazzoni

Redijo esta nota no Auditório Petrônio Portela, do Senado Federal, onde se realiza um seminário de estudos discutindo manipulação genética de seres vivos. Há cerca de dois meses, o Senador Osmar Dias me procurou, solicitando um apoio na preparação de um evento que internalizasse no Senado Federal as preocupações e anseios da sociedade brasileira – fosse ela científica ou leiga, produtor ou consumidor – em relação às fronteiras que se rompem com o advento da Biotecnologia. Juntamente com os senadores Leomar Quintanilha e Arlindo Porto, nosso ex-ministro da Agricultura, chegou-se ao formato final do evento, que servirá de inspiração para a elaboração da legislação brasileira que vai comandar nosso ingresso neste fantástico novo mundo. O evento deveria responder cinco grandes perguntas e aí vão elas.   O consumidor está protegido?
Sem dúvida, os organismos transgênicos (OGM) se constituirão na tecnologia que sofrerá a maior devassa científica de que se tem notícia. Grande parcela dos investimentos que serão efetuados em biotecnologia serão direcionados para verificar a segurança alimentar (ou terapêutica) dos OGMs. Até o momento, nada espetacular foi descoberto, afora reações alérgicas que determinaram a descontinuidade, das pesquisas com o organismo específico. Entretanto, a sociedade reclama, cada vez com mais intensidade a necessidade de rotulagem, com o seguinte argumento: "Ótimo que o governo, através de seus órgãos de defesa me proteja. Mas eu quero proteção absoluta". É o direito do cidadão.
  O meio ambiente está protegido?
Há como evitar fuga de genes das plantas cultivadas para o meio ambiente? Esta questão tira o sono dos ecologistas e dos cientistas que lidam com OGM. O que é uma característica interessante em uma planta cultivada, pode ser um desastre ecológico se for incorporada à flora nativa. Qual será a reação na cadeia alimentar? Como o sistema responderá à nova introdução? Investimentos nesta área foram reclamados pelos ouvintes do seminário.

Haverá erosão genética?
Alertas sucessivos vem sendo efetuados com relação ao estreitamento da base genética das plantas cultivadas. Este é um risco que nos expõe, cada vez mais, à pragas, doenças, intempéries, diminuindo a estabilidade produtiva e a capacidade de adaptação a alterações do ambiente. Com a introdução de plantas engenheiradas, existe o risco de maior concentração do pool genético. As leis de patentes e as leis de cultivares agravam o problema, sob esta ótica, tornando a base mais estreita e de domínio de poucas corporações.

 

 

 

  É bom para o produtor?
O que o produtor ganha? E o que perde? Será apenas um modismo? Não irá pagar um preço excessivo por uma "nova semente", que não redundará em benefícios de mercado? Benefícios como maior qualidade, maior produtividade, menor custo, maior adaptabilidade, menor exposição a riscos. Questiona-se também a dependência em relação a substâncias químicas associadas a novas plantas, in casu a soja RR que somente expressa suas características quando o sistema de produção inclui um herbicida específico, onde ela possa mostrar sua resistência.

 

 

 

 

  É comercialmente interessante?
Aí está o busílis da questão. Digo, é aí que a porca torce o rabo. De nada vai adiantar pressionar do lado da oferta, aumentar a produção, melhorar a produtividade. O que 10 entre 10 agricultores se perguntam é: "E depois de colhido, tem mercado para o meu produto? Terá deságio?" As notícias insistentes que vem da Europa dizem que o consumidor cada vez mais tem calafrios ao ouvir a palavra transgênica. Neste sentido, o Senador Osmar Dias propõe a formação de uma comissão de alto nível, que deve tirar de vez esta dúvida, indo verificar in loco o que é que o europeu quer, porque não quer, quem está por trás das ONGS, o que diz a lei. Aí vai ficar mais claro para o agricultor se entra nesta, ou se deixa como está para ver como é que fica.

Soja, um santo remédio

Décio Luiz Gazzoni

Há os que comem soja por convicção, há os que comem por que gostam e há os que comem sem saber que estão comendo. Sem saber que estão comendo? Sim, inclusive você! Porque hoje a soja está presente como enriquecedor de diversos alimentos, como embutidos, bombons, massas, pães, sorvetes e outros. Mas e soja como remédio, você já havia pensado nisso? Não significa que os sojicultores agora passarão a farmacêuticos, mas este é o novo e fascinante mundo que o Dr. Stephen Barnes, pesquisador da Universidade do Alabama nos apresentou durante o Congresso Brasileiro de Soja.   Controlando o mau colesterol
Há anos médicos e outros cientistas haviam descoberto algumas propriedades terapêuticas da soja. Uma delas era a capacidade de equilibrar a relação entre o bom (HDL) e o mau (LDL) colesterol. Os indivíduos que se alimentavam regularmente com leite de soja tinham reduzido o teor do mau colesterol e aumentado o do bom colesterol. Isso significa redução da probabilidade de "entupimento" de veias e artérias, e, consequentemente menor risco de infarto do miocárdio. E não era só: pacientes que se alimentavam com produtos à base de soja tinham menor propensão ao desenvolvimento de câncer intestinal, atribuído ao alto teor de fibras contidas na soja. Já parecia muito bom, mas...

Mais propriedades terapêuticas
...mas os Estados Unidos estão investindo perto de 10 milhões de dólares por ano na pesquisa dos efeitos medicinais da soja. O Japão não fica muito atrás em matéria de incentivo à esta pesquisa. Foi lá que os pesquisadores descobriram que o missô - preparado à base de soja muito apreciado pelos japoneses - pode reduzir tumores cancerígenos. A pesquisa, feita com ratos de laboratório, mostrou que o uso isolado do medicamento mais eficiente no tratamento do câncer da mama, não foi suficiente para impedir o crescimento dos tumores. Mas, quando além o medicamento, os ratos foram alimentados com missô, os tumores regrediram. Segundo os cientistas, os hormônios existentes na soja são muito próximos, quimicamente, dos hormônios femininos, sobre os quais recai a suspeita de estarem associados com o câncer de mama. E os hormônios da soja teriam a propriedade de inibir esta ação.
  Tem mais novidade
Acontece que aquele medicamento de que falei, e que se chama tamoxifeno, reduz a taxa de crescimento do tumor na mama, mas favorece o surgimento de câncer no útero. Saiu da frigideira, caiu no fogo! Mas, se o tratamento for à base de soja, este problema desaparece. O Dr. Barnes lembra que, no sudeste asiático, onde se come muita soja, o câncer do útero tem uma das menores incidências do planeta. A soja também está associada com os altos índices de fertilidade verificados na Ásia, desmistificando a idéia de que os fito-hormônios estariam associadas com redução da fertilidade feminina. Prevenção do mal de Alzheimer, que parece estar vinculada à redução na produção de estrógenos por menopausa normal ou forçada, também parece ser um dos benefícios terapêuticos de quem se alimenta de soja.
  Também reduz a osteoporose
Um dos terrores das mulheres durante o climatério é a osteoporose. Este é um processo que leva à perda de massa dos ossos do corpo, em decorrência da diminuição de produção de estrógenos. No extremo, os ossos tornam-se tão frágeis que se rompem com relativa facilidade. A menos que você ingira entre 25-50g de soja por dia, de acordo com a receita do Dr. Barnes. Isto porque os testes de laboratório com ratas que tiveram os ovários extraídos, mostrou que a genisteína (um dos hormônios da soja) era muito mais eficiente no combate à osteoporose que o Premarin, o repositor hormonal mais usado pelas mulheres. O Dr. Barnes também alertou para o uso de cápsulas de isoflavonas, extraídas da soja. "É melhor, e mais barato, consumir a própria soja", disse ele. Nesta época de vacas magras em termos de boas notícias, nada como receber um alento mostrando o futuro que ainda está por se descortinar, ampliando o mercado da soja no mundo.

O Plano da próxima Safra

Décio Luiz Gazzoni

Entre as metas governamentais está a produção de 100 milhões de toneladas de grãos e a exportação de US$45 bilhões, até o fim do mandato de FHC. Parece bazófia quando se examina o comportamento pífio da agricultura desde 1996, mas o Ministro Francisco Turra não gosta de olhar o passado, o negócio dele é enfrentar os desafios do futuro. Porisso, reuniu novamente a equipe econômica no MA, e de quebra levou o articulador político do Governo, Ministro Pimenta da Veiga. A sobremesa do almoço foram as decisões do Plano Safra.   Financiamento de R$13 bilhões
O Presidente anuncia hoje, no Planalto, às 11h30’ que o Governo destinará R$13 bilhões para financiamento da próxima safra, sendo 11,5 para custeio e 1,5 para investimento, com taxa de juros de 8,25%, que teria reduções progressivas conforme diminuíssem as taxas de juros do Banco Central, em queda constante. O Pronaf terá recursos de R$3 bilhões, com juros de 5,75%. Os recursos com juros favorecidos virão da equalização do Tesouro (R$4,2 bi) e da exigibilidade bancária. Para adoçar a boca, o Ministro luta pela isenção de IPI para máquinas e equipamentos e redução das alíquotas de importação de fertilizantes. Para maiores detalhes é só assistir a fala do Ministro Turra, em cadeia nacional, hoje às 20h.
  Novos limites
Os limites de financiamento para a cultura do milho subiram de R$150 para R$200 mil. Para a soja, o produtor do MA, BA, TO e Centro Oeste terá limite de R$100 mil, sendo de R$60 mil para o restante do país. O Ministro Turra insistiu na necessidade de agilizar a liberação de recursos, que vez por outra se perdem na burocracia, enquanto o agricultor perde a paciência, e a lavoura perde os prazos impostos pela Natureza. O Pro-Leite é uma nova linha de crédito destinada a modernização da pecuária de leite, e se aprovada terá valor inicial de R$ 200 milhões.

Seguro
A partir de 1o. de julho o produtor poderá contar com seguro rural privado. Inicialmente oferecido às lavouras de soja e milho no PR, SP, MT, GO, MS e MG, a expectativa da Finagro, que oferece o seguro, é atender até 50 mil produtores. O valor do seguro ficará entre 5,4 e 6,2% do valor da Cédula de Produto Rural (CPR), comprometendo até 50% da produção esperada. Esta é uma reivindicação antiga do setor produtivo, pois a agricultura envolve riscos que nenhuma outra atividade econômica tem.
  Competitividade
O Ministro Turra também tem clareza de que só dinheiro não é garantia de produtividade e qualidade: a competividade sai do dueto tecnologia x sanidade. Ontem a tarde recebeu em audiência o Secretário Poloni, acompanhado de inúmeras lideranças políticas e do agronegócio do Paraná, além deste escriba. O Ministro reafirmou seu compromisso com a elevação do estado sanitário das lavouras e das criações, e garantiu novamente que, se a sorologia que inicia em agosto não indicar atividade do vírus de aftosa no nosso Estado, o Paraná será declarado área livre da enfermidade a partir do próximo ano. Também garantiu atenção especial ao pedido de R$1,8 milhões para o Paraná, dentro do empréstimo do Banco Mundial (PROSAV), destinado ao treinamento de profissionais de sanidade, tanto do setor público quanto privado.
  Defesa Agropecuária
Mais do que o discurso, o Ministro está empenhado em conseguir recursos emergenciais de R$117 milhões, para atender as demandas imediatas dos órgãos de Defesa dos Estados. Por determinação do Presidente da República, o Ministério ultima junto à Casa Civil a criação da Agência Nacional de Defesa Agropecuária, o que deve ocorrer a qualquer momento. Com a criação da Agência, o Governo Federal ganha agilidade, autonomia e flexibilidade para o trato da questão sanitária, e permite melhor cumprir os acordos internacionais. Turra também gestiona junto à equipe econômica do Governo, com o apoio das lideranças agrícolas dos Estados, um empréstimo de US$650 milhões do BID, que alavancará o salto qualitativo da agropecuária brasileira. Como já falei, a ponte para o futuro está lançada. Precisamos transitar por ela

Comercialmente é bom?

Décio Luiz Gazzoni

Recentemente, o Senador Osmar Dias, juntamente com os senadores Leomar Quintanilha e Arlindo Porto solicitaram nossa colaboração na elaboração da temática de um seminário realizado pelo Senado Federal, para consolidar alguns pontos de discussão sobre organismos geneticamente modificados (OGM), e, mais particularmente, sobre o uso de variedades transgênicas. O evento revestiu-se de sucesso, lotando o Salão Verde do Congresso com centenas de estudiosos, cientistas, lideranças agrícolas e políticas e demais interessados. As perguntas a serem respondidas eram: é bom para o agricultor?; estreita a base genética?; o consumidor e o meio ambiente estão protegidos?; comercialmente é bom?   As dúvidas
Todos sabemos que esse é um tema polêmico. Particularmente, tenho afirmado que estamos em um daqueles momentos da História em que se revolucionam os paradigmas de uma forma abrupta, um rompimento com o passado. Então, considero normal – mais que isso, necessário – a polêmica. Mesmo quem nada tem a dizer, tem o direito de dizê-lo, porque, paradoxalmente, ignorância é a marca da imensa sabedoria que envolve a revolução da Biotecnologia. Ignorância no sentido de que sabemos uma página do volumoso livro que se abre para o futuro. Em especial, os mecanismos de proteção à saúde e ao ambiente utilizados pelos governos, são pautados em substâncias e fenômenos quase que completamente dissecados. OGMs são embriões, que podem ou não nos trazer surpresas futuras quanto ao seu impacto no Homem e na Natureza.
  A ação do Governo
Atuando na Secretaria de Defesa Agropecuária do Governo, um dos órgãos operacionais responsáveis por garantir a segurança e a inocuidade dos OGMs, tenho defendido a tese tão cara no direito "in dubio pro reo", ou seja, na dúvida vamos ser conservadores, sem medo de sê-lo. Prefiro pecar pelo excesso de zelo que lastimar danos já ocorridos. Embora todos os estudos até o momento realizados tenham convergido para garantir a segurança do uso de OGMs, o Governo tem que equilibrar sua filosofia e sua ação entre a necessidade de proteger o consumidor, o ambiente, o agricultor e o agronegócio.

A questão comercial
Aqui a coisa muda de figura. O Sr. Ministro da Agricultura determinou a ultimação de estudos para subsidiar a posição do Ministério em relação ao comércio de OGMs e seus derivados. Com muita honra aceitei o convite para participar dessa comissão. Nossa missão é responder, de forma clara, objetiva e direta: comercialmente é bom? É bom para o Brasil? É bom para o agricultor? É bom para o negociante? É bom para o exportador? Aqui também tenho uma opinião clara: alguém quer comprar produtos derivados de OGM? Yes, nós temos. Quanto você quer? O companheiro aí da cadeira à esquerda só compra se não for OGM? Oui, nós também temos. A quantidade que você quiser. Em ambos os casos, com a devida certificação de origem. É missão do Governo suportar as decisões privadas, orientando suas ações para coadunar com os interesses do país. Para tanto vamos ouvir produtores, processadores, exportadores e importadores, dos dois lados do oceano.
  Negócios são negócios
Negócios não têm ideologia. Devemos estar preparados para vender exatamente o que o consumidor quer, na dimensão de sua demanda, com a qualidade que ele exige. Ponto final. Agora, cabe à comissão dissecar e entender os meandros desta guerra de foice no escuro, saber porque os EUA adotaram de olhos fechados a nova tecnologia, o mesmo ocorrendo com a Argentina. O que existe de verdade na reação negativa do consumidor europeu, qual a proporção que não aceita, porque não aceita, é uma vontade pétrea ou é desinformação, quem são aos ONGs que suportam a rejeição, como agem os governos, o que existe na legislação, o que pode ser derrubado na OMC. O que pensam os importadores, distribuidores, atacadistas e varejistas europeus. E, quando as grandes empresas de biotecnologia européias puderam competir ombreadas com as americanas, o consumidor europeu vai continuar rejeitando. Qual o papel do subsídio agrícola europeu nesta questão. Respostas em 120 dias.

Dioxina

Décio Luiz Gazzoni

Você sabe o que é POP? Não é o cantor Elton John, não senhor. Nem o servidor de e-mail da Sercomtel. POP é a abreviatura de Poluentes Orgânicos Persistentes (OPP em inglês). É uma das pragas da idade contemporânea. O Homem inventa mil e uma comodidades proporcionadas pela Química, mas paga o preço dos contaminantes, que são substâncias químicas indesejadas, tóxicas ou com efeitos colaterais. E que podem trazer inúmeros problemas, inclusive para a nossa área de agronegócios. Que o digam os agricultores e avicultores da Bélgica, que sofreram prejuízos enormes (se é que o Governo não vai salvá-los na undécima hora, como sempre acontece na Europa) ao longo do mês de junho, quando foi proibida a venda de frango produzido no país. Tudo porque a ração do frango estava contaminada com dioxina, um dos mais conhecidos POPs. E a ração se contaminou pela utilização de óleo contendo dioxina. E o Brasil quase marchou nesta, quando foi descoberta a contaminação da polpa cítrica por dioxina.   Um fiasco governamental
Uma das diferenças entre os europeus e os americanos, no ramo dos agronegócios, é que os americanos tem uma fé cega no APHIS e nos demais órgãos governamentais de controle dos alimentos e de defesa agropecuária. Eles sabem que estes órgãos são sérios, severos, e que efetivamente protegem a saúde do consumidor, não interessando a quem doam suas intervenções. Já na Europa, a coisa tem mostrado não ser bem assim. Lembre-se da vaca louca, que foi longe demais, e ainda afeta os rebanhos do Norte de Portugal, e a incompetência se repetiu com o frango belga. O Governo (os órgãos de defesa e seus superiores hierárquicos) não detinham o controle da situação e, mesmo quando identificaram o perigo da contaminação com dioxina, perderam muito tempo decidindo o que fazer. Em parte, por medo da reação dos agropecuaristas prejudicados. E, sem dúvida alguma, em parte porque estavam a poucos dias de eleições gerais. Vingança: o crime contra a saúde do povo foi punido com a derrota do Governo. E agora os avicultores prejudicados querem indenização pela inépcia do Governo.

Cancerígeno
A celeuma foi causada porque a dioxina, um dos POPs mais conhecidos, é altamente cancerígena. Ela é um dos subprodutos de reações químicas, inclusive da produção de herbicidas. Basta lembrar toda a polêmica causada pela aplicação do agente laranja, contendo dioxina, durante a guerra do Vietnan. E sua capacidade cancerígena já foi sobejamente comprovada. Os POPs são muito problemáticos, por penetrarem na cadeia alimentar, e por acumularem-se nos tecidos adiposos. Os POPs mais prejudiciais são compostos por átomos de cloro, de alta estabilidade no ambiente. A bioacumulação que ocorre na cadeia alimentar, finda por atingir o limite que causa o desenvolvimento de tumores nos animais superiores, o elo final da cadeia alimentar.
  Inseticidas
Não é apenas a dioxina, mas um espectro de substâncias que constitui o grupo de POPs. Qualquer agricultor da minha idade lembra quando existia aldrin, clordane, DDT, dieldrin, endrin, heptacloro, dodecacloro, BHC, PCB, toxafeno, etc. Foram necessários anos para eliminar estes produtos do uso cotidiano na agricultura, coisa que hoje parece ridícula. Mas não é apenas no processo agrícola que surgem os POPs, eles podem ser subprodutos de diversas reações químicas industriais, como na produção de papel, plásticos, ou mesmo nos processos de tratamento do lixo industrial ou doméstico.

 

 

 

 

  Acordo internacional
Não é fácil negociar um acordo amplo que limite o impacto dos POPs na sociedade contemporânea. A redução ou banimento de diversas famílias de POPs, incluindo as dioxinas, está sendo negociado entre os Governos há muitos anos, sem que se chegue a uma conclusão. Sempre há um veto de algum governo, por prejuízos causados às indústrias lá instaladas. Acreditamos que a crescente consciência ecológica, a pressão por melhoria da qualidade de vida, as exigências dos consumidores, e a luta dos agricultores e pecuaristas, cansados de pagar pelo prejuízo de produtos contaminados, leve à assinatura de um acordo que elimine esta praga no futuro próximo.

 

Silício e agricultura

Décio Luiz Gazzoni

Silício é aquilo mesmo que você está pensando, é areia. Areia pura, onde em se plantando nada dá. Silício não valia nada, até que um cientista descobriu propriedades elétricas interessantes no elemento, que permitiram a criação do transistor. Daí para o computador foi um pulo, e quem não conhece o Silicon Valley, um dos marcos da tecnologia avançada nos Estados Unidos? Lá estão grandes ícones da eletrônica e da informática, conferindo ao silício um lugar nobre no mundo dos negócios. Graças a Deus, o silício é um dos elementos químicos mais abundantes da Natureza, pois crescem as possibilidades de usos agrícolas para ele.   O silício e as plantas
O silício está presente em praticamente todos os solos, entretanto nem sempre está numa forma prontamente absorvível pelas plantas. A relação entre silício e vegetais ainda tem muito para ser estudada, mas estes estudos serão acelerados com a descoberta de sua importância para o cultivo de arroz e cana de açúcar, entre outras plantas. Absorvido pelas raízes, o silício se acumula nas folhas de algumas gramíneas, e aí vai formar uma barreira protetora contra pragas como insetos ou fungos, além de auxiliar na regulação da evapo-transpiração das plantas. A presença de silício também faz com que as plantas sejam mais resistentes ao acamamento, permanecendo mais eretas. Além da possibilidade de redução de uso de agrotóxicos, a aplicação de silício no solo possui o mesmo efeito do calcário, corrigindo a acidez do solo.
  Pesquisa
Se alguém conversar com o professor Gaspar Korndörfer, da Universidade Federal de Uberlândia, vai encontrar um entusiasta. “Nossos estudos indicam um aumento de produtividade de até 10 ton/ha para cana de açúcar, além de aumentar a resistência da cultura de arroz à brusone, mancha parda e descoloração dos grãos”, declarou o estudioso recentemente à Agência Estado. Ele é pioneiro em trabalhos do gênero, e seu laboratório especializado na quantificação de silício no solo e na planta. Sua equipe estendeu os estudos a diversas plantas de cerrado (brachiaria, por exemplo), para entender a ação do elemento nas plantas, visando sua utilização comercial. Tem como parceiros nesta empreitada a Universidade da Flórida, a Fundação Banco do Brasil, a FAPEMIG, e a iniciativa privada. Porque a iniciativa privada?

Competitividade
Não esqueçamos que cada centavo poupado é um ponto adicionado na competividade do produtor, do estado ou do país. O Silício é um elemento abundante, portanto teoricamente disponível e barato, e se comprovada sua ação, podem ser desenvolvidas tecnologias que promovam a melhor utilização do elemento pelo agricultor. No caso do silício, ocorre uma polimerização do mesmo na superfície das folhas (a mesma coisa que acontece com o silicone nas próteses), formando uma camada espessa, de difícil transposição para os agressores da planta, sejam microorganismos ou insetos. Só que, no caso da planta, a polimerização é reversível, isto é, ela é regulada pela quantidade de água disponível no solo. Se o solo está mais seco, o silício fica mais polimerizado, revertendo o processo com alta umidade no solo. Assim, a planta regula a quantidade de água em circulação, suportando melhor as condições de estresse hídrico.
  Em outros países
Tradicionais produtores de arroz, como Japão, Coréia e Filipinas, já vem estudando o assunto há mais tempo. O silicato de cálcio é utilizado nos Estados Unidos como adubo em culturas como a cana de açúcar. O silicato é um produto relativamente barato, pois se trata de um resíduo da produção de fosfatos. No Brasil, existem marcas comerciais de adubos fosfatados que possuem silício incorporado em sua fórmula. Um desafio que se põe para a pesquisa é a viabilização econômica das fontes comerciais de silício. Por exemplo, existe silício disponível em resíduos de usinas siderúrgicas, porém é necessário desenvolver o processo industrial para torná-lo prontamente absorvível pelas plantas, eliminando outros elementos que porventura sejam contaminantes, e mantendo o baixo custo para o produtor.

 

 

A guerra comercial

Décio Luiz Gazzoni

O comércio é tão velho quanto o são as brigas comerciais. Algumas acabaram em guerra, outras transformaram vizinhos em inimigos, parceiros em concorrentes. É só observar como a nossa vizinha Argentina não consegue sair da equação da (dis)paridade cambial. Enquanto o Brasil ofereceu suas tetas, avidamente sorvidas pelos exportadores argentinos, era elogiado por seu modernismo. Bastou acabar a farra do real super-valorizado e taxas, cotas e outras barreiras nos estão sendo impostas, o que leva o Brasil à OMC para tentar resolver os conflitos comerciais com a Argentina. Que ironia! Dois países pilastras do Mercosul, que agora arrisca ir para o brejo.   Os conflitos
Ao longo deste século, a concorrência entre os mercados se tornou mais profunda, o que entronizou a competição como a mola mestra dos mercados. Ao invés de guerras, alongadas reuniões, sessões, discussões, painéis, na busca de um consenso. No fundo de tudo uma questão extremamente simples: todos os países comercialmente importantes do mundo tem um discurso unificado a respeitado da necessidade de liberalização do comércio. Cada qual por seus motivos. Então porque a encrenca? Porque os países que detém os maiores mercados, as maiores rendas per cápita querem um mercado livre, sim, para que eles possam colocar seus produtos. No mercado deles não vai nada. Coincidentemente, são os países ricos os mais protecionistas, os que colocam mais barreiras à liberalização do comércio.
  Subsídios
E também são estes países que distorcem completamente o comércio internacional com os pesadissimos subsídios à agricultura. Voz dissonante no governo americano, Alan Greenspan, o todo-poderoso presidente do Federal Bank, diz que o protecionismo comercial é "pouco inteligente e autodestrutivo". Barreiras ao livre comércio, processos antidumping e imposição de tarifas compensatórias são, na maior parte dos casos, "meros disfarces da incompetência e tentativas para inibir a concorrência". Em vez de ações equivocadas para proteger o emprego local, recomenda, o que se deveria fazer é garantir maior fluxo internacional de mercadorias, para estimular o avanço da tecnologia e a produtividade do trabalhador. "Protecionismo só piora o nível de vida em todo o mundo", diz Greenspan. É importante que ele seja ouvido pelos 134 chefes de Estado que vão se reunir para a Rodada do Milênio da OMC, em especial pelo presidente de seu país e os dirigentes dos países ricos.

Os números
US$ 5,3 trilhões é o volume de transações comerciais no mundo, 10% disto em produtos agropecuários, sendo 38% da Europa e 13% dos EUA, o Brasil com míseros 3%. Agora, eu queria ver estes números se nenhum país subsidiasse sua produção e comercialização. Sabe porque? Porque tudo, absolutamente tudo o que a Europa recebe por suas exportações agrícolas, investe em 300 tipos de subsídios (US$200 bilhões/ano)! A OCDE gasta US$ 335 bi, os EUA US$60bi e o Japão US$40bi com protecionismo. Compare estes valores com as exportações brasileiras. A Política Agrícola Comum da UE custa U$ 45 bilhões/ano, metade do orçamento da UE. Para apoiar 8 milhões (dos 370 milhões) de europeus que trabalham no campo, com produtividade equivalente a 14% da dos demais trabalhadores. Subsídio é sinônimo de incompetência. Prova disso é a grita dura do presidente da CNI alemã, dizendo que a população está farta de pagar pela incompetência dos agricultores europeus, seja através de subsídios, ou pelos preços mais caros. Veja a ironia: com 11,5% de desemprego industrial, pesadissimos subsídios sustentam apenas 4% de empregos no campo!
  In loco
De 25 a 31 de julho ocorrerá, em Israel, o XVII International Plant Protection Congress, o maior forum mundial para discussão de proteção de plantas, que se reúne a cada quatro anos. Em tempo de barreiras comerciais em baixa, a sanidade é o grande diferencial no comércio internacional. E, de 3 a 8 de agosto, ocorre o Global Soy Forum e a V World Soybean Research Conference, que se realizam a cada 5 anos. Em tempo de soja transgênica no olho do furacão da polêmica, é bom estar de olho no que acontece pelo mundo. Este colunista viaja hoje para assistir os dois eventos, com a promessa de colocar os leitores a par do que está acontecendo nos dois setores.

Onde a Química encontra a Ecologia

Décio Luiz Gazzoni

Foi com este mote que 1250 cientistas de todo o mundo, em especial da Europa, reuniram-se durante a semana passada em Jerusalém. Escrevo a coluna no final do Congresso, para dizer que a era de aplicação indiscriminada de veneno para controlar pragas, realmente chega ao fim. As expressões "Manejo Integrado de Pragas" e "Agricultura Sustentada" foram as mais ouvidas por aqui.

O ocaso de uma era
A Terra Santa se presta bem a esta simbologia. Na busca de novos rumos, a biotecnologia foi um dos temas palpitantes mas, surpreendentemente, as variedades transgênicas ficaram em segundo plano. As preocupações começam com uma candente reivindicação de afrouxamento na rigidez patentária, para permitir maior liberdade acadêmica nas pesquisas. Mais do que as plantas, os microorganismos bio-engenheirados foram alvo de muita discussão. Significa usar um vírus ou um fungo conhecido, introduzindo nele um veneno potente, uma nova forma de ataque às pragas, ou potencializando seu próprio veneno. Os cientistas também estão apontando seus equipamentos para a intimidade das plantas, buscando substâncias naturais que são repelentes ou atraentes de insetos, ou que causam anorexia nos mesmos, para substituir os venenos. Aí também entram os óleos essenciais, em especial os voláteis, que tem surpreendido como forma de controle de insetos.
  Seis por meia dúzia?
Mas qual é a grande diretriz da mudança? Segurança. Ambiental e do Homem. Além de competitividade. Aí a química encontra a ecologia, o Homem resgata seu passado e a agricultura fica sustentável. O que não estava sustentável era o paradigma essencialmente químico pois, apesar de investimentos anuais de US$3 bilhões em pesquisas, muitas espécies vegetais continuam em risco de extinção por problemas sanitários, e os danos à agricultura comercial continuam grandes. A própria indústria química entendeu o desafio que a sociedade lhe impôs. As novas moléculas apresentadas no Congresso não são do tipo mata-tudo. Antes disso, possuem uma precisão cirúrgica, que não é por acaso, mas fruto de muita pestana de cientista queimada para encontrar um modo de ação que fosse específico para eliminar um inseto, um fungo ou uma planta daninha, sem que houvesse um impacto similar nas demais espécies da fauna ou flora - inclusive no Homem.

Biopesticidas
Ganha fôlego o controle biológico, nas suas mais diversas formas. E começa a transparecer o interesse de grupos econômicos em pesticidas biológicos. Foram apresentados inseticidas, fungicidas e herbicidas que são organismos vivos ou deles derivados. Embora incipiente (estudos mostraram retornos negativos anuais de -40% sobre o capital investido), percebe-se que o mundo capitalista vislumbra uma oportunidade de investimento futuro nesta área. Estudos foram mostrados sobre como tornar mais amplo o espectro de ação destes pesticidas, como reduzir suas exigências em relação ao ambiente, como reduzir custos, etc. Uma das preocupações que ficou patente é a possibilidade de desenvolvimento de resistência aos biopesticidas, pois as pragas reagem a eles quase da mesma forma como fazem em relação aos químicos. Com um agravante: muitas plantas transgênicas resistentes a insetos contêm na sua carga genética a mesma toxina do biopesticida, agravando o problema de resistência.
  Outras fórmulas
Os cientistas estão quebrando a cabeça. Busca-se fórmulas para evitar problemas com os métodos tradicionais, como, por exemplo, deriva. Muitos estudos mostraram como reduzir o impacto adverso causado pela deriva, atingindo organismos não visados. Ou a solarização, muito útil em países tropicais. Um cientista da Palestina mostrou como se pode eliminar as pragas dos cultivos de casa de vegetação, simplesmente fechando a casa totalmente, para que a temperatura interna seja tão alta a ponto de esterilizar o ambiente. Um paraibano (olha nós aí!) descobriu que plantas vendidas nos mercados nordestinos podem ser excelentes fungicidas, como é o caso da barba-timão.

 

 

 

Uma dica
Para terminar, os chineses estão entusiasmadíssimos com uma planta chamada Litchi. Não trouxeram para a gente experimentar, mas dizem maravilhas dela, coisas como a Rainha das Frutas. A área plantada na China explodiu e a aceitação é muito grande. Taí a dica para quem quiser investir em um nicho inexplorado do mercado.

Criando a agricultura de precisão tupiniquim

Décio Luiz Gazzoni

Semana passada vimos como um novo paradigma dominará a agricultura do próximo século. Vamos ter mais desvantagem em relação ao Hemisfério Norte? Não bastam os subsídios que nos roubam mercado, teremos a defasagem tecnológica, que nos roubará o filé mignon do mercado? Não, no que depender da Embrapa, e outros órgãos de pesquisa. Antenados no mundo, cientistas brasileiros estão se antecipando às demandas do produtor, adaptando conceitos universais da agricultura de precisão à realidade dos trópicos. E atentado para as culturas típicas do Brasil, como café, cana de açúcar ou cacau.   Gerando conhecimento
A Embrapa possui um centro de pesquisa dedicado à automação na agropecuária, que coordena as pesquisas com agricultura de precisão. Outra unidade da Embrapa, que efetua o Monitoramento por Satélites, desenvolveu sistemas que permitem monitorar a área de cada propriedade, através de imagens de satélite, que informa sobre processos vitais para a planta, como a fotossíntese. Nas mãos de um agrônomo treinado, essa informação permite efetuar modificações no sistema de produção, na busca da melhor produtividade ou melhor uso de insumos. Qualquer produtor sabe dizer quantos sacos por alqueire colheu na sua propriedade. Mas, e se precisar informar quanto colheu no primeiro metro, no segundo, no terceiro? Aí dá nó nos miolos. A Embrapa desenvolveu programas com o uso do GPS, que obtém informações com esta precisão. Para que? É a informação que o agrônomo precisa para maximizar o uso dos fatores de produção, reduzir o custo, aumentar a produtividade.

Cultivando milho com precisão
Vai-se o tempo em que o Brasil não produzia milho de forma competitiva, restrito que era à pequenas propriedades, para consumo local. Não fora o trabalho da Embrapa permitindo a expansão do cultivo para as áreas de cerrado, e estaríamos sendo inundados por importações de milho americano. Agora a Embrapa Milho e Sorgo quer estar novamente à frente do seu tempo, desenvolvendo técnicas de agricultura de precisão. Criou um grupo de pesquisadores que vai gerar práticas para utilização do novo sistema entre os produtores brasileiros. O grupo quer parcerias para desenvolver, aperfeiçoar e transferir tecnologia, na forma de informação mais refinada, implicando em alterações nas máquinas e implementos agrícolas, integração do processo produtivo com informações climatológicas, etc. Aparentemente tudo muito sofisticado, além da nossa capacidade. Coisa pr'os gringos, sô! Na verdade, uma revolução tão grande quanto sair da enxada para o herbicida, do milho de paiol para o híbrido, das aplicações preventivas de veneno para os programas de Manejo de Pragas. Nada que mate a gente, uai! Sobrevivemos a essas mudanças, vamos tirar de letra a agricultura de precisão.
  Porque agricultura de precisão?
Vamos relembrar: a técnica é revolucionária, o mote é o mesmo, maior competitividade. Racionalizando procedimentos, atuando na base micro da sua propriedade, o agricultor poupa insumos, melhora sua produtividade, aumenta a qualidade. É tudo o que ele precisa para que o seu produto saia da porteira da fazenda em condições de vencer no mercado. É o que está fazendo a Agropecuária Algar (Uberlândia, MG), investindo R$500 mil para preparar seu futuro. É o que estão fazendo milhares de produtores americanos, que conseguiram reduzir custos a ponto de se tornarem imbatíveis no mercado. Considerando o baixo preço do milho, fruto de seu alto potencial produtivo, e o peso da participação do adubo no seu custo de produção, qualquer 10% de economia em fertilizantes pode dobrar seu lucro. Cientistas do USDA relatam casos de agricultores poupando até US$180,00/há com agricultura de precisão. Ora, a um preço médio de US$5,00/saca, isto eqüivale a haver produzido mais 36 sacas/hectare, o que pode fazer toda a diferença na hora de disputar um mercado altamente competitivo. Estabelecido o novo paradigma, vamos repetir, ou se joga de acordo com as regras, ou o mercado se encarrega de eliminar os produtores menos competitivos.

Conferencia Mundial de Soja

Décio Luiz Gazzoni

A cada 5 anos ocorre um encontro dos cientistas que trabalham com soja, em todo o mundo. Desta vez foi em Chicago. Na próxima, se Deus quiser, será logo ali, em Foz do Iguaçu, porque os pesquisadores brasileiros foram muitos bem preparados para trazerem a próxima Conferencia para cá. Contar todas as novidades fica impossível, porque o resumo da Conferencia era maior que o Catálogo Telefônico de Nova Iorque. Mas vamos procurar colocar os pontos altos que aconteceram ao longo da Conferência. Comecemos pelo entorno.

Protecionismo
O presidente da EMBRAPA, Alberto Duque Portugal encontrou uma forma de criticar, com vigor, a iniqüidade do protecionismo europeu e americano à sua agricultura, que está criando problemas insuperáveis para os agricultores do Hemisfério Sul. O caso da soja é didático, neste momento, em que o Governo americano injeta mais de 3 bilhões de dólares para compensar os baixos preços aos produtores americanos. Munido de números contundentes, e de uma lógica irrefutável, Portugal deixou clara a contradição entre o discurso e a prática dos países ricos. Que, ao final, acaba revertendo contra eles próprios, porque a pobreza do Terceiro Mundo redunda em pressão econômica e social sobre o Primeiro Mundo. Abrir um espaço para que possamos exercitar nosso potencial agropecuário, também significa que poderemos dispor de renda para adquirir deles os produtos de elevada tecnologia, onde ainda não podemos competir. Se todos os representantes do Governo Brasileiro, e dos demais países emergentes, denunciassem com a mesma firmeza o discurso duplo dos países ricos, já teríamos aberto um importante espaço de negociação.
  Bolsa de mercadorias
Cristão não pode morrer sem ir a Jerusalém, muçulmano sem ir a Meca, e quem vive de agronegócios tem que bater ponto na Chicago Board of Trade. Atrás daquela confusão e gritaria que conhecemos pela TV, existe uma lógica impecável que determina os preços das principais commodities no mundo. Sempre tive curiosidade em ver como funcionava o mundo complicado da Bolsa, até descobrir que não é nada complicado. Para demonstrar a simplicidade, fomos convidados a atuar como corretores, em um pregão simulado, em que se misturaram os corretores reais e nós, pobres mortais. Com lotes padronizados, fica fácil para os dealers entrarem na retaguarda do pregão negociando nos limites de preços de seus clientes. O corretor tem a sensibilidade de saber quando vender ou comprar, e a agressividade para conseguir bons negócios, na faixa de décimos de centavos por bushel. A moça do quadro negro anota a cotação do último negócio fechado, que sempre baliza os seguintes. Mesmo com a baita seca que se abateu sobre o leste americano, até a semana passada a cotação da soja não apresentava reação suficiente para garantir a lucratividade que se pretende. Aí entra novamente a questão do protecionismo. O sojicultor americano pode se dar ao luxo de vender a US$4,80/bu, pois a mamãe governo banca a diferença para US$5,25.

A Meca do capitalismo
As histórias da Bolsa de Chicago são excitantes. As mercadorias “tradeables”, que reúnem as condições para negociação em bolsa, passam centenas de vezes pelo pregão de Chicago. Impossível? Não. Na esmagadora maioria das vezes, o vendedor não é um produtor, é um intermediário ou especulador. O comprador quase nunca é o processador ou o usuário final do produto, é alguém que compra com finalidades financeiras, negociais, de hedge, e pouco preocupado com o destino final da mercadoria. Até que, algum dia, a mercadoria atinge o seu destino último. Neste encadeamento ocorre a formação de preços, que depende da oferta e da procura, além de 40 outras variáveis macro ou micro-econômicas, políticas ou climatológicas.
  Pai coruja
Não é agronegócio, mas foi um grande negócio: meu filho foi aprovado no vestibular da UEL, 41 candidatos por vaga para Engenharia Eletrônica. Meu amigo Walter Barroso diz que, ultimamente, na UEL só entra gênio, tamanho o prestígio da nossa Universidade. Fico orgulhoso pelos dois, pela UEL (Parabéns Jackson) e pelo filho.

 

Esplanada verde e amarela

Décio Luiz Gazzoni

Do oitavo andar do Ministério da Agricultura tem-se uma visão privilegiada da Esplanada dos Ministérios, Congresso e Palácio do Planalto ao Fundo. Ao longo dela mais de 1000 caminhões materializando o protesto de milhões de agricultores, cristalizado na marcha da esplanada, que se tingiu de verde e amarelo. Verde das folhas, amarelo dos grãos. Mas também verde da esperança e amarelo do desânimo. Não tenho procuração para defender qualquer dos lados, aliás muito bem representados por suas lideranças. Porém ouso avançar na análise do porque chegamos aqui, e o que nos reserva o futuro. A conjuntura adversa é um detalhe, importa circunscrever o contexto, entender as causas, enxergar as saídas.   O nome do jogo é competitividade
Até aí concordamos eu, você, os sem terra e a torcida do Flamengo. Agricultura é um negócio, não como outro qualquer, pelos seus riscos e peculiaridades. Mas um negócio que vive da lucratividade para sua perenização. Se não formos competitivos, seremos abalroados por um trator de esteiras. E a competitividade se desdobra em baixo custo, alta qualidade, abertura de mercado, credibilidade, tecnologia, condição sanitária, requisitos sociais e ambientais, entre outros. Típico trabalho de quatro mãos, governo e produtores na busca do objetivo comum. Simples assim? Não, e vamos ver porque.
 

Vantagem comparativa e vantagem competitiva
Tenho dito que o Brasil é único nas vantagens comparativas de sua agropecuária, mas tem sido incapaz de transforma-las em fator de competitividade, por motivos internos e externos. Os internos primeiro: temos um custo Brasil de fazer inveja a marciano, estrutura tributária iníqua, transporte caro, dificuldade de armazenagem, portos ainda longe do ideal, crédito curto e juro alto, incapacidade mastodôntica de abrir e manter mercados. Quando o Governo tenta ajudar, como ocorreu com a Lei Kandir, viola um dos dogmas da competitividade, que é a agregação de valores. E ainda por cima limita não apenas o orçamento do Ministério da Agricultura como sua execução. Veja os números:

O fator externo
Sem querer arrumar desculpa, mas novamente alertando, os preços e as condições de comercialização são definidos no Hemisfério Norte. Enquanto a Europa e os EUA insistirem em subsidiar pesadamente sua agropecuária, a nossa missão fica duríssima, porque este subsídio anula a nossa capacidade de competição. Já disse e torno a repetir: A agropecuária da Europa não resiste a cinco anos de livre comércio! E, num ambiente liberado, o Brasil tem tudo para explodir como o grande líder do setor de agronegócios, em escala planetária. Qual foi a razão do fracasso antológico da Cimeira do Rio? A irredutibilidade dos europeus em colocarem seus subsídios agrícolas na mesa de negociações. Por isso minha insistência em se conferir muita atenção às negociações internacionais que ocorrem no âmbito da OMC.
  O MA investiu 0,5% do seu orçamento até junho
Dos R$410 milhões para investimentos, previstos no orçamento da União, foram liberados até o momento R$2,4 milhões. Valor ridículo frente às necessidades do setor. Após dois anos de investimento do Governo na implementação do sistema de Defesa Agropecuária (96 e 97), os recursos minguaram até o quase desaparecimento este ano. Ou alguém aí acredita que podemos competir no mercado globalizado sem um sistema sanitário de primeira linha? Bem, a contenção de recursos é de todo o Governo, alguém pode argumentar. Então é necessário avisar os ex-Ministérios da Marinha, do Exército, o Itamaraty, entre outros, que aplicaram entre 35 e 65% dos recursos de investimento.

 

  Rodada do Milênio
Você já ouviu falar dela? Não? Pois trate de ouvir, porque dela depende o seu agronegócio, qualquer seja ele. Se o Brasil, e os demais países externos ao Bloco EUA/UE/Japão não conseguirem arrancar condições mais favoráveis em direção a um livre mercado, vamos continuar pintando a Esplanada de verde e amarelo. Pode mudar o teor das reivindicações, mas a raiz do problema continuará a mesma. Precisamos exigir efetividade das nossas lideranças e dos nossos negociadores, para a implantação definitiva de um livre mercado globalizado.

 

 

 

 

Definindo o rumo

Décio Luiz Gazzoni

O Ministro Pratini de Morais nos fez uma visita de duas horas, na Secretaria de Defesa Agropecuária do MA. Foi a oportunidade de ouvir de viva voz seu programa e, durante a conversa, clarificar os rumos que pretende imprimir ao Ministério durante a sua gestão. Além de lidar com a rotina do dia a dia, como foi o protesto reivindicatório da classe rural durante os últimos dez dias, o Ministro reafirmou o compromisso do presidente FHC com as duas metas principais da Agricultura: produzir 100 milhões de toneladas de grãos e exportar US$45 bilhões, até 2003. Como fazê-lo?   Renda agrícola
Produzir é a parte mais fácil do processo. Pode-se dizer que é um ato reflexo das condições oferecidas. Se houver mercado e preço remunerador, o setor de agronegócios se encarregará de suprir a demanda. No entender do Ministro, a agropecuária é um setor especialíssimo dentro do conjunto da economia, pelas peculiaridades produtivas, sujeita a riscos ausentes em outros setores. Para ele, é necessário tratar a agropecuária de forma diferente, em que a política agrícola não deve estar amarrada nos paradigmas comuns dos demais setores da economia. Mostrou-se um adepto do sistema de equivalência-preço/produto como forma de garantia da renda rural. E deixou claro que terá uma estratégia especial para carnes e frutas, produtos de alto valor agregado.
  Abertura de mercado
No mercado não existem anjos, e o Ministro conhece bem o mercado. No setor agropecuário então, o discurso tem sido a antítese da prática. Os pesadíssimos subsídios agrícolas aplicados pelos países do Hemisfério Norte se encarregam de destruir os esforços dos países emergentes para se posicionar no mercado. É hora de gritar grosso, atuar agressivamente nos foros internacionais onde se discute o livre mercado, colocar uma cunha no mercado, impondo-se pelo dueto qualidade/preço, garantindo o espaço de comercialização perenizado para os nossos agro-produtos. A rodada do Milênio é um dos primeiros desafios do Ministro, para tentar fazer com que os países ricos aproximem sua prática de seu discurso.

Tecnologia
No início do milênio, a tecnologia deve se defasar em um lustro. A variedade que representa hoje o supra sumo tecnológico, poderá não ser mais plantada em 2005. O esforço tecnológico que vem sendo feito pelos países ricos não tem similar na História, e servirá como um colchão competitivo, quando forem obrigados a abrir mão de seus subsídios à agricultura. Com todas as letras, o Ministro deixou claro seu entendimento de que a Embrapa e o sistema de pesquisa por ela coordenada, é a grande alavanca estratégica para nosso posicionamento competitivo no mercado.
  Sanidade agropecuária
"São vocês que carimbam o passaporte de nossos produtos para o mercado", afirmou textualmente o Ministro ao Secretário da SDA, Luiz Carlos de Oliveira e aos demais presentes. O Ministro demonstrou muita clareza na nova arquitetura que se implementa no mercado, em que não existe espaço para a produção em um ambiente não saneado, ou para produtos em desconformidade com os padrões e regulamentos internacionais. Para alegria dos setores público e privado, que clamam pela imediata implantação da Agência Nacional de Defesa Agropecuária, deixou claro seu posicionamento pessoal, favorável à estratégia elaborada pelo dois setores, para conferir agilidade, autonomia e flexibilidade à Defesa Agropecuária, e a conseqüente criação da Agência.
  Recursos
É onde aperta o calo, e onde o Ministro vai ter que atuar com urgência urgentíssima, dissemos a ele. Na última coluna apontei o arrocho financeiro imposto pelo MF à Agricultura. Tem mais: estamos no meio do processo de sorologia para declaração de área livre de Febre Aftosa, e os recursos previstos continuam adormecidos nas gavetas da burocracia governamental. Se não for liberado em tempo, além do fiasco internacional que patrocinaremos, estaremos adiando ainda mais a penetração no mercado de carnes do Primeiro Mundo, e aí sabemos você, eu, o Ministro e o Presidente da República, não há como cumprir qualquer das metas que o Governo se impôs.

Agricultura de precisão: que bicho é este?

Décio Luiz Gazzoni

Lembra o tempo em que se guardava milho em espiga no paiol, plantado na primeira chuva de setembro? Controlar pragas era mistura de reza braba com pesticida tão brabo que matava a praga e às vezes o aplicador? Se colhia parte da lavoura e o resto ficava lá, perdido? É, doutor, algumas coisas mudaram. Já inventaram nomes esquisitos como "administração pontual da produção agrícola", ou "produção agrícola variável espacialmente". Complicado, hein? Então vá lá, chame de agricultura de precisão e vamos entender que raio é este, que vai ser o novo diferencial de competitividade para o novo século.   Melhorando o que já era bom
Para entender vamos voltar no tempo, um pouco depois da espiga no paiol. Intuitivamente, nossos avós escolhiam as melhores espigas. Depois, buscaram a melhor variedade para sua região. Começavam a ser precisos. Descobriram que havia um tempo melhor de plantar, e um tempo melhor de colher. Um tempo melhor para corrigir o solo, adubar, capinar. Foram ficando precisos. Cada refinada no sistema de produção aumentou a precisão: adubar o solo, só com análise de solo. Melhor ainda, com orientação do agrônomo. Nitrogênio? Não, bactérias associadas à soja ou feijão. Jogar a semente no solo, não. Calcular o melhor espaçamento e densidade, regular bem a máquina. Deixar parte da colheita no campo, nem pensar: melhor preparo de solo, variedades adequadas, regulagem da colhedeira e o desperdício foi diminuindo.

Já é a agricultura de precisão?
Calma, chegaremos lá. A palavra chave é competitividade. Para estar à frente de seus concorrentes, conquistar espaço de mercado e ampliar a margem de lucro, é preciso trabalhar na fronteira do conhecimento, usar a última informação e o ferramental mais moderno que se disponha. Há alguns anos, o moderno era o que descrevemos acima. E ainda é o que se usa no campo. Mas estamos no limiar de uma das revoluções tecnológicas que alteram paradigmas. A forma como você fazia as coisas era a melhor, até surgir uma melhor. E o avanço da tecnologia está descortinando novas possibilidades. Quem as utilizar obterá aquele diferencial de competitividade que lhe permitirá reduzir custos, melhorar a qualidade e, eureka! conquistar e consolidar os mercados compradores. Estabelecido o novo patamar na relação custo/preço, ou você se adapta às novas regras, ou muda de jogo. Digo, de atividade.

 

 

  Agronomia, agro-informática, agro-eletrônica...
A agricultura de precisão significa conduzir cada etapa do sistema de produção da forma mais precisa possível, utilizando o máximo de informações, processadas com o melhor instrumental, para reduzir custos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade. Os objetivos são sempre os mesmos, a forma de atingí-los é que muda. Ao invés de considerar sua propriedade como se fosse uniforme, maximize a produtividade de cada talhão, atentando para suas peculiaridades. Ao invés de tomar as amostras de solo, misturá-las e trabalhar com a média para adubar, subdivida a informação criando um tabuleiro de xadrez na sua propriedade, ordenando à máquina que libere a quantidade de adubo exata para cada "casa" do tabuleiro. Significa não desperdiçar adubo nas áreas mais férteis, nem reduzir a produtividade nas menos férteis. Sonho?

 

 

  As novas armas do agricultor
Sonho coisa alguma. Os americanos trabalham com a meta de cultivar 25 milhões de hectares com agricultura de precisão, no ano 2000. A parceria entre universidades, institutos de pesquisa, indústria de máquinas e de insumos, aprimora constantemente o novo paradigma. O segredo é o GPS, um relóginho complicado, cujo nome completo é Global Positioning System. Ele informa as coordenadas do local, através da triangulação de satélites. Com o GPS, um agrônomo pode refazer o mapa da sua fazenda, baseado em suas coordenadas, e reprogramar as atividades. Os tratores passam a ser especiais, especiais serão as plantadeiras, os pulverizadores, as colhedeiras. Porque conterão a eletrônica embarcada, ou seja, um equipamento de GPS, e um computador que recebe a programação do que fazer de acordo com as coordenadas do local, elaborado pelo agrônomo. Para isso, ele necessita de informações sobre a fertilidade do solo, a topografia do local, as ervas daninhas que existem (ou irão germinar), etc. Esta é a nova realidade, que os nossos agricultores irão enfrentar.

Só Mudar o Câmbio não Resolve

Décio Luiz Gazzoni

Nada contra o Plano Real, sofisticado, ousado, bem executado, que simulou uma hiperinflação (o que o Collor queria e não conseguiu), sem dor maior para a sociedade. Os pontos principais foram: a) preços de bens e serviços livres, modulados pela URV; b) salários indexados à URV; c) juros altos, freando a economia; d) paridade cambial fixa, "importando" a inflação mundial. Resultados: a) mercado aberto procurando o ponto de equilíbrio oferta/demanda; b) distribuição de renda estacionada em um ponto de equilibrio relativo; c) abrupta abertura para o exterior, com redução de tarifas de importação, cotas, exigências, etc.   Excesso de zelo
Marginalmente, os ideólogos do Plano Real sobrevalorizaram a moeda brasileira no dia D=0. Eu imagino que a lógica foi garantir as metas de estabilização da moeda, ganhar um espaço para desvalorização do real quando a grita ficasse muito forte, e forçar a busca da competitividade através de outros instrumentos que não a desvalorização cambial. Talvez aí tenha estado o erro, premissa certa, resultados desastrosos. Este equivoco, que durou mais de 4 anos, exterminou milhões de empregos e levou à falência dezenas de milhares de pequenos empreendedores, nos três setores da economia. E arrastou junto alguns ícones, fortalezas da área empresarial, expulsas do mercado pela impossibilidade de adaptação à esta dura política. Política contracionista, matriz do atual confronto "desenvolvimentas" e "estabilistas da moeda". Como se as duas vertentes não pudessem conviver, como ocorre nos EUA, no Reino Unido, etc.
  Mudança forçada
Ruiu por terra o discurso do preço da inserção brasileira nos mercados financeiros globais, que estávamos no ponto para participar do mercado globalizado, que éramos uma fortaeza imune a turbulências financeiras. Agora o Governo compra, integralmente, o discurso de quem lhe chamou a atenção, durante os quatro anos, que real supervalorizado e juros nas nuvens deveriam ser políticas de curtíssimo prazo, enquanto se implantavam as políticas de médio e longo prazo. Corrigiu-se a paridade cambial (parece que a defasagem era 60 e não 30%), os juros altos são condenados no discurso oficial. Era fatal que ocorreria, então porque não havê-lo feito em tempo?

Governo reativo
Esse governo parece ter um tempo de reação mais demorado do que a sociedade desejaria. A demora na correção da política econômica minou de tal forma a capacidade empreendedora brasileira, que mesmo após 8 meses de câmbio liberado, não conseguimos relançar a economia a partir da base exportadora. Minou-se a confiança, destruiu-se parcela ponderável da capacidade produtiva instalada, não houve o devido investimento para a modernização, capitais são escassos. O Governo não promoveu o conjunto de reformas, na dimensão necessária, e o déficit fiscal, ancorado no rombo monstruoso da previdência, ameaça arrastar para o inferno qualquer esforço de equilíbrio de contas públicas.
 

As saídas
Não há muitas. Temos que jogar dentro das regras do jogo, leia-se, da Organização Mundial do Comércio, sem protecionismos, sem artificialismos. Para recuperar a economia, primeiro precisamos investir na nossa vocação maior e no setor da economia que responde mais rápido, com maturação de investimento mais curta, com custo de geração de emprego mais baixo. O leitor imagina o Brasil, no futuro próximo, como líder mundial do setor de informática? Não. Então, é óbvio que estamos falando de agropecuária e das cadeias de agronegócios. Tive a oportunidade de expor este raciocínio ao Ministro Pedro Malan, ao preparar as exposições de motivos solicitando recursos para a criação da Agência Nacional de Defesa Agropecuária, e para a consolidação do Sistema de Defesa Agropecuária dos Estados. Não vejo como recuperar o conjunto da economia, se o setor primário não explodir primeiro, para alavancar o restante. Investindo em tecnologia e sanidade, fornecendo as condições de produção e comercialização. Espero não ter que martelar este trecho dezenas de vezes, como fiz nos últimos 4 anos com o parágrafo do Excesso de zelo, logo aí em cima.

Queimadas

Décio Luiz Gazzoni

Quem andou viajando pelo Centro do Brasil, em especial nas áreas de cerrado ou na Amazônia, nos últimos três meses, ainda deve estar com o coração doendo de ver a devastação provocada pelas queimadas. Se a viagem foi por via terrestre, aquele cheiro forte de fumaça, os focos de incêndio, árvores carbonizadas, um cenário lastimável. Se a viagem foi aérea, os problemas eram outros, inclusive o cancelamento da viagem, como ocorreu nos aeroportos de Cuiabá, Rondonópolis, Corumbá e outros, onde a fumaça inviabilizou o tráfego aéreo. Aeronaves pequenas, nem pensar, a visibilidade era quase nula até 10.000 pés. Se a viagem era noturna, quem sentava na janela não conseguia contar os inúmeros focos de incêndio. Mas será este um fato inexorável, a repetir-se anualmente? Será o modus vivendi que vamos transmitir aos nossos filhos?   Há esperança
Quem conhece a Amazônia sabe que é um desafio para pequenos e grandes produtores produzir sem queimar. Os órgãos de pesquisa não tem virado as costas para o desafio. Não existem soluções fáceis. Nem um manual que revolucione uma prática herdada de tempos imemoriais. A pesquisadora Tatiana de Abreu Sá, engenheira agrônoma da Embrapa Amazônia Oriental, doutorada em eco-fisiologia, trabalha no Projeto Capoeira desde 1992, coordenando uma equipe de 15 estudiosos. Com financiamento da Embrapa, do CNPq e do GTZ, atingindo US$150 mil anuais. A partir deste ano vão ao campo sistemas de produção envolvendo trituração da capoeira nativa e enriquecimento com espécies fixadoras de nutrientes. E é proibido queimar!
  Manejando a capoeira
A pesquisa está sendo realizada no Nordeste do Pará, local de solos pobres, e área desmatada há mais de século. Os primeiros agricultores foram trazidos durante a construção da estrada de ferro. Inicialmente, a prática local incluía rotação de áreas de cultivo a cada 25 anos. Com o passar do tempo, este intervalo reduziu-se, e hoje os agricultores abandonam as áreas a cada cinco anos. Uma das razões do empobrecimento é a queimada, que elimina a capoeira nativa, restringindo a reciclagem natural de nutrientes do solo. A manutenção da capoeira, como forma de conservação do solo, de manutenção de suas propriedades funcionais e para evitar a perda de fertilidade, foi uma das premissas da pesquisa realizada. Para tanto é preciso manejar a capoeira.

Maquinaria apropriada.
A primeira alternativa foi desenvolver um implemento agrícola, denominado TRITUCAP, que, acoplado a qualquer trator, serve para triturar a capoeira. Uma vez triturada, não há necessidade de queimá-la, porque a capoeira moída decompõe-se mais rápido e permite realizar outras operações agrícolas. Desenvolvido pela equipe da Embrapa, o implemento está em testes junto a agricultores, para que possa ser melhorado e aperfeiçoado. Em função das características do trabalho, e dos aspectos de solo e vegetação da região, foi desenhado um implemento que, executando a tarefa principal de triturar a capoeira, não compacta o solo. Também não poderia ser um equipamento caro, para não inviabilizar sua utilização.

 

  Enriquecendo a capoeira
Uma evolução do processo anterior foi a introdução no capoeiral de espécies fixadoras de nitrogênio. Por exemplo, está sendo usada a Acacia angustissima, que é uma leguminosa exótica, e que apresenta crescimento rápido. Em consequênca, a massa verde da capoeira dobrou de volume, e o nitrogenio passou a ser incorporado ao solo. Através desta técnica, substitui-se a adubação com nitrogênio, aumentando em muito o teor deste elemento essencial no solo. Para efetuar um ajuste final no processo, os cientistas da Embrapa estudam modificações no calendário agrícola dos produtores, sempre buscando uma alternativa para as queimadas. Ou seja, temos esperança à vista. Se você se interessou pelo assunto, ligue para a Dra. Tatiana (091 2466333), ou enve um mail para ela (tatiana@cpatu.embrapa.br)

É guerra!

Décio Luiz Gazzoni

É o roto falando mal do esfarrapado, digo argentino falando mal de brasileiro, e vice-versa. Ou, para usar outra sabedoria popular, em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. Uso os provérbios como introdução para a crise pela qual atravessa o Mercosul, que todos nós sabemos é a Argentina e o Brasil, com participação (muito) secundária do Uruguai e do Paraguai. Por conta do ajuste cambial efetuado no Brasil, acabou-se a farra de exportação argentina para o Brasil, mas iniciou uma guerra de acusações. O que dizem os fatos?   Seqüência de erros...
O Brasil errou ao ingressar no Mercosul preocupado em vender produtos de alto valor agregado, em especial automóveis e auto-peças, sem tomar precauções, sem negociar salvaguardas. O setor agropecuário nacional bancou a nossa entrada no bloco, gerando gritas e protestos das lideranças. Que nunca foram ouvidas, em nome de um projeto maior, que previa a integração sub-continental e o preparo para enfrentar o mundo globalizado. Ocorre que o Mercosul significou abrir o mercado brasileiro para os demais parceiros, em especial a Argentina, que passou a ser extremamente dependente do Brasil. Há um ano usei, nesta coluna, a expressão "um bêbado segurando o outro" – se um caísse o outro se espatifava. Foi o que ocorreu quando o Brasil não conseguiu manter a paridade cambial artificial e, em 8 meses, houve uma desvalorização do Real superior a 60%. O bicheiro da esquina sabe que, nessas condições, não havia como manter a fúria exportadora Argentina para o Brasil.

...que geraram protestos...
Enquanto o Brasil era a grande mãe das tetas grandes e aparentemente inesgotáveis, era tido e havido como um modelo de modernidade, de integração comercial, o paradigma do país globalizado com justiça, etc. Ao menos do ponto de vista das lideranças públicas e privadas do irmão de fronteira. Ocorre que, pelos erros brasileiros, a defasagem cambial argentina não se tornou tão evidente, afinal nós éramos o seu grande comprador, e a nossa moeda também estava supervalorizada. Quando fomos obrigados a corrigir a paridade, os argentinos ficaram com a faca no pescoço: ou também o faziam, ou obtinham um ganho de produtividade e de competividade hercúleo, ou entravam em depressão, ou fechavam o seu mercado. Primeiro vieram os protestos, as gritas, as tentativas de encontrar dumping e subsídios nas exportações brasileiras, que chegavam mais baratas em Buenos Aires. Não foi suficiente, e fecharam o mercado. Que agora tem o troco brasileiro.
  ...que ninguém sabe onde vai terminar...
Quando a Argentina colocou leite no mercado nacional a preços inferiores ao praticado no mercado interno, adquirindo produto subsidiado da Europa para derrubar os produtores brasileiros, de nada adiantou o protesto e a justa reivindicação da FAEP e de outras lideranças agropecuárias. O governo fazia ouvidos moucos, em nome do Grande Projeto. E continuava fazendo, pois este ano, com desvalorização cambial, houve um acréscimo de 50% nas compras de leite argentino. Mas a coisa é muito mais séria que isto. Integração comercial não é um processo indolor, que o diga a UE, em função da necessidade de macropolíticas econômicas comuns. Não é o caso do Mercosul, e arriscamos por a perder um projeto que teria muito futuro, por conta de desvios conjunturais.
  ...e que nos tira força
Justamente agora, na véspera da Rodada do Milênio, resolvemos nos desentender. A Rodada será uma briga de países pobre contra ricos. Os pobres pedindo justiça comercial, os ricos exigindo a manutenção de seus privilégios e subsídios, em especial à agropecuária. Aliás, a UE já fechou questão acerca da PAC (Política Agrícola Comum), que será defendida com unhas e dentes na Rodada do Milênio. Então, só tínhamos uma chance: uma agenda comum dos países pobres, reivindicando de forma unida e organizada justiça e equidade comercial. Mas, parece que esta briga Brasil x Argentina vai significar azeitona na empada ou orgasmo coletivo nos negociadores dos países ricos. Quem sabe, talvez na Rodada do Quarto Milênio...

O ouro branco mato-grossense

Décio Luiz Gazzoni

Poder prestar sua contribuição ao desenvolvimento de Mato Grosso é o sonho enrustido de todo o agrônomo. Estado que cresce agressivamente, onde as oportunidades apenas encontram paralelo no tamanho dos desafios. Aceitei, com prazer, um destes desafios, que foi o convite do Governo do Estado para elaborar o Plano Diretor da Defesa Sanitária do estado. É uma oportunidade ímpar de perfunctar as entranhas do processo de desenvolvimento do estado onde a produção agrícola mais cresce no Brasil, quiçá no mundo. Após a explosão da soja, Mato Grosso consegue a façanha de desafiar o mercado internacional e tornar-se o maior produtor nacional de algodão, reativando uma produção que parecia fadada a desaparecer do mapa do Brasil.

  Os números
Mato Grosso mal aparecia nas estatísticas de produção brasileira de algodão. Durante anos a área permaneceu estabilizada em 50 mil hectares, ainda assim fruto do empuxo do visionário Olacyr de Moraes, que o introduziu na Fazenda Itamaraty Norte, empreendimento pioneiro em termos de cotonicultura de áreas extensivas. Lá a área era pequena, a produtividade regular, de 1800kg/ha de algodão em caroço, ainda acima da brasileira (1330kg/ha). A virada, brusca, verdadeira revolução, ocorre em 1998, quando dobra a área plantada, a produtividade dá um salto gigantesco de 50%, e a produção cresce 200% em um ano! Nesta safra, a produtividade conseguiu ser ainda maior e alcançou 2850kg/ha (média do Brasil, sem o MT: 1250kg/ha). A área também aumentou 72%, e a produção global atingiu 544 mil toneladas. E a promessa é um novo recorde para a próxima safra. Onde está o segredo?

 

  As razões do salto
Como sempre não há causa única. Existia uma base tecnológica instalada, representada por variedades adaptadas e produtivas, um bom sistema sanitário, solo e clima adequados. Faltava o estímulo para atrair os capitais e empreendedores. O Governo do Estado, através da Lei 6883 (2/6/97) instituiu o Programa de Incentivo ao Algodão. Este programa prevê uma renúncia fiscal de até 75% do ICMS, em função da qualidade da fibra do algodão. E, desde que, o agricultor use variedades recomendadas, faça Manejo de Pragas, em especial com destruição dos restos de cultura, que elimine corretamente as embalagens de agrotóxicos. E que todo o processo de produção tenha um engenheiro agrônomo com responsável técnico. Uma parte da renúncia fiscal (15%) é destinada ao FACUAL, um fundo gerido paritariamente pelo governo e iniciativa privada, destinada a suportar as atividades de ciência, tecnologia e sanidade.

Um ovo de Colombo
O governo deixou de arrecadar 12% de ICMS. Porém sobre uma base tributária de 70.000 t, com rendimento de fibra de 33%. Passou a arrecadar, em média, 4% sobre 550.000t, com rendimento de fibra de 38%. Ou seja, aumentou a arrecadação direta em 200%, com renúncia média de 70% do ICMS. Mágica? Não, inteligência de entender que se vende produto e não imposto. Afora os ganhos obtidos na cadeia produtiva, e o impulso nos demais setores da economia. O Governo Estadual estima que, para cada real de arrecadação direta, é possível arrecadar R$2,90 indiretamente, pelo surto de progresso econômico que ocorre. Além do que, auxilia, e muito, a minorar a praga deste final de século, que é o desemprego, pois a cada 70ha plantados, é gerado um novo emprego. No caso, apenas na lavoura adicional dos últimos dois anos, foram gerados 20.000 empregos. Diminui o desemprego, aumenta a arrecadação, movimenta a economia? Que essa lição cale fundo no Congresso Nacional, que ora analisa a reforma do sistema tributário, voraz e insaciável predador do capital e do trabalho.
  A festa continua
Até porque o MT descobriu a cornucópia, e agora vai incentivar nos mesmos moldes a fruticultura e a cafeicultura. Estados do Sul tremei, que o gigante se movimenta. Por sua característica empreendedora, agressiva, de raro entendimento da importância da tecnologia e da sanidade no processo produtivo, o Mato Grosso será o líder da produção e da agroindústria nacional. É onde estão as grandes oportunidades no curto e médio prazo.

Embrapa, uma empresa profissional

Décio Luiz Gazzoni

Dia 21 de abril, Belo Horizonte, tomo café da manhã com o Ministro Turra, duas horas de conversa sem testemunhas ou agenda. Em determinado momento, lancei a pergunta: "E a Embrapa, Ministro?" Resposta "A Embrapa é a melhor coisa que existe no MA. Os meus colegas de Ministério gostariam de ter uma Embrapa nas suas pastas. A Embrapa só me traz alegrias. De vez em quando um colega seu atravessa as regras, mas isto não arranha a Embrapa como um todo." Disse mais "Os elogios para a Embrapa não vem só dos produtores brasileiros, mas de todas as autoridades estrangeiras que me visitam". Aliás, há 10 anos já tinha ouvido frase semelhante do ex-presidente Sarney. No cipoal de denúncias e queixas contra instituições públicas, onde está o segredo?   Foco na missão
Entre outras, duas razões fundamentais: clareza da missão e gestão profissional. A política de C&T da Embrapa se inspira nas políticas governamentais. O PPA 2000 fixa 4 estratégias, sendo a segunda "promover o desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e oportunidades de renda;"e a terceira " combater a pobreza e promover a inclusão social." O macro-objetivo "aumentar a competitividade do agronegócio" aponta para a Embrapa. Uma das diretrizes reza "apoiar a modernização tecnológica da agropecuária, em articulação com o setor produtivo e a agroindústria, visando a competitividade das cadeias produtivas".
  Orientação do MA
Os 4 pontos estratégicos do MA são: 1.Promover o desenvolvimento auto-sustentado do agronegócio e assegurar o abastecimento e a geração de divisas; 2.promover a geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias para o desenvolvimento sustentado do agronegócio; 3.garantir os requisitos de qualidade, sanidade e segurança para os produtos de origem animal e vegetal; 4.promover o desenvolvimento e a integração sócio-econômica da agricultura familiar. Os pontos 1 e 2 falam diretamente à Embrapa, e os demais dela dependem. O Fórum Nacional da Agricultura propôs a criação do Instituto de Pesquisa, para garantir a estabilidade institucional da Embrapa, fundamental para o sucesso dos agronegócios.

Plano Diretor da Embrapa
Nele, a Embrapa fixa 4 objetivos, buscando soluções tecnológicas para: 1.desenvolvimento de um agronegócio competitivo em uma economia global; 2.promoção da sustentabilidade das atividades econômicas com o equilíbrio ambiental; 3.diminuição dos desequilíbrios sociais; 4.fornecimento de matérias-primas e alimentos que promovam a saúde e a melhoria do nível nutricional e da qualidade de vida da população. Estes objetivos desdobram-se em 14 programas, com 520 projetos, executados diretamente ou através de parcerias, com um orçamento aproximado de US$250 milhões.
  Gestão profissional
Como consultor do Banco Interamericano, pude constatar que a praga da interferência de maus políticos na gestão das instituições públicas não é prerrogativa brasileira. Via de regra, esta fisiologia nefasta leva ao desmonte e à falência institucional. Em toda a consultoria que presto às instituições públicas, independente do país, aconselho reduzir e limitar o espaço de atuação de políticos interessados apenas em apadrinhar correligionários, porém apoiando-se nos homens públicos sérios, interessados no cumprimento da missão institucional. Antes que a Constituição de 1988 o exigisse, a Embrapa se auto impôs o Concurso Público para contratação de empregados.
  Outro decreto presidencial exigiu titulação acadêmica mínima para ocupar cargos de direção da Empresa. Cercou o tema ao estabelecer que seus diretores serão indicados pelo Conselho de Administração. Finalmente, passou a exigir concurso público para o preenchimento de cargos gerenciais, com o claro intuito de captar para a empresa os melhores talentos gerenciais, fugindo do corporativismo de buscar gerentes exclusivamente em seus próprios quadros. Um exemplo é o Chefe da Embrapa-Soja, aqui em Londrina, que assume hoje suas funções. O professor e pesquisador Caio Vidor foi selecionado exclusivamente por seus méritos, e por isso assume a direção do Centro, com a confiança do público interno e externo.

Cai a renda do produtor

Décio Luiz Gazzoni

Segundo o professor Homem de Mello (USP), no governo FHC, a fuga de renda da agropecuária foi de R$15 bilhões. Daria para renovar 70% da frota de tratores, para ter multiplicado renda na cadeia produtiva, e produzir centenas de milhares de empregos. Tenho comentado que a agropecuária é o setor com maturação mais rápida de investimentos, com alto potencial de retorno, com o emprego mais barato. Falta só convencer quem detém o poder destas verdades acacianas.   Os números
Que saudade de 1989. Produzíamos menos, mas o valor bruto da produção foi R$ 73 bilhões. Em 90, lembra da dupla Zélia/Collor? Deram aquele tombo, e a renda caiu para R$58 bilhões. Recuperou-se até 94, atingiu o pico da década (65 bilhões), despencando para o poço em 96 (R$57 bilhões). Este ano não passará de 60 bilhões. Estes valores foram calculados para 19 produtos vegetais e 4 animais. No cálculo ponta a ponta da década, queda de 32,5%. Só no governo FHC 19,4%. Quais as causas? O governo é culpado por algumas, não por outras.
  Preços internacionais
Aqui o governo quase não tem culpa. Os preços dos produtos agrícolas estão em descenso. Por excesso de oferta. A demanda não está suprida, mas mercado é renda e não fome, e a comida falta nos países que não tem dinheiro para comprá-la. Violento subsídio (mais de US$300 bilhões) é a causa da super-oferta. Até aí a inação governamental apareceu. Em abril passado, tive uma longa conversa com o Ministro Turra, mostrando que só havia duas soluções para a próxima safra de soja: ou desastre climático nos EUA (graças a Deus, ocorreu) ou uma agressiva negociação política, em que os US$5 bilhões que o USDA dispunha para bancar o preço mínimo da soja americana serem convertidos em ajuda humanitária, comprando soja no mercado e doando a países paupérrimos da Ásia e África, que jamais comprariam esta soja. Os EUA passariam por grandes filantropos, e o estoque seria tão reduzido que o preço subiria para todos. O Ministro comprou a idéia entusiasmado, a qual morreu na bur(r)ocracia governamental.

Taxa de câmbio
Já é comida requentada. Com o real supervalorizado em 60%, quem podia competir? Pagávamos insumos importados em dólar, correndo todos os riscos da desvalorização, e vendíamos a produção a um dólar aviltado, que surripiou a renda interna. Agricultor descapitalizado significou fim da expansão da área, menor uso de tecnologia, menos investimento em máquinas, implementos e outras melhorias, e até os gastos de custeio diminuíram.
  Abertura comercial
Tá certo, precisava abrir, mas não escancarar. Abertura negociada, toma lá dá cá. Eu baixo as alíquotas de importação, você retira a sobretaxa do suco de laranja, elimina a cota do álcool, do açúcar e assim por diante. Ficamos completamente expostos, arrasando setores, sujeitos à competição com países que subsidiam a produção e fecham o seu mercado. E até a processos de dumping, como foi o caso do leite argentino. Em conseqüência, abrimos a década importando US$2,5 bilhões em agro-produtos, e estamos hoje em US$6,5. Só esses 4 bilhões explicam a perda de renda.
  Taxas de juros
Duplo efeito: por um lado inibiu o crédito, levou a falência inúmeros agricultores, transformados em sem terra. Por outro, juros altos inibem estoques, derrubando os preços. O governo alardeia que o crédito de custeio baixou para 5,5 e de investimento para 9,8%. Verdade parcial: não há volume de crédito para atender a demanda, com estas taxas. Na prática o agricultor sai do banco pagando juros de mercado. E os concorrentes? Pagam 1-2% a.a., fictícios, porque o subsídio que recebem torna ainda mais ridícula esta taxa.

 

 

 

 

Tributação
O sistema tributário é iníquo, caótico e desorganizado. Tributa mal, com alíquotas altas, é altamente sonegado, e taxa demais quem produz e quem paga. É só olhar o exemplo de Mato Grosso: ao isentar o algodão em 75% da alíquota de ICMS, o estado se tornou, em 3 anos, o maior produtor nacional, saindo de 50 para quase 600 mil ha, triplicando a arrecadação do governo, movimentando a cadeia produtiva, e gerando milhares de empregos
  As saídas
As receitas são simples, o duro é convencer quem nunca tomou sol no lombo. Não foi por falta de aviso, conselho, reunião, fóruns, debates, entrevistas, denúncias, etc. O sistema CNA tem sido pródigo em tentar encontrar soluções. Tive a oportunidade de acompanhar o presidente da FAEP, Ágide Meneghetti, em diversas audiências ministeriais, reivindicando soluções para a falta de renda no campo. Infelizmente, para o governo, agricultura é prioridade. Prioridade no discurso. Na prática é a contínua perda de renda, o descaso com o único setor da economia superavitária na balança comercial, onde o Brasil tem a oportunidade de, no médio prazo ser o líder mundial. Sim, não é sonho, com um trabalho sério e profissional, o Brasil amanhã pode vir a ser o que é os Estados Unidos hoje. Um mote final para você refletir: nos próximos 15 anos o mundo terá mais 1 bilhão de estômagos. Vamos precisar produzir mais 600 milhões de toneladas de grãos, além de frutas, hortaliças e fibras. Quem poderá produzir? Onde a área pode expandir?

A Fixação Biológica de Nitrogênio

Décio Luiz Gazzoni

Quero crer que a esmagadora maioria dos produtores de soja e feijão nunca fez as contas, na ponta do lápis: se não fosse aquele pó misturado com a semente, o tal de inoculante, será que valeria a pena plantar? Sobraria algum lucro no final da safra? Isto porque, apesar de 80% do ar atmosférico ser composto de nitrogênio, ele é composto de moléculas com uma tripla ligação química muito forte. Para quebrá-la é preciso usar muita energia, o que torna o adubo nitrogenado muito caro. Aí é que os institutos de pesquisa deram aquela força enorme, poupando milhões de dólares anuais aos produtores.   As bactérias que aproveitam o nitrogênio
Alguns desses microrganismos vivem no solo, como Azotobacter, Beijerinckia, Derxia, Clostridium, outros nas raízes (Azospirillum), ou na parte aérea das plantas como Herbaspirillum e, Frankia. Mas nos interessam as bactérias simbióticas dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium que fixam nitrogênio nas plantas. Aquele pó que você mistura nas sementes contém estas bactérias. Colocadas em contato com a semente, na germinação penetram nos tecidos da raiz, formando os nódulos, onde as bactérias multiplicam-se. É dentro do nódulo que são sintetizadas a leghemoglobina e a nitrogenase, que não existem na bactéria ou na planta. A nitrogenase é uma enzima que faz o papel dos tanques de reação das fábricas de adubo, quebrando a molécula de nitrogênio, sintetizando a amônia. A leghemoglobina tem a mesma função da hemoglobina no sangue humano, transportando oxigênio para os nódulos, e dá a cor avermelhada no interior dos nódulos.
  A simbiose
Simbiose é um processo de associação (parceria, como está na moda), em que os dois organismos se beneficiam e levam vantagem. A bactéria produz a amônia, transforma-a em outras substâncias nitrogenadas, e a seiva se encarrega de distribuí-las pela planta, até formar aminoácidos e proteínas, base do sistema estrutural da planta. E a bactéria, o que ganha? Ela recebe da planta outros nutrientes, como os carboidratos para sua manutenção, e que produzem a energia para transformar o nitrogênio em amônia.

O trabalho do cientista
A coisa mais fácil para os pesquisadores foi descobrir este processo. Antes fora tudo tão simples. Ocorre que cada leguminosa (Soja, Feijão, Trevos, etc.) necessita de uma bactéria específica. Mas a coisa também não termina aí. Existem raças de bactérias, as chamadas estirpes, que são mais eficientes na fixação do nitrogênio. Uma estirpe mais eficiente significa maior produtividade. Mas também deve possuir adaptabilidade ao maior número de cultivares da espécie vegetal, e ter um bom rendimento industrial. Então, o trabalho do cientista é buscar continuamente novas estirpes, testar milhares delas em laboratório, confirmar os melhores resultados em casa de vegetação, para só depois levar os experimentos para o campo. Este trabalho é feito em parceria, envolvendo as principais instituições de pesquisa do Brasil. Quando os cientistas são convencidos, pelos resultados de todos os testes, que encontraram uma nova estirpe que seja importante para o agricultor, entra em cena o Ministério da Agricultura, que efetua o registro da mesma, podendo, então, serem produzidas industrialmente. Os industriais precisam buscar a estirpe "semente" em um Banco de Estirpes, que é mantido pela Fundação de Pesquisa Agropecuária do Governo gaúcho.
  Rentabilidade
Lembra da provocação do primeiro parágrafo? O grão de soja possui mais de 40% de proteína, que por sua vez contém em torno de 16% de nitrogênio. Vamos às contas: para uma produtividade média das principais regiões produtoras, de 2500kg/há, seria preciso, no mínimo, 400kg/ha de uréia. Ao custo de R$750/t, significaria um gasto de R$250/ha, ou uns 800kg de soja! Pense agora no Brasil: são mais de 12 milhões de ha de soja, que demandariam 2,5 milhões de toneladas de uréia. Total economizado com a inoculação: R$1,875 bilhão de reais. Para uma cultura que vale, na porteira da fazenda, R$5,1 bilhões, ou seja, mais de 35% do valor da produção brasileira. Sim, não esqueça que também estamos importando menos petróleo, e estamos protelando a crise energética, pois adubos nitrogenados são devoradores de energia.

Soja é remédio (1)

Décio Luiz Gazzoni

Meu hobby é varar a madrugada fuçando na Internet, procurando nas revistas científicas novidades em física quântica, bioquímica celular ou teoria do caos. Um dos temas que me atrai é o uso da soja como alimento ou na medicina. Quem se interessar vai ver que há muita novidade na área. Durante o Global Soy Forum, em Chicago, consolidei minha opinião de que o perfil das agronegócios da soja vai mudar radicalmente na próxima década, face aos novos usos que estão sendo descobertos.

As novas descobertas
Há tempos sabia-se das propriedades terapêuticas da soja. A explosão dos conhecimentos científicos se dá nos últimos cinco anos, com descobertas revolucionárias. Há cinco anos, a revista New Scientist, sumarizou diversos estudos indicando que o consumo da soja (tofu ou leite de soja), reduzia drasticamente o surgimento de câncer de mama. O consumo de soja altera a composição hormonal da mulher, mimicando o efeito do tamoxifen, conhecido por inibir o câncer de mama, porém suspeito de aumentar a incidência de câncer no fígado e no endométrio. Mulheres de China e Singapura apresentavam incidência muito menor de câncer do seio que em outros países. Investigando o assunto, cientistas ingleses descobriram que as mulheres chinesas com câncer de mama consumiam pouco alimento à base de soja. Só a mulher se beneficia? Negativo, homens consumindo soja tem menor risco de câncer de próstata e do cólon, portanto a dieta pode ser a mesma para o casal.
  Congresso Brasileiro de Soja
Quem participou do Congresso na Sociedade Rural, lembra do Dr. S. Barnes (Universidade do Alabama) contando que alimentou um grupo de ratos com a ração normal, e outro com ração à base de soja. Depois tratou os dois grupos com substâncias indutoras de cancer. O resultado mostrou que as fêmeas alimentadas com soja eram muito menos suscetíveis ao câncer da mama. Ele foi mais longe, e descobriu que quanto mais soja as ratazanas comiam, menor a incidência de tumores. Entusiasmado com a descoberta, o médico aproveitou e fez uma cultura de tecido de próstata em laboratório, e descobriu que o extrato da soja inibe o desenvolvimento de tumores cancerígenos. Na realidade, estudos já provaram a eficiência da soja no combate a câncer do estomago, reto e pulmão! E ainda auxilia no tratamento do diabetes e da osteoporose.

Ataque cardíaco
Quem não morre de medo de desenvolver um tumor maligno, ou sofrer um infarto do miocárdio? Pois não é que a soja também pode ser útil na prevenção do ataque cardíaco? Aliás, foi por esta razão que há 15 anos comecei a ingerir produtos à base de soja. Lembro de um estudo de médicos da PUC-RS, que demonstravam a redução do colesterol total, em especial do LDL-colesterol (a parte do ruim do colesterol) pela ingestão de leite de soja. Este efeito hoje está comprovado no mundo inteiro, por diversos estudos. Existe uma forte relação entre alto consumo de soja e menor incidência de ataques cardíacos, pela redução de até um terço do mau colesterol. Os benefícios da soja à saúde estão impressionando não apenas os cientistas, como os órgãos que financiam a pesquisa. Um mega-projeto está sendo armado para estudar 400.000 mulheres européias (voluntárias), envolvendo todas as classes sociais, idades, hábitos, etc. Sua dieta será monitorada, bem como suas condições de saúde, através de exames clínicos e laboratoriais freqüentes. Uma parte das mulheres vai consumir soja na dieta, outra não. Busca-se, ao final, encontrar a relação entre intensidade de consumo de soja, as formas de consumo (tipos de produtos) e a saúde das mulheres, em especial em relação a tumores malignos, efeitos na pré e na menopausa, e cardiopatias. Especificamente sobre menopausa, prometo falar na semana que vem, pois aí tem mais novidade.
  Medicina, farmácia e agronegócios
Pois é, já disse e vou repetir: o perfil do mercado de produtos finais da cadeia da soja vai mudar radicalmente durante a próxima década. Não preciso dizer o que isto representa em qualidade de vida para a sociedade, nem a grande oportunidade comercial que representa para os agronegócios brasileiros, país que é o segundo maior produtor de soja do mundo. É o momento da academia, dos institutos de pesquisa, do governo e dos empresários privadas traçarem, em parceria, o plano de vôo do médio prazo, onde os negócios com alto valor agregado, e grande apelo de consumo, vão se concentrar. Até porque nossos concorrentes europeus e americanos já estão começando a investir na área.

 

 

 

 

 

 

 



Soja é remédio (2)

Décio Luiz Gazzoni

Você conhece a Associação Americana de Menopausa? Nem eu. Foi numa daquelas fuçadas na Internet (bendita rede!) que deparei com a sua revista, e li o artigo "Efeito da suplementação de proteína de soja nas lipoproteínas do soro, pressão sanguínea e sintomas de menopausa em mulheres na peri-menopausa", assinado pelo Dr. Scott Washburn, ginecologista da Wake Forest University. Não pare de ler, nem pense que isto é assunto de mulher: primeiro, porque se a sua esposa não entrou em menopausa, você vai descobrir o quanto de apoio ela vai precisar nesta fase difícil. Segundo, porque já se delineiam sintomas de andropausa, que guardam similaridade com a menopausa. Terceiro, doença cardiovascular e câncer nos órgãos reprodutivos não é prerrogativa feminina.   Os antecedentes
O Dr. Washburn intrigou-se com as enormes diferenças de doenças crônicas (cardiovasculares, câncer do aparelho reprodutivo e outros órgãos, distúrbios da menopausa) menor entre mulheres asiáticas, que entre européias ou americanas. Mais intrigante: mulheres que migraram da Ásia para o Ocidente, passaram a ter a mesma suscetibilidade que as nativas ocidentais. Suspeitou-se que a resistência às doenças não seria (ao menos exclusivamente) genética. Deveria haver um fator ambiental envolvido, e os cientistas verificaram que, mesmo nos países da Ásia de menor prevalência das doenças, havia casos de mulheres suscetíveis. Examinando os hábitos dos dois grupos, verificou-se que, entre as mulheres que consumiam soja em maior quantidade, o risco das doenças era quase nulo.

No laboratório
Disse-me um dia um grande cientista: hipótese só vira tese quando comprovada. Os cientistas escolheram 51 voluntárias (de 45-55 anos), as quais receberam, ao acaso uma das três dietas, sem que as mulheres soubessem o que estavam ingerindo:
  a. um suplemento isocalórico, contendo 20g de um complexo de carboidratos (sem soja);
b. 20g de proteína de soja, contendo 34mg de fito-estrógenos, em dose diária única;
c. 20g de proteína de soja, contendo 34mg de fito-estrógenos, divididos em duas doses diárias.
  Cada mulher recebeu, ao acaso, uma das três fórmulas durante 45 dias. Depois foram re-sorteadas, para receber uma das outras duas fórmulas, também por 45 dias. Nos últimos 45 dias, cada mulher recebeu a terceira fórmula, que ainda não havia ingerido. Antes de iniciar o estudo, e durante o mesmo, as voluntárias foram monitoradas com exames clínicos e laboratoriais, para verificar as condições gerais de saúde, o índice de risco de doenças cardiovasculares, os sintomas de menopausa, a aderência e eventuais efeitos adversos.

Os resultados
Houve uma significativa redução no colesterol total, e especialmente no LDL colesterol (o entupidor de veias e artérias), no período em que as mulheres ingeriram fórmulas com soja. Houve uma redução na diástole da pressão sanguínea, uma sensível melhora na severidade dos sintomas vasomotores, e os causados por hipo-estrogenia, quando a fórmula com soja foi ingerida duas vezes ao dia. Traduzindo as conclusões do artigo "Estes dados, juntamente com estudos anteriores, confirmam os efeitos benéficos da proteína de soja na redução do risco de doenças crônicas em mulheres ocidentais. As nutricionistas recomendam a substituição de produtos animais por vegetais, por razões de saúde. A incorporação de soja na dieta terá efeitos benéficos nos fatores de risco de doenças cardiovasculares. Também demonstrou a propriedade de atenuar os efeitos dos sintomas de menopausa. Recomendamos a adição de produtos à base de soja na dieta das populações ocidentais".
  Negócios?
Está ficando cada dia mais claro que o perfil de aproveitamento da soja vai mudar radicalmente durante a próxima década, pelos seus múltiplos usos, não apenas em farmácia, nutrição ou medicina em geral, mas em uma infinidade de outros produtos. Como segundo maior produtor de soja do mundo, com todas as condições para ser o primeiro no médio prazo, não podemos deixar passar em branco essas oportunidades de agronegócios, agregando valor ao produto. Até porque nossos concorrentes estão de olho vivo e faro fino e muito antenados nas oportunidades.

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